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A procura da manchete em dia de pouca notícia
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é todo dia que se faz história. De fato, parece mesmo mais
difícil chegar à manchete de um
dia qualquer. Às 12h da última
terça, por exemplo, ninguém fazia
idéia do assunto que ocuparia o
alto da capa da Folha.
Na sala central e envidraçada da
Redação, editores faziam a segunda reunião do dia. Pelo "viva voz",
Vinicius Torres Freire, secretário
de redação, conversa com Valdo
Cruz, diretor da Sucursal de Brasília. "O [ex-ministro Antonio]
Palocci está onde?", pergunta
Torres Freire. "Na casa dele", responde Cruz. "Ainda é a casa de
ministro?", insiste o secretário.
"É. Ele tem 60 dias para sair."
"Temos alguma pista nova desse caso?", continua o secretário.
"Por enquanto, não", diz Cruz.
Reunião das 17h. Circulam boatos de que uma "bomba", prometida pelo advogado José Roberto
Batochio, poderia desestabilizar o
ministro Márcio Thomaz Bastos.
"Isso tudo ainda é boato?", pergunta Vaguinaldo Marinheiro, secretário-interino de redação. "É
boato", responde Cruz. "Assim
sendo, qual é o abre do material?",
quer saber. "Palocci depõe amanhã", responde Cruz -um fato
burocrático, importante, mas que
não revela nada. O reconhecimento da falta de assunto provoca risos na sala.
Às 19h15, Vaguinaldo atende
um telefonema de Brasília. A notícia é que o Ministério Público pedirá a quebra do sigilo telefônico
de Palocci e de assessores de Thomaz Bastos. Às 19h30, sai a primeira manchete: "Pedida quebra
de sigilo de Palocci".
Às 22h15, finalmente, notícia:
Batochio se apresentou como defensor de Palocci. Enquanto os repórteres esperavam pelo advogado num hotel de Brasília, Palocci
depôs, em casa, à Polícia Federal.
Nova revelação: o ex-ministro havia sido indiciado pela suspeita de
quebra de sigilo bancário. Vaguinaldo liga para Brasília. Repõe o
telefone no gancho e avisa aos redatores: "A manchete vai mudar.
Será "Palocci depõe na PF e é indiciado"." O título anterior vira uma
chamada menor, abaixo. A nova
capa está pronta.
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