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ANÁLISE
Por que o mundo insiste em amá-lo?
IRINEU FRANCO PERPETUO
enviado especial a Salvador
Idade avançada, escândalos sexuais, constantes problemas com
impostos: por que o mundo insiste em amar Luciano Pavarotti?
Em 96, Adua, sua mulher há 35
anos, foi constrangida a pedir o
divórcio depois que as fotos de
um indiscreto "paparazzo" passeando pelo Caribe revelou aos
mortais o que o mundo da ópera
já comentava a boca pequena: que
o tenor estava tendo, há dois anos,
um caso com sua secretária, Nicoletta Mantovani, de 27 anos.
O patrimônio do homem, à
época, era estimado em US$ 300
milhões. Nunca um tenor havia
feito tanto dinheiro.
"Eu não ultrapassei Caruso",
Pavarotti disse, em Salvador, sobre o legendário tenor do início
do século 20. "É que Caruso não
teve a sorte de ter tido acesso à televisão, como eu tive."
Mas, no começo, não era só a televisão. Grandes agudos, timbre
límpido e potência eram seus
trunfos. Pavarotti atingiu prodígios notáveis de halterofilismo
vocal no repertório do bel canto,
como emitir nove dós agudos na
ária "Pour Mon Âme", da "Filha
do Regimento", de Donizetti, no
Metropolitan, em 72; ou atingir
uma nota uma quarta mais alta
que o dó de peito, o fá agudo, em
"I Puritani", de Bellini (como só
Nicolai Gedda conseguira fazer).
De lá para cá, como consequência natural da passagem dos anos,
a voz só fez declinar. A popularidade e a fortuna, contudo, cresceram em proporção inversa -Pavarotti começou a virar cada vez
mais um fenômeno pop, cantando com as Spice Girls, Mercedes
Sosa, Roberto Carlos, Sting, Bono
Vox e quem mais pintasse.
E o tenor passou a atuar cada
vez menos em óperas completas,
encenadas em teatros de verdade,
sem amplificação. Neste ano, por
exemplo, ele se concentrou em
Mario Cavaradossi, papel de tenor da "Tosca", de Puccini, que
está comemorando seu centésimo aniversário. A crítica nova-iorquina afirmou que, apesar das
dificuldades, ele ainda dá conta
do papel. Até quando?
Parece inegável que, caso se restringisse apenas aos teatros de
ópera, Pavarotti já estaria tendo
de contemplar seriamente a aposentadoria -as vaias recebidas
no Scala de Milão ao tentar o difícil "Don Carlo", de Verdi, deveriam ter sido um aviso.
Contudo, protegido pelos microfones, e tendo astros pop como parceiros, o tenor tem conseguido prolongar sua carreira.
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