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DVDs - Crítica/"M.A.S.H."
Série burlesca demole ambições bélicas
Criada nos anos 70 a partir do longa de Robert Altman, "M.A.S.H." ficou 11 anos no ar e criticou os absurdos do militarismo
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Se cada tiro de canhão da
fúria militarista norte-americana fizesse seu alvo explodir em gargalhadas o
mundo já estaria salvo. Com esta lógica do nonsense, o diretor
Robert Altman demoliu os
ideais bélicos em voga em 1970,
em plena Guerra do Vietnã, no
clássico "M.A.S.H.", uma comédia absurda ambientada, para
efeitos de ficção, durante a
Guerra da Coréia, nos anos 50.
Dois anos depois, os criadores Larry Gelbart e Burt Metcalf retomaram o romance de
Richard Hooker e transformaram-no numa das séries de
maior sucesso e duração da TV
americana (11 anos no ar, num
total de 251 episódios, e dona,
ainda hoje, do recorde de audiência, com o episódio final,
exibido em 1983). A primeira
temporada, que acaba de sair
em DVD, confirma que mesmo
quando se mudam os alvos, as
ironias de todas as guerras continuam as mesmas.
"M.A.S.H.", sigla em inglês
para Hospital Médico Cirúrgico do Exército, acompanha o
dia-a-dia de um grupo de militares nos bastidores das batalhas. Relativamente distantes
do front, eles têm como tarefa
cuidar dos feridos. Mas não se
espere uma versão de "E.R."
ambientada numa guerra. Longe do drama recorrente nas séries médicas, o humor é aqui a
tônica dominante.
Ele será conduzido pelas estripulias da dupla central, os
capitães Franklin Pierce e John
McIntyre, interpretados por
Alan Alda e Wayne Rogers, respectivamente, nos papéis que
no cinema foram de Donald Sutherland e Elliot Gould. Uma
das principais vítimas do sarcasmo da dupla é a major Margaret Houlihan, vulgo Lábios
Ardentes.
Outra mira recorrente de
Pierce e McIntyre é o major
Frank Burns, militar arrogante
e ferrenho seguidor de regras,
cujas imposições se tornam um
constante motivo para as subversões dos dois médicos.
É menos, porém, a oposição
de caracteres, mesmo simbólicos, que faz de "M.A.S.H." uma
sitcom antológica, apesar da
excelência dos atores e dos diálogos. Seu brilho ainda intacto
deriva do modo como o burlesco demole sucessivamente as
ambições supra-humanas dos
senhores da guerra.
Em vez de focalizar o lado
sanguinário, "M.A.S.H." se concentra no aspecto farsesco, na
frivolidade e na descontração
de seus personagens, como um
avesso sarcástico das tragédias
de todo front. Desse modo, o
cômico se converte em crítica
ao focalizar o confronto em toda a sua futilidade e absurdo,
como exemplifica uma das deliciosas tiradas de Pierce: "Não
sei porque eles atiram em nós.
Tudo que queremos, no fim das
contas, é dar a eles a democracia, pão branco, e transplantar
aqui nosso velho e bom sonho
americano: liberdade, progresso, azia, afluência, flatulência,
tecnologia, tensão...".
M.A.S.H.
Distribuição: Fox (R$ 99)
Avaliação: ótimo
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