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CRÍTICA
"Estrangeiro" cria conto de insubordinação
CRÍTICO DA FOLHA
Primeiro filme de Joshua
Marston, "Maria Cheia de
Graça" caminha na corda bamba.
Marston nasceu na Califórnia, em
1969, trabalhou como jornalista
na Europa e mais tarde se formou
em ciências políticas, em Chicago.
Estreante, escolheu falar de temas estrangeiros à sua realidade
-a vida na Colômbia, o tráfico de
drogas-, o que já seria complicado, mas, no atual contexto, é uma
decisão ainda mais difícil. Basta
ver como os latinos e o tráfico costumam ser tratados nos filmes, no
mínimo com estereótipos, em geral com violência quase fascista.
Mas ele dribla esses obstáculos.
Fundamenta sua história primeiro no drama de uma adolescente
de 17 anos sem perspectivas; depois, no suspense gerado a partir
da decisão da protagonista: traficar drogas para os EUA carregando no estômago sacos de heroína
embrulhados em camisinhas.
Ele não faz seu filme parecer um
documentário, recurso que tem se
tornado cada vez mais banal,
principalmente quando o objeto é
a realidade do Terceiro Mundo.
Marston preocupa-se em narrar
-não confundir com visão objetiva. As decisões de Maria não são
dilemas melodramáticos, são tomadas de posição, relacionadas a
questões objetivas. Questões que,
no fundo, são políticas e estão ligadas à sua realidade e à Colômbia (o trabalho entediante removendo espinhos de flores, a gravidez precoce, a possibilidade do
tráfico e da imigração).
"Maria Cheia de Graça" é um
conto de insubordinação que
busca mostrar a singularidade de
uma mulher ao se recusar a desempenhar o papel social que lhe
foi designado. Por isso a decisão
pelo tráfico não é "má". Tampouco é glorificada, apresentando-se
como um risco de morte brutal.
A partir do momento que Maria
opta pelo tráfico, o filme se deterá
na descrição das ações necessárias
para que se transforme em esconderijo e transporte para a droga.
Essa descrição detalhada transforma o filme, inesperadamente,
num suspense sufocante.
(PB)
Maria Cheia de Graça
Maria Full of Grace
Direção: Joshua Marston
Produção: EUA/Colômbia, 2004
Com: John Alex Toro, Guilied Lopez
Quando: a partir de hoje nos cines
Kinoplex Itaim, Lumière e circuito
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