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Julio Bressane faz cinema de idéias em ``Alguns''
JOSÉ GERALDO COUTO
especial para a Folha
Os textos reunidos no pequeno
volume ``Alguns'' (Imago) comprovam o que já se sabia: Julio
Bressane é nosso cineasta intelectualmente mais bem-dotado.
São artigos, reflexões, esboços de
ensaios sobre música popular, literatura, filosofia, cinema. Mas não
uma dessas coisas de cada vez: tudo ao mesmo tempo agora.
Bressane pode começar um texto
em José Lewgoy e terminar em
Ezra Pound, passar de Vassourinha a Mallarmé, misturar Noel
Rosa e São Jerônimo.
Essa profusão de aproximações
insólitas é a consequência lógica de
uma inteligência que concebe o cinema como ``um organismo intelectual demasiadamente sensível
que faz fronteira com todas as artes, ciências e... a vida''.
O que Bressane busca compreender e exaltar, em toda criação do espírito, é a experiência da
transgressão dos limites: a música
que quer ser pintura, o cinema que
quer ser música, o pensamento
que quer ser poesia.
Algumas figuras (ou ``signos'',
como gosta de dizer) são centrais e
recorrentes nesse processo: Vieira,
São Jerônimo, Machado de Assis,
Mario Peixoto, Mario Reis.
Nem todos os textos do volume
trazem o mesmo nível de empenho
analítico e clareza de exposição.
Entre caprichos como o sóbrio
``O Signo Jerônimo'', despontam
relaxos como ``Vassourinha: Ulisses na Record'', pouco mais que
uma colagem de trocadilhos de
inspiração oswaldiana.
A esse ocasional desdém superior do artista (que o leva a transformar, por exemplo, o cineasta-mascate libanês Benjamin
Abraão no ``sírio Abraão Jacó''),
vem-se juntar um desleixo editorial: o livro está repleto de erros de
revisão, sobretudo nos nomes
próprios e nos títulos de obras.
Mas vale a pena ler Bressane, que
em seus melhores momentos faz a
poesia que queria Pound: conversa
entre homens inteligentes.
Livro: Alguns
Autor: Julio Bressane
Editora: Imago
Preço: R$ 10 (95 págs.)
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