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BIBLIOTECAS
Representantes de instituições do Brasil, Alemanha e França falam sobre obstáculos à digitalização de suas coleções
Colóquio aponta desafios do acervo virtual
EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL
Reunidos anteontem no auditório do Masp, no colóquio "Biblioteca e Informação Digital -°A Herança Cultural e Científica como
Bits e Bytes?", organizado pelo
Instituto Goethe e Aliança Francesa, representantes das bibliotecas nacionais de Alemanha, Brasil
e França ressaltaram que a falta de
dinheiro, a resistência de bibliotecários mais conservadores e dúvidas sobre a vida útil dos suportes
virtuais são alguns dos principais
desafios à digitalização de suas
coleções.
O estopim das discussões e recentes iniciativas foram as constantes propostas da ferramenta de
busca Google para digitalizar
acervos.
Angela Maria Monteiro Bettencourt, coordenadora de informações bibliográficas da Fundação
Biblioteca Nacional (FBN), lembra que a proposta da Google tocava na polêmica questão dos direitos autorais. E não era explícita
quanto ao tratamento dos documentos digitalizados.
"A captura da imagem de uma
obra é feita de forma rápida, quase mecânica. Mas o tratamento
requer mais tempo e inteligência.
Quase o mesmo trabalho de uma
catalogação bibliográfica", diz a
coordenadora, defendendo que o
trabalho deve ser tocado pelos especialistas das bibliotecas.
A FBN iniciou o processo de digitalização de suas coleções em
2001, terceirizando os procedimentos. Desde 2003, a instituição
conta com laboratórios próprios e
alcançou um ritmo de 10 mil imagens digitalizadas por mês.
A ação é seletiva: são digitalizados primeiramente os documento mais raros, depois aqueles com
maior necessidade de preservação e, por fim, os com maior demanda dos usuários, cujo manuseio deve ser reduzido.
"A digitalização oferece grandes
vantagens principalmente num
país com dimensões continentais
como o Brasil, que tem déficit de
bibliotecas. Digitalizando você
democratiza o acesso para pessoas que estão em outros Estados.
E é também uma forma eficaz de
preservar originais", sustenta Bettencourt, que ainda neste mês coloca no ar uma nova versão, com
mais recursos para o usuário, da
biblioteca virtual da FBN.
A coordenadora da biblioteca
brasileira diz ainda que um dos
maiores desafios do processo é a
dúvida quanto à vida útil dos arquivos, o que exige uma migração
periódica para novos suportes.
No caso de DVDs, por exemplo, a
cada três anos.
França e Alemanha
A francesa Caroline Wiegandt,
diretora-geral adjunta da biblioteca nacional francesa, concorda
que a vida útil dos suportes é um
problema. Ela tem criado resistência de "bibliotecários conservadores", que temem que a recorrente digitalização de obras possa
comprometer sua preservação.
Estes mesmos conservadores
acreditam ainda que a digitalização, na França, pode vir a esvaziar
as bibliotecas físicas.
Para Wiegandt, ainda que alguns já tenham compreendido
que o processo se limitará a obras
de domínio público -ou seja, títulos cujos autores tenham morrido há pelo menos 70 anos-,
autores, editores e livreiros vêem
uma concorrência desleal na idéia
de gratuidade do acesso.
"O que me parece mais certo é
que o modelo econômico editorial vai mudar nos anos por vir",
diz Wiegandt.
A alemã Elisabeth Niggemann,
diretora da Deutsche Bibliothek, e
uma das coordenadoras do projeto da Biblioteca Digital Européia,
falou da importância de atrair para as instituições o público que
procura cada vez mais as ferramentas de busca para pesquisas.
"Com a concorrência das ferramentas de busca, as bibliotecas
nacionais passaram a ter como
desafio reunir a qualidade de seus
conteúdos e especialistas, à qualidade tecnológica dessas ferramentas. O usuário tem essa expectativa e não queremos decepcioná-lo", salientou Niggemann.
Segundo a alemã, a maior barreira à digitalização de acervos
ainda é a falta de dinheiro. Niggemann mostrou que, somente na
Alemanha, o volume de obras impressas entre 1500 e 1900 (cerca de
2 milhões) quase quintuplicou no
período de 1901 e 2005 (cerca 9,2
milhões de documentos).
"Temos pouco dinheiro. Onde
investir é uma questão estratégica
importante. Não decidimos ainda
se queremos uma digitalização
maciça ou seletiva."
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