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"THE NEW BRAZILIAN CINEMA"
Coletânea destaca o social nas telas
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
O livro "The New Brazilian
Cinema", ou "O Novo Cinema Brasileiro", apresenta uma coletânea de textos escritos para
conferência promovida pelo Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford, em parceria
com o Ministério da Cultura, no
ano de 2000.
Filmes mais recentes, como "Cidade de Deus", ainda não existiam quando os textos publicados
nesse volume foram escritos. Mas
o livro oferece subsídios para o
debate que aflorou a partir do lançamento do filme. Com destaque
para a temática do como representar a desigualdade social.
Publicado no final de 2003 na
Inglaterra, editado pela professora e crítica Lúcia Nagib, a coletânea contempla a participação de
um grupo expressivo de críticos
brasileiros que, se expressando
em inglês, para um público anglo-saxão, produziu apanhados sugestivos, em formatos mais ou
menos desenvolvidos.
O livro abre com a discussão do
modelo de produção que estimulou a retomada. José Álvaro Moisés, ex-secretário do Audiovisual,
defende o sistema de incentivo
fiscal. Cacá Diegues questiona a
efetividade do modelo, dada a
inexistência de política de distribuição.
A partir daí o livro discute filmes. O crescimento do gênero
documental aparece no texto de
Amir Labaki.
João Luiz Vieira oferece uma
análise pontual bastante inspirada de "Cronicamente Inviável",
filme de Sérgio Bianchi, mencionado também nos artigos de Ismail Xavier e Fernão Ramos.
Estrangeiros
A presença de especialistas estrangeiros incrementa o debate.
Em seu comentário curto, que
serve de epílogo ao livro, Laura
Mulvey, cineasta e crítica, professora do Birbeck College, em Londres, pensadora seminal sobre as
implicações das formas de representação cinematográfica nas relações de gênero, faz indagações
sugestivas sobre o panorama oferecido pelo livro.
Mulvey nota uma ênfase recorrente nos textos dos especialistas
brasileiros, bem como nos filmes
analisados, na relação com a história, especialmente na interlocução com o legado do cinema novo. Em seu papel de comentadora, ela relaciona inquietações levantadas com dilemas contemporâneos que compartilhamos com
outras culturas.
A ensaísta inglesa menciona especialmente a ênfase de Ismail
Xavier na intervenção a um só
tempo estética e de crítica social
daquele movimento, postura que
contrasta com o tom de ressentimento que marcaria a produção
contemporânea.
Ivana Bentes ressalta a presença
recorrente do sertão e da favela
como cenários privilegiados do
cinema brasileiro, tema também
tratado nos artigos de Luiz Zanin
Oricchio e Lúcia Nagib. Mulvey
detecta a desconfiança com versões contemporâneas dessas paisagens, que teriam se adocicado.
Robert Stam, professor da Universidade de Nova York, autor de
artigos de referência sobre o cinema e a TV no Brasil, comparece
com um capítulo sobre a presença
do índio no audiovisual brasileiro
ao longo da história. Seu referencial comparativo entre Brasil e Estados Unidos é original.
Stephanie Dennison e Lisa
Shaw, professoras da Universidade de Leeds, na Inglaterra, respectivamente sobre adaptações recentes de Nelson Rodrigues e musicais, cobrem filmes que de outra
forma ficariam excluídos.
O livro não esgota o fenômeno
recente. Ficam perguntas sobre a
relação entre formas e conteúdos
heterodoxos. A leitura vale pela
perspectiva que oferece sobre a
história da crítica e do cinema
brasileiro.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
THE NEW BRAZILIAN CINEMA.
Organizadora: Lúcia Nagib. Editora:
Hardcover. Quanto: R$ 178, em média
(importado). Onde encontrar:
www.amazon.com.
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