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TEATRO CRÍTICA
"Fábula" faz música do teatro
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Sam Shepard e Joseph Chaikin,
os autores de "A Fábula de um
Cozinheiro", têm formulações
muito próximas do que é o teatro.
Mitos do palco nova-iorquino
dos anos 60, eles vêem uma peça
como música. Tão efêmera e esquiva quanto música, aparecendo
e desaparecendo sem parar.
O espetáculo de Cláudio Marzo
e Mika Lins alcança esse estado
em muitos momentos. Não é um
espelho da realidade e sim um
"reino" -outra expressão de
Chaikin- de lirismo e de poesia,
que o espectador acompanha
enlevado, como quem ouvisse
música, não no sentido literal,
mas derivada do tempo dos atores e da encenação.
É assim em muitas passagens,
sobretudo num certo jogo de pai e
filha entre o assassino que espera
a execução (Marzo) e a repórter
que o entrevista (Mika Lins) e nos
monólogos a que ambos se entregam, aqui e ali. Mas nem sempre
se alcança música, em cena.
Muitas vezes a ligação entre um
e outro personagem se perde, deixando os diálogos como que vazios -e arrastados. É claro que
parte disso pode ser creditada à
tensão de estréia etc., de efeito especialmente violento sobre textos
assim. Mas seria de esperar maior
cumplicidade em cena, bem como a mão mais leve do diretor
William Pereira, precisamente
naquele que é o elemento central
da peça, a música.
É questionável se Bach é a opção
mais adequada para a "textura
musical" de dois americanos como Shepard e Chaikin, numa história que leva a Nova Orleans, ao
rio Mississippi e que aborda a tão
americana pena de morte.
Mas esse é um ponto isolado na
encenação, de resto, como é regra
com William Pereira, de grande
precisão e beleza na mise-en-scène, na cenografia, até nos figurinos (de Cássio Brasil). No mais
das vezes, sua encenação é tão vitoriosa quanto foi a de outro texto
poético, "O Livro do Desassossego", dois anos atrás.
A pontual falta de integração
entre as interpretações de Marzo e
Mika Lins, a bem da verdade,
também retrata uma divisão própria da peça -e que já parece expressa no título original dividido
em duas partes, "Quando o Mundo Era Verde" e "A Fábula de um
Cozinheiro", como se fossem
duas histórias, duas existências
que só por acaso se cruzam nas oito entrevistas no palco.
Avaliação:
Peça: A Fábula de um Cozinheiro
Quando: sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h
Onde: teatro Hilton (av. Ipiranga, 165,
tel. 0/xx/11/259-6508)
Quanto: R$ 25 e R$ 30
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