São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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Coleção reúne as 223 melhores capas do jornal desde sua fundação, em 1921

Folha lança nova edição de livro de primeiras páginas

SYLVIA COLOMBO
EDITORA DO FOLHATEEN

RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

Como fazer um dia caber numa página de 53cm de altura por 30cm de largura? O problema ganha contornos mais dramáticos nos dias em que se tem a impressão de ver a história acontecer -aquela que terminará nos livros e ajudará a explicar mudanças significativas na sociedade, na economia e na política-, ao mesmo tempo em que os fatos se atropelam diante dos repórteres.
A Publifolha acaba de publicar 223 exemplos bem-sucedidos desse momento agudo do trabalho jornalístico, ao reunir as capas mais importantes da história da Folha, desde 1921, na nova edição do livro "Folha de S.Paulo -Primeira Página" (R$ 69; 240 págs.).
Esta é a sexta versão do livro, lançado originalmente em 1985. Da última atualização, em 2000, até a atual, foram excluídas páginas que ficaram menos importantes historicamente, concentradas principalmente nas décadas de 1980 e 1990, e incluídas outras, mais recentes, como a do episódio do mensalão, que derrubou ministros e deu início à mais grave crise do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
As primeiras páginas da Folha mostram também, à sua maneira, a fórmula tipicamente brasileira para a apresentação das notícias mais importantes de um dia. É que os jornais do país, de uma maneira geral, têm características bastante diferentes das soluções gráficas adotadas por jornais estrangeiros.
O editor de arte da Folha, Massimo Gentile, descreve algumas dessas peculiaridades. "O grande número de chamadas, que são pequenos resumos, e as fotos grandes, por exemplo. A capa tenta dar uma visão ampla do cardápio dos assuntos mais importantes do jornal daquele dia. São características brasileiras que a Folha desenvolve muito bem", diz.
"O jornal fez com que os leitores criassem um hábito, pois eles já sabem que aquele assunto destacado na capa vai estar maior lá dentro. Nos jornais ingleses, por exemplo, não existe essa preocupação. Às vezes a reportagem inteira começa e morre na capa mesmo", diz o editor.
O modelo da Folha descrito por Gentile encontra-se, na verdade, a meio caminho de dois "padrões" principais, ao menos se seguirmos a divisão proposta por Matt Mansfield, editor da primeira página do "San Jose Mercury News": jornais que "tentam capturar a história para gerações vindouras", cujo exemplo maior é o americano "The New York Times", e capas mais preocupadas com questões e notícias locais, independentemente de quão perecíveis possam ser.
Para Gentile, o fato de a Folha obedecer a certos padrões na edição da sua capa guarda um paradoxo. "Os grandes jornais que vivem essencialmente de assinaturas, como a Folha, poderiam, em tese, fazer o que quisessem na primeira página, pois não precisam tanto entrar na disputa pelos leitores que compram jornais em bancas. Ainda assim, a Folha insiste numa capa chamativa, nervosa e colorida, pois quer conquistar novos leitores e o público mais jovem."
O apego excessivo a regras e formatos repetitivos na capa é criticado por Bill Gaspard, ex-diretor de design do "Los Angeles Times". "Muitos modelos de capas são tão constrangidos por regras -número de histórias, referências, resumo das chamadas etc.- que acabam tendo dificuldade de refletir o noticiário."
Também nisso a Folha segue uma solução mista, subordinada a regras, mas capaz de criar ao reconhecer fatos verdadeiramente relevantes -como se pode ver nas páginas do livro.

Guinada
Está lá, por exemplo, a série de capas da cobertura da votação da emenda das Diretas-Já pelo Congresso, em 1984. A ocasião marcou uma guinada na linha editorial da jornal, que fez campanha aberta pela redemocratização do Brasil e estabeleceu, então, como linhas-mestras de seu projeto o jornalismo crítico, apartidário, pluralista e independente.
Também estão no livro fatos que marcaram a história recente, como os atentados de 11 de Setembro, de Madri e de Londres, além da Guerra do Iraque. Mais distantes no tempo aparecem as primeiras páginas que narraram a morte de João Pessoa ("Foi assassinado, em Recife, o sr. João Pessoa" - 27 de julho de 1930), a saída de Janio Quadros da Presidência ("Extra, extra, Janio renunciou" -25 de agosto de 1961) ou a chegada à Lua ("A Lua no bolso" - 21 de julho de 1969).
De uma diagramação pesada, sem fotos e pouca hierarquização dos assuntos às soluções gráficas mais recentes, com imagens grandes, infográficos e pequenas chamadas que sintetizam os assuntos da edição, muita coisa se passou.
Desde 1921, o ano da fundação da "Folha da Noite" (que, em 1960, viria a se tornar Folha de S.Paulo, após fusão com a "Folha da Manhã" e a "Folha da Tarde", ambos pertencentes à mesma empresa), essas páginas refletem parte da história, misturada a notícias cotidianas, mesmo frívolas, cuja importância não sobreviveu ao dia seguinte da publicação.
É o caso da capa do dia 15 de março de 1985, que noticiava: "Tancredo é operado", fato que marcaria a conturbada transição à democracia no país. Mais abaixo, outro título: "Menudo faz o primeiro show no Brasil."


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