São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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"THE NEW BRAZILIAN CINEMA"

Coletânea destaca o social nas telas

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O livro "The New Brazilian Cinema", ou "O Novo Cinema Brasileiro", apresenta uma coletânea de textos escritos para conferência promovida pelo Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, em parceria com o Ministério da Cultura, no ano de 2000.
Filmes mais recentes, como "Cidade de Deus", ainda não existiam quando os textos publicados nesse volume foram escritos. Mas o livro oferece subsídios para o debate que aflorou a partir do lançamento do filme. Com destaque para a temática do como representar a desigualdade social.
Publicado no final de 2003 na Inglaterra, editado pela professora e crítica Lúcia Nagib, a coletânea contempla a participação de um grupo expressivo de críticos brasileiros que, se expressando em inglês, para um público anglo-saxão, produziu apanhados sugestivos, em formatos mais ou menos desenvolvidos.
O livro abre com a discussão do modelo de produção que estimulou a retomada. José Álvaro Moisés, ex-secretário do Audiovisual, defende o sistema de incentivo fiscal. Cacá Diegues questiona a efetividade do modelo, dada a inexistência de política de distribuição.
A partir daí o livro discute filmes. O crescimento do gênero documental aparece no texto de Amir Labaki.
João Luiz Vieira oferece uma análise pontual bastante inspirada de "Cronicamente Inviável", filme de Sérgio Bianchi, mencionado também nos artigos de Ismail Xavier e Fernão Ramos.

Estrangeiros
A presença de especialistas estrangeiros incrementa o debate. Em seu comentário curto, que serve de epílogo ao livro, Laura Mulvey, cineasta e crítica, professora do Birbeck College, em Londres, pensadora seminal sobre as implicações das formas de representação cinematográfica nas relações de gênero, faz indagações sugestivas sobre o panorama oferecido pelo livro.
Mulvey nota uma ênfase recorrente nos textos dos especialistas brasileiros, bem como nos filmes analisados, na relação com a história, especialmente na interlocução com o legado do cinema novo. Em seu papel de comentadora, ela relaciona inquietações levantadas com dilemas contemporâneos que compartilhamos com outras culturas.
A ensaísta inglesa menciona especialmente a ênfase de Ismail Xavier na intervenção a um só tempo estética e de crítica social daquele movimento, postura que contrasta com o tom de ressentimento que marcaria a produção contemporânea.
Ivana Bentes ressalta a presença recorrente do sertão e da favela como cenários privilegiados do cinema brasileiro, tema também tratado nos artigos de Luiz Zanin Oricchio e Lúcia Nagib. Mulvey detecta a desconfiança com versões contemporâneas dessas paisagens, que teriam se adocicado.
Robert Stam, professor da Universidade de Nova York, autor de artigos de referência sobre o cinema e a TV no Brasil, comparece com um capítulo sobre a presença do índio no audiovisual brasileiro ao longo da história. Seu referencial comparativo entre Brasil e Estados Unidos é original.
Stephanie Dennison e Lisa Shaw, professoras da Universidade de Leeds, na Inglaterra, respectivamente sobre adaptações recentes de Nelson Rodrigues e musicais, cobrem filmes que de outra forma ficariam excluídos.
O livro não esgota o fenômeno recente. Ficam perguntas sobre a relação entre formas e conteúdos heterodoxos. A leitura vale pela perspectiva que oferece sobre a história da crítica e do cinema brasileiro.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
THE NEW BRAZILIAN CINEMA.
Organizadora: Lúcia Nagib. Editora: Hardcover. Quanto: R$ 178, em média (importado). Onde encontrar: www.amazon.com.



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