da Reportagem Local

"Nascimento" (97), do mineiro Milton Nascimento, era um disco que virou um show, "Tambores de Minas", que agora se transforma num disco, "Tambores de Minas ao Vivo", que já se estende, a partir de hoje, a nova temporada de, ufa, "Tambores de Minas", o show.
Chega aos consumidores o registro para laser de um momento delicado -talvez mais do homem que do artista. Milton se recuperava de problemas de saúde, é sabido. A fragilidade é exposta sem aparentes retoques; a voz virtuosa ressurge vacilante -ora rouca, ora ofegante.
É natural, Milton convalescia. Tal limitação não torna seu disco boa obra de arte, mas sim documento do espírito de um tempo do artista. Por isso, é de lamentar a falta de coragem do projeto de gravar o texto revelador que Milton proferia no show (e que só aparece no encarte do CD: "Este show expõe sem qualquer piedade a minha verdadeira alma, perturbadora e desigual", daí afora.
Milton desfila conhecidas canções, sem muitas diferenças em relação aos "ao vivo" anteriores ao vivo, de "Milagre dos Peixes" (74) a "Amigo" (95). Passeiam "Paula e Bebeto" (75), "Cálix Bento" (76), "Caçador de Mim" (81), até o repertório percussivo/sentimental de "Nascimento".
Em disco, a música se despe dos arranjos visuais do diretor mineiro Gabriel Villela, e esse é um ponto forte do CD: sumiu a composição visual setentista, anacrônica; dos querubins constrangedores que o pajeavam só ficou (menos mal) a voz.
Ainda assim, viceja a atmosfera medieval/rural do projeto, que o torna bem-sucedido no intento de Milton, de oferecer um profundo mergulho para dentro de si. É a maior razão de ser que se pode encontrar em mais um CD ao vivo. (PAS)