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Próximos capítulos teriam modernismo decadente
CASSIANO ELEK MACHADO
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de três meses no ar, "Um
Só Coração" termina nesta noite
tendo a São Paulo de 1954 como
pano de fundo.
Pelo menos metade dos mais de
cem personagens da série, escrita
por Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, nunca existiu, e
seu futuro só os autores poderiam
saber. Outros tantos personagens
reais, como Mário de Andrade e
Santos Dumont, já haviam morrido há 50 anos. Mas e os demais?
Se "Um Só Coração" continuasse ocupando a última faixa das
noites da TV Globo, mostraria as
grandes estrelas remanescentes
do modernismo brasileiro em situação melancólica.
O "a seguir cenas dos próximos
capítulos" já começaria com um
final infeliz. Em outubro do mesmo 1954 morreu Oswald de Andrade, que já vivia um longo período de amarguras.
As duas grandes artistas modernistas, Tarsila do Amaral e Anita
Malfatti, poderiam seguir nos televisores por muitas semanas de
minissérie. A primeira viveria até
1973, e a pintora de "O Homem
Amarelo" morreria em 1964.
Mas artisticamente elas já estariam fora das telas. Já em 1937
Tarsila era vista como uma artista
"sem rumo", segundo o crítico
Geraldo Ferraz, no jornal "Diário
da Noite". Anita, que teve seu auge antes mesmo da minissérie
(que começa em 1922), já se definia em 1924, em carta ao amigo
Mário de Andrade, da seguinte
forma: "Estou clássica. Como futurista morri e já fui enterrada".
O único a ter sobrevida artística
entre os modernos da minissérie
foi Flávio de Carvalho (1899-1973), que em 1956 realizou o "Experimento nš 3", caminhando de
saia por São Paulo, tendo ao lado,
entre outros, Ciccillo Matarazzo.
O industrial, aliás, seria o principal destaque da virtual seqüência
de "Um Só Coração". "Edson Celulari", que já aparece criando a
Bienal -e seria presidente da
Fundação Bienal até 1975- ainda
fundaria o Museu de Arte Contemporânea (em 1963), já separado de Yolanda.
Ciccillo morreria em seu apartamento, no Conjunto Nacional
(avenida Paulista), em 1977. Yolanda (Ana Paula Arósio) poderia
seguir na "minissérie" até 1983.
Hoje, no final de "Um Só Coração", Arósio e Celulari devem
aparecer em uma festa de casamento (de reconciliação), liberdade poética dos autores da série.
Nessa festança devem estar presentes a maior parte dos personagens reais vivos em 1954.
Menotti del Picchia (que morreu em 1961), Assis Chateaubriand (que no final de 1954 seria
eleito para a Academia Brasileira
de Letras, na cadeira de Getúlio
Vargas, e que morreria só em
1968), Guilherme de Almeida
(que em 1959 seria eleito Príncipe
dos Poetas Brasileiros, em concurso do jornal carioca "Correio
da Manhã") e a dupla Luis Martins e Anna Maria Martins (esta
ainda viva), devem aparecer na
mesma festa, alegres e contentes.
O final feliz vence outra vez.
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