São Paulo, segunda-feira, 08 de maio de 2000


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Canadá encerra Hot Docs 2000 com premiação

CARLOS ADRIANO
especial para a Folha, em Toronto

O Hot Docs 2000, Festival Internacional de Documentários do Canadá, encerrou-se ontem com a entrega do Lifetime Achievement Award aos diretores de filme-verdade D.A. Pennebaker e Chris Hegedus.
Ao lado de Richard Leacock e dos irmãos Maysles, Pennebaker formou em 1959 a Drew Associates e inovou a reportagem. Criaram a primeira câmera 16mm com som inteiramente sincronizado, fixando o cinema-direto. Em 1976, selou dupla com Hegedus, dirigindo "Town Bloody Hall" (as diatribes antifeministas de Norman Mailer), "Jimi Plays Monterey" (o guitarrista Hendrix em caleidoscópio, no diapasão de "Don't Look Back"/Bob Dylan, "Monterey Pop") e "The War Room" (a política de Clinton). Agora preparam "Startup.com" (jovens que faturam na Internet) e um filme para a Miramax com lendas de rhythm and blues.
Filmes no fio da realidade foram sensação. "Filhos Perdidos", de Fredrik von Krusenstjerna, contrasta as vidas de pai e filho. A repulsa de Hans Canjé, ex-membro da Juventude Hitlerista, aos excessos capitalistas alemães o fez pular o muro e escapar para a Alemanha Oriental em 63, tornando-se figura-chave da propaganda comunista. Ingo Hasselbach rebelou-se, virou neonazista, largou tudo e aclamou-se com o livro "Fuhrer-Ex: Memórias de um Ex-neonazista".
A passagem política/arte traz "Mais Estranho com uma Câmera", de Elizabeth Barret. Em 67, o documentarista canadense Hugh O'Connor foi morto por H. Ison, que o acusou de invadir sua propriedade e privacidade. Ison ressentia-se da exploração da miséria nos Apalaches exposta pela mídia. Após 30 anos, a diretora apalachiana investiga a história e as questões éticas de filmar o outro.
Em "O Exibido", Jesper Jargil faz making of de "Psychomobile #1: Relógio do Mundo", do controverso diretor do Dogma Lars von Trier. No jogo-experiência, 53 atores numa casa em Copenhague improvisam uma história sobre notas de roteiro e regras restritas.
No México, a equipe filma formigas e envia imagens. Quando formigas cruzam linhas demarcadas na tela, luzes acendem nas salas e forçam atores a drásticas mudanças de humor.
As discussões dos cineastas rolaram no bar Itália, versando sobre o impacto da Internet na produção e distribuição de documentários; como os formatos digitais estimulam o estilo livre e pessoal; a experiência de sujeito e objeto no papel documental. O simpósio "Liberando o documentário" pensou como a globalização exige adequação a formatos previsíveis e enseja novas formas criativas.
O intercâmbio entre técnicas de ficção e não-ficção, borrando bordas e dobras híbridas dos gêneros, traz prazeres e perigos à verdade dos fatos.
Pennebaker e Hegedus indagaram no simpósio: "Como podemos seguir nosso coração e ainda sobreviver?" A longa carreira não impede os revezes: "A cada filme pensamos "Deus, este pode ser o último'". Foi uma súmula das questões econômicas, políticas e artísticas levantadas no festival, por obras e idéias.


Carlos Adriano viaja a convite do Ministério da Cultura do Brasil e da organização do festival


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