São Paulo, domingo, 08 de maio de 2005

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VISUAIS

Nove exposições em cartaz na cidade traçam panorama dessa temática com produções modernas e contemporâneas

Corpos se multiplicam pelas artes de SP

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Representações e usos do corpo na arte multiplicam-se, coincidentemente, pela cidade de São Paulo. Nove exposições, que englobam produções modernas e contemporâneas, traçam um amplo panorama dessa temática e permitem um passeio por diversas abordagens, seja por meio da forma como artistas usam seu corpo como expressão, de como se busca ativar o corpo dos visitantes e até mesmo do uso publicitário que esse tema pode suscitar (leia crítica abaixo).
Um roteiro possível para percorrer essas mostras deve começar pela Pinacoteca do Estado, onde está em cartaz a retrospectiva de Henry Moore (1898-1986). A ampla exposição apresenta representações realistas feitas pelo artista inglês no início de sua carreira, em 1922, como a obra "Cabeça de Virgem", passando por toda a fragmentação do corpo imprimida pela arte moderna, em seus vários movimentos, muitos pelos quais Moore transitou -como o surrealismo e cubismo-, sem nunca, no entanto, ter se filiado a nenhum deles.
Já nos anos 50 e 60, vários artistas começaram uma pesquisa para aproximar a arte do observador, dando a ele uma função mais ativa, portanto procurando acionar o corpo do outro.
Duas exposições apresentam artistas que criaram obras representativas desse momento. É o caso de "Através", com curadoria de Lisette Lagnado, que traz "Bicho Ponta" (1960) e "Bicho Animal" (1966), ambas de Lygia Clark (1920-1988), trabalhos seminais para a arte brasileira e que podem ser manipulados pelo visitante, inclusive na exposição, o que nem sempre é possível. Lá também está a obra-prima "T Téia 1,C", de Lygia Pape (1929-2004), instalação que pede o deslocamento do visitante na sala.
Ainda dessa fase, a retrospectiva do venezuelano Jesús-Rafael Soto (1923-2005), no Instituto Tomie Ohtake, com curadoria de Paulo Venâncio Filho, apresenta trabalhos importantes de seu percurso na arte cinética, com trabalhos que exigem um vaivém do observador, o que cria uma coreografia espontânea dentro do espaço expositivo. Entretanto, "Penetrável" (1997), que pede a imersão do visitante dentro da própria obra, é a obra que mais demanda a participação na mostra.
Passado esse momento de transição, dos anos 50 e 60, chega-se à arte contemporânea propriamente dita, e aí a exposição mais abrangente é "O Corpo na Arte Contemporânea Brasileira", no Itaú Cultural, que apresenta 114 obras produzidas nos últimos 40 anos, por 80 artistas.
Enciclopédica, a exposição, com curadoria de Fernando Cocchiarale e Viviane Matesco, trata do tema em quatro áreas: a fragmentação do corpo pelo artista, o caráter subversivo que pode ser dado a ele, o uso da performance e a imagem do corpo.
Aliás, nos próximos dias 12, 13 e 14, o Itaú apresenta o ciclo paralelo a essa mostra, "Corpo e Identidade no Cinema Brasileiro", com títulos desde os anos 60 que identificam traços comportamentais do jeito brasileiro. Na abertura, dia 12, às 17h, será exibido "Todas as Mulheres do Mundo" (1966), de Domingos Oliveira, com Leila Diniz e Paulo José.

Individuais
Dois dos artistas da mostra no Itaú têm exposições individuais em São Paulo, o que permite conhecer novas obras em seus percursos. É o caso de Edgard de Souza e Ernesto Neto, ambos com orientações muitos distintas.
Souza, que utiliza vários suportes, como a fotografia, a escultura e o desenho, usa seu corpo como modelo, partindo do particular para chegar a estados coletivos.
Já Neto, que também trabalha com diversos suportes, tem como centro em sua mostra a instalação "Ora Bolas... Alguma Coisa Acontece no Mergulho do Corpo, no Horizonte, na Gravidade" (2005), que, assim como Clark e Soto, pede a participação ativa do observador. Com 60 mil bolas plásticas verdes-claros envoltas numa teia rosa, o visitante pode ficar em sentido horizontal, sendo massageado pelo que o artista chama de "liquidoseco" em todo o corpo.
Questão muito abordada pela produção contemporânea é a relação entre arte e moda, tema de "Viés", com curadoria de Ricardo Oliveros, exposição que busca investigar a aproximação desses dois campos, com trabalhos de vários artistas que também participam da mostra no Itaú, como Rafael Assef e Amilcar Packer.
Finalmente, um artista de certa forma isolado no contexto brasileiro é o mineiro Farnese de Andrade, que tem retrospectiva no Centro Cultural Banco do Brasil, com curadoria de Charles Cosac. O corpo não é propriamente seu foco, mas sua obra um tanto surrealista é abrangente o suficiente para que se possa vislumbrar essa temática na exposição, como se vê nas peças "Orgasmo" (1968) e "Metamorfose" (1972), entre outras. Fim do roteiro. Haja corpo.


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