São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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Portugal quer biblioteca digital lusa

MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor da Biblioteca Nacional de Portugal, Jorge Couto, está propondo a criação de uma biblioteca digital da língua portuguesa que integre o acervo dos países lusófonos. A instituição, fundada em 1796, já está digitalizando seu acervo em parceria com os homólogos europeus e Couto quer "promover sinergias" para que as instituições promovam a digitalização do acervo e, como conseqüência, possibilitem a troca de informações.
Ele esteve no Brasil a convite da Biblioteca Mário de Andrade, onde ministrou palestra sobre o tema, e também acompanhou a inauguração do Museu da Língua Portuguesa.
A digitalização polariza a atenção de todas as grandes bibliotecas nacionais, especialmente na Europa. Elas querem dar visibilidade e acesso às suas obras, mas também proteger seus acervos. O Google já firmou acordo com grandes bibliotecas americanas e com a biblioteca da Universidade de Oxford (Reino Unido) para a digitalizar o acervo. A empresa pretendia também digitalizar em larga escala edições contemporâneas de vários países, mas houve reação de editoras e de autores, que temiam perda dos direitos autorais. Bibliotecas européias também rechaçaram a iniciativa.
"Não fomos procurados pelo Google pois já temos um programa no âmbito europeu", afirmou Couto. Para se contrapor à empresa americana, a União Européia já havia interligado suas bibliotecas com acervos digitais, numa iniciativa dos próprios países. O portal TEL (sigla em inglês para "a biblioteca européia" (www.theeuropeanlibrary.org) reúne esse acervo digital.
Agora, a UE reagiu à "ameaça Google" com mais determinação. Aprovou a criação de uma biblioteca digital que reunirá todos os países do bloco econômico. "A iniciativa, recém-aprovada, visa fazer frente à ação do Google, que privilegia a língua inglesa. É hora de nos unirmos em defesa da língua portuguesa", disse Couto.
Para que a iniciativa lusófona prospere o Brasil tem um papel "fundamental", na opinião de Couto. O projeto deve ser fomentado pela Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. "Deve ser um projeto multimídia, que busque combinar a mesma plataforma tecnológica", afirmou.
Segundo Couto, também será fundamental a adesão da Biblioteca Nacional, do Rio -dirigida atualmente por Muniz Sodré, que substituiu Pedro Corrêa do Lago.
A Biblioteca Nacional portuguesa (www.bn.pt) avança rapidamente na digitalização de seu acervo -mais de 6.000 títulos já estão totalmente digitalizados e disponíveis a qualquer um. No endereço purl.pt/1000, por exemplo, é possível encontrar os manuscritos de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa. "Cada autor ganhou um número nessa digitalização", diz Couto. O número 1 (purl.pt/1) é para Camões, "naturalmente".


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