São Paulo, sábado, 08 de abril de 2000


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TEATRO CRÍTICA

"Fábula" faz música do teatro


NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Sam Shepard e Joseph Chaikin, os autores de "A Fábula de um Cozinheiro", têm formulações muito próximas do que é o teatro. Mitos do palco nova-iorquino dos anos 60, eles vêem uma peça como música. Tão efêmera e esquiva quanto música, aparecendo e desaparecendo sem parar.
O espetáculo de Cláudio Marzo e Mika Lins alcança esse estado em muitos momentos. Não é um espelho da realidade e sim um "reino" -outra expressão de Chaikin- de lirismo e de poesia, que o espectador acompanha enlevado, como quem ouvisse música, não no sentido literal, mas derivada do tempo dos atores e da encenação.
É assim em muitas passagens, sobretudo num certo jogo de pai e filha entre o assassino que espera a execução (Marzo) e a repórter que o entrevista (Mika Lins) e nos monólogos a que ambos se entregam, aqui e ali. Mas nem sempre se alcança música, em cena.
Muitas vezes a ligação entre um e outro personagem se perde, deixando os diálogos como que vazios -e arrastados. É claro que parte disso pode ser creditada à tensão de estréia etc., de efeito especialmente violento sobre textos assim. Mas seria de esperar maior cumplicidade em cena, bem como a mão mais leve do diretor William Pereira, precisamente naquele que é o elemento central da peça, a música.
É questionável se Bach é a opção mais adequada para a "textura musical" de dois americanos como Shepard e Chaikin, numa história que leva a Nova Orleans, ao rio Mississippi e que aborda a tão americana pena de morte.
Mas esse é um ponto isolado na encenação, de resto, como é regra com William Pereira, de grande precisão e beleza na mise-en-scène, na cenografia, até nos figurinos (de Cássio Brasil). No mais das vezes, sua encenação é tão vitoriosa quanto foi a de outro texto poético, "O Livro do Desassossego", dois anos atrás.
A pontual falta de integração entre as interpretações de Marzo e Mika Lins, a bem da verdade, também retrata uma divisão própria da peça -e que já parece expressa no título original dividido em duas partes, "Quando o Mundo Era Verde" e "A Fábula de um Cozinheiro", como se fossem duas histórias, duas existências que só por acaso se cruzam nas oito entrevistas no palco.



Avaliação:    

Peça: A Fábula de um Cozinheiro
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h
Onde: teatro Hilton (av. Ipiranga, 165, tel. 0/xx/11/259-6508)
Quanto: R$ 25 e R$ 30






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