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TELEVISÃO
"Um Só Coração", que termina hoje, promoveu a estréia na Globo de atores com consagração restrita aos palcos
Minissérie abre TV a celebridades teatrais
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Intelectuais incendiários na vida
real, os escritores modernistas
Oswald de Andrade (1890-1954) e
Mário de Andrade (1893-1945) levados à ficção pela minissérie global "Um Só Coração" contribuíram para encurtar a trincheira da
disputa "ator de teatro" versus
"ator de TV".
Os intérpretes de Oswald (José
Rubens Chachá, 49) e de Mário
(Pascoal da Conceição, 50) são
grandes nomes do teatro paulistano que nunca haviam aparecido
na tela da Globo.
Conceição tornou-se ator nos
anos 80, quando abandonou um
emprego no Banco do Brasil pelo
trabalho não-remunerado com o
Teatro Oficina, de José Celso Martinez Corrêa. Com Zé Celso, respondeu até a processo, por uma
peça baseada em poema de Oswald de Andrade.
Pela apresentação de "Mistérios
Gozozos" em Araraquara (SP),
em 1995, diretor e atores do Oficina foram acusados de aviltar valores e objetos religiosos. Em 2000,
foram absolvidos.
"Trabalhar no Oficina tão profundamente durante tantos anos
me preparou para fazer com a devida humanidade esse personagem", diz Conceição.
São Paulo
O ator diz que, durante as gravações, teve sempre presente o objetivo de "representar bem os atores
de São Paulo, o teatro de São Paulo". E serviu-se da nostalgia de sua
cidade para a passagem em que a
minissérie relatou a morte do escritor, por exemplo.
Apenas a voz de Conceição seria
usada na cena, com a narração de
"Poemas da Amiga", em que o escritor elege os lugares de São Paulo onde gostaria que seu corpo
sem vida fosse enterrado.
Como a leitura era em "off"
(sem imagem simultânea), o diretor da cena supôs que Conceição
teria o texto à mão. Mas o ator
preferiu decorá-lo e dizê-lo pensando em seu próprio afeto por
São Paulo e no fato de que "estava
longe da cidade, do Teatro Oficina, dos amigos, de casa". O resultado, segundo Conceição, "é essa
emoção verdadeira, que a televisão e qualquer lugar quer".
Antes de viver o papel de Oswald em "Um Só Coração", Chachá interpretou-o no teatro, em
"Tarsila", escrita por Maria Adelaide Amaral, co-autora da minissérie, com Alcides Nogueira.
Chachá aceitou o convite para
trabalhar na televisão sem negar o
"preconceito velado que as pessoas de teatro têm das que trabalham na TV". No desenrolar das
gravações, o ator reconsiderou
sua expectativa -"Conheci atores oriundos de TV que são maravilhosos"- sem abandonar a
convicção de quem escolheu o
palco como o seu lugar definitivo.
"A primeira coisa que eu dizia para esses atores era: "Pô, você é tão
bom! Por que não vai fazer teatro?'", conta Chachá e ri, ironizando a si mesmo.
Outro veterano do teatro paulista que fez sua estréia na Globo é
Leopoldo Pacheco, 43, intérprete
do personagem Samir.
Pacheco protagonizou no teatro
a montagem de "Pólvora e Poesia", escrita por Alcides Nogueira.
O ator recebeu o Prêmio Shell pela interpretação, e o autor ficou
com vontade de apresentá-lo à
Globo. Pacheco diz que gostou da
idéia de ser apresentado, embora
receasse o formato industrial de
produção dramatúrgica.
Os receios se dissiparam com a
prática. "Quando assisto, percebo
que estão lá as sensações que eu tinha ao interpretar para a câmera." A popularidade da minissérie
-que chega hoje ao último capítulo havendo conquistado um lugar entre as maiores audiências da
Globo desde a sua estréia, em janeiro- deixou Pacheco em "uma
situação, no mínimo, curiosa".
"As pessoas na rua vêm me dizer que sou ótimo ator, que fiz um
lindo trabalho, mas não sabem
quem eu sou", diz. Não há mágoa
na constatação de Pacheco sobre
seu anonimato para o grande público, depois de 23 anos de carreira teatral. "O teatro tem cada vez
menos público. Tenho noção de
até onde chega esse alcance."
Conceição, Chachá e Pacheco
dizem que encerraram a primeira
experiência na tela da Globo sem
arrependimentos e com o desejo
de repeti-la. Conceição/Mário anda até rememorando uma frase
de Oswald/Chachá: "A massa ainda vai comer o biscoito fino que
eu fabrico".
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