São Paulo, domingo, 08 de abril de 2007

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DVDs - Crítica/"M.A.S.H."

Série burlesca demole ambições bélicas

Criada nos anos 70 a partir do longa de Robert Altman, "M.A.S.H." ficou 11 anos no ar e criticou os absurdos do militarismo

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Se cada tiro de canhão da fúria militarista norte-americana fizesse seu alvo explodir em gargalhadas o mundo já estaria salvo. Com esta lógica do nonsense, o diretor Robert Altman demoliu os ideais bélicos em voga em 1970, em plena Guerra do Vietnã, no clássico "M.A.S.H.", uma comédia absurda ambientada, para efeitos de ficção, durante a Guerra da Coréia, nos anos 50. Dois anos depois, os criadores Larry Gelbart e Burt Metcalf retomaram o romance de Richard Hooker e transformaram-no numa das séries de maior sucesso e duração da TV americana (11 anos no ar, num total de 251 episódios, e dona, ainda hoje, do recorde de audiência, com o episódio final, exibido em 1983). A primeira temporada, que acaba de sair em DVD, confirma que mesmo quando se mudam os alvos, as ironias de todas as guerras continuam as mesmas.
"M.A.S.H.", sigla em inglês para Hospital Médico Cirúrgico do Exército, acompanha o dia-a-dia de um grupo de militares nos bastidores das batalhas. Relativamente distantes do front, eles têm como tarefa cuidar dos feridos. Mas não se espere uma versão de "E.R." ambientada numa guerra. Longe do drama recorrente nas séries médicas, o humor é aqui a tônica dominante.
Ele será conduzido pelas estripulias da dupla central, os capitães Franklin Pierce e John McIntyre, interpretados por Alan Alda e Wayne Rogers, respectivamente, nos papéis que no cinema foram de Donald Sutherland e Elliot Gould. Uma das principais vítimas do sarcasmo da dupla é a major Margaret Houlihan, vulgo Lábios Ardentes.
Outra mira recorrente de Pierce e McIntyre é o major Frank Burns, militar arrogante e ferrenho seguidor de regras, cujas imposições se tornam um constante motivo para as subversões dos dois médicos.
É menos, porém, a oposição de caracteres, mesmo simbólicos, que faz de "M.A.S.H." uma sitcom antológica, apesar da excelência dos atores e dos diálogos. Seu brilho ainda intacto deriva do modo como o burlesco demole sucessivamente as ambições supra-humanas dos senhores da guerra.
Em vez de focalizar o lado sanguinário, "M.A.S.H." se concentra no aspecto farsesco, na frivolidade e na descontração de seus personagens, como um avesso sarcástico das tragédias de todo front. Desse modo, o cômico se converte em crítica ao focalizar o confronto em toda a sua futilidade e absurdo, como exemplifica uma das deliciosas tiradas de Pierce: "Não sei porque eles atiram em nós.
Tudo que queremos, no fim das contas, é dar a eles a democracia, pão branco, e transplantar aqui nosso velho e bom sonho americano: liberdade, progresso, azia, afluência, flatulência, tecnologia, tensão...".


M.A.S.H.
Distribuição:
Fox (R$ 99)
Avaliação: ótimo


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