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Canadá encerra Hot Docs 2000 com premiação
CARLOS ADRIANO
especial para a Folha, em Toronto
O Hot Docs 2000, Festival Internacional de Documentários do
Canadá, encerrou-se ontem com
a entrega do Lifetime Achievement Award aos diretores de filme-verdade D.A. Pennebaker e
Chris Hegedus.
Ao lado de Richard Leacock e
dos irmãos Maysles, Pennebaker
formou em 1959 a Drew Associates e inovou a reportagem. Criaram a primeira câmera 16mm
com som inteiramente sincronizado, fixando o cinema-direto.
Em 1976, selou dupla com Hegedus, dirigindo "Town Bloody
Hall" (as diatribes antifeministas
de Norman Mailer), "Jimi Plays
Monterey" (o guitarrista Hendrix
em caleidoscópio, no diapasão de
"Don't Look Back"/Bob Dylan,
"Monterey Pop") e "The War
Room" (a política de Clinton).
Agora preparam "Startup.com"
(jovens que faturam na Internet)
e um filme para a Miramax com
lendas de rhythm and blues.
Filmes no fio da realidade foram
sensação. "Filhos Perdidos", de
Fredrik von Krusenstjerna, contrasta as vidas de pai e filho. A repulsa de Hans Canjé, ex-membro
da Juventude Hitlerista, aos excessos capitalistas alemães o fez
pular o muro e escapar para a Alemanha Oriental em 63, tornando-se figura-chave da propaganda
comunista. Ingo Hasselbach rebelou-se, virou neonazista, largou
tudo e aclamou-se com o livro
"Fuhrer-Ex: Memórias de um Ex-neonazista".
A passagem política/arte traz
"Mais Estranho com uma Câmera", de Elizabeth Barret. Em 67, o
documentarista canadense Hugh
O'Connor foi morto por H. Ison,
que o acusou de invadir sua propriedade e privacidade. Ison ressentia-se da exploração da miséria nos Apalaches exposta pela
mídia. Após 30 anos, a diretora
apalachiana investiga a história e
as questões éticas de filmar o outro.
Em "O Exibido", Jesper Jargil
faz making of de "Psychomobile
#1: Relógio do Mundo", do controverso diretor do Dogma Lars
von Trier. No jogo-experiência,
53 atores numa casa em Copenhague improvisam uma história
sobre notas de roteiro e regras
restritas.
No México, a equipe filma formigas e envia imagens. Quando
formigas cruzam linhas demarcadas na tela, luzes acendem nas salas e forçam atores a drásticas
mudanças de humor.
As discussões dos cineastas rolaram no bar Itália, versando sobre o impacto da Internet na produção e distribuição de documentários; como os formatos digitais estimulam o estilo livre e
pessoal; a experiência de sujeito e
objeto no papel documental. O
simpósio "Liberando o documentário" pensou como a globalização exige adequação a formatos previsíveis e enseja novas formas criativas.
O intercâmbio entre técnicas de
ficção e não-ficção, borrando bordas e dobras híbridas dos gêneros, traz prazeres e perigos à verdade dos fatos.
Pennebaker e Hegedus indagaram no simpósio: "Como podemos seguir nosso coração e ainda
sobreviver?" A longa carreira não
impede os revezes: "A cada filme
pensamos "Deus, este pode ser o
último'". Foi uma súmula das
questões econômicas, políticas e
artísticas levantadas no festival,
por obras e idéias.
Carlos Adriano viaja a convite do Ministério
da Cultura do Brasil e da organização do festival
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