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CINEMA
Filme propõe revisionismo duvidoso
TIAGO MATA MACHADO
CRÍTICO DA FOLHA
Tavernier toca em tema tabu: o período da ocupação
nazista na França e o papel que a
indústria cinematográfica nele
desempenhou. Apesar de subvencionado e anexado pela máquina
de propaganda hitlerista, o cinema francês viveu, durante a ocupação, uma "época de ouro".
Livre da concorrência de Hollywood, a "escola francesa" chegou
à sua era clássica em lua-de-mel
com o público. Mas ir ao cinema,
naquela época, era, antes de tudo,
para os franceses, uma maneira
de se refugiar de uma realidade
marcada pelo conformismo.
A própria indústria cinematográfica se encontrava rendida: se
Tavernier toca, em "Passaporte
para a Vida", em tema tabu, é porque o colaboracionismo ganhou
contornos muitas vezes escandalosos no cotidiano dos profissionais de cinema.
"Passaporte para a Vida" é inspirado nas memórias do diretor
Jean Devaivre e do roteirista Jean
Aurenche e tenta demonstrar como estes, apesar de terem trabalhado para a Continental, extensão francesa da indústria cinematográfica alemã (a UFA), mantiveram intacta a sua honra.
Em seu revisionismo duvidoso,
Tavernier transforma funcionários da Continental e até mesmo
do regime (colaboracionista) de
Vichy em heróis da Resistência. O
que Tavernier propõe, no fundo, é
que esqueçamos a história.
Passaporte para a Vida
Laissez-Passer
Produção: França/Alemanha/Espanha, 2002
Direção: Bertrand Tavernier
Com: Jacques Gamblin, Denis
Podalydes, Marie Gillain
Quando: a partir de amanhã nos cines
Bristol e Top Cine
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