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TEATRO
Com mais de 20 anos de carreira, grupo mineiro acerta ao aliar técnica popular com tradição literária
Galpão atualiza e simplifica trama de "O Inspetor Geral"
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
O Grupo Galpão não precisa
provar mais nada. Vindo da
rua, e com mais de 20 anos de estrada, já promoveu uma antológica releitura de um clássico ("Romeu e Julieta", consagrado na casa de Shakespeare, o Globe Theatre de Londres), consolidou-se
com a criação coletiva "Um Trem
Chamado Desejo" e agora, como
o mentor Molière, concilia a melhor técnica popular com a preservação da tradição literária.
"O Inspetor Geral", é a escolha
natural para esse momento do
grupo. Conta a história de Klestacov, um vigarista confundido
com um inspetor do Tzar à paisana em uma cidadezinha cheia de
corruptos. Todas as autoridades,
do prefeito ao chefe dos correios,
o bajulam e subornam, até serem
desautorizados. Uma peça, infelizmente, sempre atual, que desde
a sua estréia em 1836 (Nicolai Gógol, seu autor, inaugurava com 25
anos uma carreira polêmica) costuma desafiar os diretores.
O encenador russo Meyerhold,
outro menino terrível, revolucionou o teatro com sua versão, no
começo do século 20; e o Brasil foi
marcado por várias releituras do
texto, da versão de Augusto Boal,
no Arena, em 1966, até uma recente montagem de Cristiane
Paoli-Quito, na Escola de Arte
Dramática.
Mas o Galpão está além das revoluções. A adaptação do texto
pelo elenco, supervisionada por
Cacá Brandão, atualizou referências em um divertido falso russo,
mas se concentrou em tornar a
trama simples e eficiente. Afinal, o
diretor Paulo José foi convidado
antes de tudo para dirigir atores,
coisa que ele faz muito bem, sobretudo com esse elenco afinado.
Assim, logo na primeira cena,
quando o elenco inteiro sobe ao
palco tocando seus instrumentos,
demonstrando que a trilha será ao
vivo, na melhor tradição popular,
já se sabe que o Galpão não trairá
as expectativas de seu público fiel.
Os atores, afinados e harmônicos,
brincam com as marcas e os clichês sem nunca ceder ao histrionismo de cacos e roubos de cena,
amparados pela direção de arte
que concilia luxo e despojamento.
Embora haja um cuidado na
montagem de nunca supervalorizar um ator em detrimento de outro, é preciso fazer um destaque
para o ator que faz Klestacov.
Dançando cada marca com elegância, pondo o público no bolso
com um erguer de sobrancelhas,
Rodolfo Vaz chega com desenvoltura a uma rara excelência: lembra Charles Chaplin.
É com essa mistura de inocência
de filme mudo e malícia de chanchada brasileira que o Galpão ganha a unanimidade nacional. Que
se cuide o grupo: dele se esperará
sempre montagens do nível deste
"O Inspetor Geral".
O Inspetor Geral
Direção: Paulo José
Com: grupo Galpão
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141,
SP, tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quando: de qui. a sáb., às 21h; dom., às
18h; até 2/5
Quanto: de R$ 5 a R$ 10
Patrocinador: Petrobras
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