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LITERATURA
Gestão anterior da Funarte autorizou a editora Global a publicar o melhor teatro do dramaturgo, morto em 99
Grassi reclama direitos de Plínio Marcos
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Quando morre um escritor, os
direitos de sua obra vivem num
limbo temporário. Não poderia
ser diferente com Plínio Marcos,
que só agora teve a obra completa
catalogada por seu filho Kiko de Barros,
quem gerencia o espólio.
Em 98, antes de morrer, o dramaturgo cedeu por dez anos os
direitos da obra para a Funarte
(Fundação Nacional de Arte), órgão do Ministério da Cultura. No
final do mandato, em 2002, o então presidente da fundação, Márcio de Souza, repassou para a Global Editora os direitos de cinco
peças, para a publicação de um livro. O novo presidente da Funarte, o ator Antônio Grassi, reclama
os direitos de exclusividade.
"Quando entrei, vi que havia
um contrato passando os direitos
para a Global. Estou tentando
com o departamento jurídico da
Funarte ver se a gente entra num
acordo. São apenas cinco obras.
Mas a verdade é que a Global vai
publicar as peças mais conhecidas. Vai sobrar o quê para a Funarte?", pergunta Grassi.
Entre as peças a serem publicadas, selecionadas pela crítica Ilka
Zanotto, estão "Barrela", "Dois
Perdidos numa Noite Suja", "Navalha na Carne" e "Abajur Lilás".
"Assinamos com a Global para
uma coleção importante. A Funarte não conseguia editar os livros, e ficamos nesse impasse.
Existem apenas alguns exemplares, produzidos pelo próprio Plínio, que os vendia. Mas toda a
obra teatral dele está fora das livrarias", explica Kiko de Barros.
"Só agora conseguimos catalogar a obra completa. Vamos também abrir um site e batalhar pela
construção de um centro cultural
Plínio Marcos em Santos", diz.
Tomás de Aquino Chaves de
Melo, então diretor do Departamento de Planejamento e Administração da Funarte, numa carta
à Folha (21/08/2001), reiterava o
desejo de publicar as obras num
"projeto relevante da instituição".
Mas nada foi feito.
Jefferson Luiz Alves, diretor editorial da Global, esclarece: "Não é
bem isso, a Funarte tem os direitos da obra completa. O Kiko é
meu amigo, a Global, na verdade,
vai publicar o melhor teatro de
Plínio Marcos numa coleção organizada por Sábato Magaldi".
"Temos uma coleção composta
por melhores peças de alguns autores. A Funarte vai fazer a publicação completa do Plínio, e nós,
das melhores. A coleção quer retratar o patrimônio do autor, deve
estar havendo um mal-entendido,
os direitos não foram repassados
definitivamente, foram cedidos
apenas para essa obra. Nada impede a Funarte de publicar."
"O projeto deles é muito mais
ambicioso. A Global foi quem
procurou a Funarte, por causa
dessa coleção. É um trabalho normal. Com o passar do tempo, a família se chateou, porque a obra
não era publicada, e ela queria ver
a obra na praça", completa Alves.
"Devemos entrar num acordo,
mesmo que se faça um esquema
de co-produção. Nosso departamento jurídico alega que há uma
contradição: comprar o direitos
por dez anos e depois repassar
gratuitamente. A Funarte tem interesse em publicar as suas obras.
Não tem dinheiro agora."
O negócio, em torno de R$ 100
mil, foi excelente para ambas as
partes. Plínio, doente, impedido
pela diabetes de vender livros,
transferiu à Funarte a responsabilidade de editar suas 30 peças.
Por outro lado, pagando em
média R$ 3.300 por peça, o órgão
ganhou a exclusividade de um
dos maiores autores brasileiros.
"Não é só a publicação das peças, mas há um projeto editorial,
com entrevistas. Não detalhei se
queremos porcentagem, mas preciso dar sequência a um gasto do
dinheiro publico que foi feito.
Fez-se um acordo com uma editora específica sem haver licitação. Precisamos apurar tudo isso", explica Grassi.
Segundo ele, as edições estrangeiras precisam de autorização da
Funarte: "Agora mesmo, chegou
um pedido de uma editora francesa, cuja tradução já estava feita".
Márcio de Souza, ex-presidente
da fundação, não foi localizado.
Jefferson Alves, da Global, explica que a editora tem interesse em
publicar peças de dramaturgos
brasileiros. No prelo, está um volume com peças de Domingos de
Oliveira, a ser lançado em junho.
"A Coleção já publicou "CPC-UNE" e o melhor do teatro de
Gianfrancesco Guarnieri. Muita
gente merece estar nessa coleção.
Acabou de morrer o Mauro Rasi,
por exemplo. Tem o Augusto
Boal. Tem muita gente", explica
Magaldi, que organiza a coleção.
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