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LITERATURA
O escritor norte-americano, 75 anos de idade e 50 de carreira está de volta, com "The Time of Our Time"
Quem ainda se interessa por Mailer?
AMIR LABAKI
de Nova York
Na era de "Titanic", "Seinfeld" e Celine Dion, quem ainda
se preocupa com a literatura de
Norman Mailer? Aliás, desde
quando Norman Mailer voltou a
se preocupar com livros?, replicam os ainda mais céticos.
Fato é que Mailer está de volta,
com pompa e circunstância. Em
janeiro último, emplacou 75 anos.
Na quarta-feira, celebrou os 50
anos de sua estréia como romancista com "Os Nus e os Mortos",
reconstituição de sua experiência
na Ásia durante a Segunda Guerra. Para comemorar, além de uma
nova edição com prefácio comemorativo, Mailer acaba de despachar para as livrarias um tijolaço
de 1.287 páginas: "The Time of
Our Time" (O Tempo de Nosso
Tempo, Random House, US$
39,50). A primeira noite de autógrafos aconteceu ontem em Nova
York.
Não se trata de mais uma tentativa de parir "o grande romance
americano" ou mesmo de uma
antologia tradicional na linha "o
melhor de Mailer". "Eu não quero uma antologia", explica o escritor no posfácio. "Queria um livro que pudesse oferecer algumas
dicas sobre a história cultural e social desses últimos 50 anos."
Edição
Mailer debruçou-se então sobre
o conjunto de seus escritos. Não se
restringiu a seus 30 livros, os ficcionais e os jornalísticos. Voltou-se também para reportagens e
ensaios de ocasião, jamais recolhidos da imprensa da época. Nada,
reconhece, "foi considerado sacrossanto. Cortei e arrumei cada
peça segundo minhas necessidades".
Haja desprendimento. O objetivo foi atingido: fechar um volume
que compusesse uma narrativa,
ainda que necessariamente fragmentada, do mundo na era Mailer.
"The Time of Our Time" abre
com um capítulo sobre 1929
("Boxing with Hemingway") e
chega até a era Clinton (dois textos sobre o atual presidente e seu
último oponente eleitoral, Bob
Dole: "The War of Oxymorous"
e "How the Pharaoh Beat Bogey"). Até aqui já se contam 1.174
páginas.
Premonição
Mas, para não deixar de fora sua
ficção histórica, digamos pré-maileriana, seis dos oito capítulos finais reúnem textos de "Noites
Antigas" e "O Evangelho segundo o Filho". É o interregno vitorioso do didatismo editorial sobre
o projeto literário. O que vem a seguir reforça a incongruência.
Mailer encerra "The Time of
Our Time" com dois trechos escolhidos a dedo. O primeiro, batizado de "After Death Comes Limbo" (Depois da Morte Vem Limbo), extraído de um texto de "Pieces and Pontifications" (1982), é
uma espécie de mea-culpa espiritualista de Mailer diante da sua
obsessão pela celebridade.
O capítulo final conclui a equação: é o belo poema "The Harbors
of the Moon" (Os Portos da Lua),
de "Death for the Ladies (and
Other Disasters)", de 1962.
Há um indiscutível sabor premonitório agora que, passadas
mais de três décadas, encontramos Mailer, um nova-iorquino de
adoção (cresceu na cidade, mas
nasceu mesmo no vizinho estado
de New Jersey), pacatamente instalado com a mulher na velha cidade pesqueira de Provincetown,
Massachusetts.
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