São Paulo, sábado, 08 de abril de 2000


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ANÁLISE

Por que o mundo insiste em amá-lo?


IRINEU FRANCO PERPETUO
enviado especial a Salvador

Idade avançada, escândalos sexuais, constantes problemas com impostos: por que o mundo insiste em amar Luciano Pavarotti?
Em 96, Adua, sua mulher há 35 anos, foi constrangida a pedir o divórcio depois que as fotos de um indiscreto "paparazzo" passeando pelo Caribe revelou aos mortais o que o mundo da ópera já comentava a boca pequena: que o tenor estava tendo, há dois anos, um caso com sua secretária, Nicoletta Mantovani, de 27 anos.
O patrimônio do homem, à época, era estimado em US$ 300 milhões. Nunca um tenor havia feito tanto dinheiro.
"Eu não ultrapassei Caruso", Pavarotti disse, em Salvador, sobre o legendário tenor do início do século 20. "É que Caruso não teve a sorte de ter tido acesso à televisão, como eu tive."
Mas, no começo, não era só a televisão. Grandes agudos, timbre límpido e potência eram seus trunfos. Pavarotti atingiu prodígios notáveis de halterofilismo vocal no repertório do bel canto, como emitir nove dós agudos na ária "Pour Mon Âme", da "Filha do Regimento", de Donizetti, no Metropolitan, em 72; ou atingir uma nota uma quarta mais alta que o dó de peito, o fá agudo, em "I Puritani", de Bellini (como só Nicolai Gedda conseguira fazer).
De lá para cá, como consequência natural da passagem dos anos, a voz só fez declinar. A popularidade e a fortuna, contudo, cresceram em proporção inversa -Pavarotti começou a virar cada vez mais um fenômeno pop, cantando com as Spice Girls, Mercedes Sosa, Roberto Carlos, Sting, Bono Vox e quem mais pintasse.
E o tenor passou a atuar cada vez menos em óperas completas, encenadas em teatros de verdade, sem amplificação. Neste ano, por exemplo, ele se concentrou em Mario Cavaradossi, papel de tenor da "Tosca", de Puccini, que está comemorando seu centésimo aniversário. A crítica nova-iorquina afirmou que, apesar das dificuldades, ele ainda dá conta do papel. Até quando?
Parece inegável que, caso se restringisse apenas aos teatros de ópera, Pavarotti já estaria tendo de contemplar seriamente a aposentadoria -as vaias recebidas no Scala de Milão ao tentar o difícil "Don Carlo", de Verdi, deveriam ter sido um aviso.
Contudo, protegido pelos microfones, e tendo astros pop como parceiros, o tenor tem conseguido prolongar sua carreira.


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