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VISUAIS
Nove exposições em cartaz na cidade traçam panorama dessa temática com produções modernas e contemporâneas
Corpos se multiplicam pelas artes de SP
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Representações e usos do corpo
na arte multiplicam-se, coincidentemente, pela cidade de São
Paulo. Nove exposições, que englobam produções modernas e
contemporâneas, traçam um amplo panorama dessa temática e
permitem um passeio por diversas abordagens, seja por meio da
forma como artistas usam seu
corpo como expressão, de como
se busca ativar o corpo dos visitantes e até mesmo do uso publicitário que esse tema pode suscitar (leia crítica abaixo).
Um roteiro possível para percorrer essas mostras deve começar pela Pinacoteca do Estado, onde está em cartaz a retrospectiva
de Henry Moore (1898-1986). A
ampla exposição apresenta representações realistas feitas pelo artista inglês no início de sua carreira, em 1922, como a obra "Cabeça
de Virgem", passando por toda a
fragmentação do corpo imprimida pela arte moderna, em seus vários movimentos, muitos pelos
quais Moore transitou -como o
surrealismo e cubismo-, sem
nunca, no entanto, ter se filiado a
nenhum deles.
Já nos anos 50 e 60, vários artistas começaram uma pesquisa para aproximar a arte do observador, dando a ele uma função mais
ativa, portanto procurando acionar o corpo do outro.
Duas exposições apresentam
artistas que criaram obras representativas desse momento. É o caso de "Através", com curadoria de
Lisette Lagnado, que traz "Bicho
Ponta" (1960) e "Bicho Animal"
(1966), ambas de Lygia Clark
(1920-1988), trabalhos seminais
para a arte brasileira e que podem
ser manipulados pelo visitante,
inclusive na exposição, o que nem
sempre é possível. Lá também está a obra-prima "T Téia 1,C", de
Lygia Pape (1929-2004), instalação que pede o deslocamento do
visitante na sala.
Ainda dessa fase, a retrospectiva
do venezuelano Jesús-Rafael Soto
(1923-2005), no Instituto Tomie
Ohtake, com curadoria de Paulo
Venâncio Filho, apresenta trabalhos importantes de seu percurso
na arte cinética, com trabalhos
que exigem um vaivém do observador, o que cria uma coreografia
espontânea dentro do espaço expositivo. Entretanto, "Penetrável"
(1997), que pede a imersão do visitante dentro da própria obra, é a
obra que mais demanda a participação na mostra.
Passado esse momento de transição, dos anos 50 e 60, chega-se à
arte contemporânea propriamente dita, e aí a exposição mais
abrangente é "O Corpo na Arte
Contemporânea Brasileira", no
Itaú Cultural, que apresenta 114
obras produzidas nos últimos 40
anos, por 80 artistas.
Enciclopédica, a exposição, com
curadoria de Fernando Cocchiarale e Viviane Matesco, trata do
tema em quatro áreas: a fragmentação do corpo pelo artista, o caráter subversivo que pode ser dado a ele, o uso da performance e a
imagem do corpo.
Aliás, nos próximos dias 12, 13 e
14, o Itaú apresenta o ciclo paralelo a essa mostra, "Corpo e Identidade no Cinema Brasileiro", com
títulos desde os anos 60 que identificam traços comportamentais
do jeito brasileiro. Na abertura,
dia 12, às 17h, será exibido "Todas
as Mulheres do Mundo" (1966),
de Domingos Oliveira, com Leila
Diniz e Paulo José.
Individuais
Dois dos artistas da mostra no
Itaú têm exposições individuais
em São Paulo, o que permite conhecer novas obras em seus percursos. É o caso de Edgard de
Souza e Ernesto Neto, ambos com
orientações muitos distintas.
Souza, que utiliza vários suportes, como a fotografia, a escultura
e o desenho, usa seu corpo como
modelo, partindo do particular
para chegar a estados coletivos.
Já Neto, que também trabalha
com diversos suportes, tem como
centro em sua mostra a instalação
"Ora Bolas... Alguma Coisa Acontece no Mergulho do Corpo, no
Horizonte, na Gravidade" (2005),
que, assim como Clark e Soto, pede a participação ativa do observador. Com 60 mil bolas plásticas
verdes-claros envoltas numa teia
rosa, o visitante pode ficar em
sentido horizontal, sendo massageado pelo que o artista chama de
"liquidoseco" em todo o corpo.
Questão muito abordada pela
produção contemporânea é a relação entre arte e moda, tema de
"Viés", com curadoria de Ricardo
Oliveros, exposição que busca investigar a aproximação desses
dois campos, com trabalhos de
vários artistas que também participam da mostra no Itaú, como
Rafael Assef e Amilcar Packer.
Finalmente, um artista de certa
forma isolado no contexto brasileiro é o mineiro Farnese de Andrade, que tem retrospectiva no
Centro Cultural Banco do Brasil,
com curadoria de Charles Cosac.
O corpo não é propriamente seu
foco, mas sua obra um tanto surrealista é abrangente o suficiente
para que se possa vislumbrar essa
temática na exposição, como se vê
nas peças "Orgasmo" (1968) e
"Metamorfose" (1972), entre outras. Fim do roteiro. Haja corpo.
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