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"Hilda Furacão" se revela puritana
da Reportagem Local
"Hilda Furacão", cumprindo
temporada em São Paulo, tem tudo para ser um belo de um musical
-como sempre se espera e nunca
vem, no teatro brasileiro.
Tem, para começar, uma história envolvente e até algo "escandalosa", a de Hilda Furacão, uma
"socialite" mineira tornada prostituta lendária nos "rebeldes"
anos 60, e seu grande amor, um
padre romântico, Malthus. É uma
adaptação do romance do mineiro
Roberto Drummond, de mesmo
título (ed. Siciliano, 91).
Tem, outro fato raro, música
original, composta por alguns nomes do que foi chamado Clube da
Esquina, como Flávio Venturini,
Murilo Antunes. Em geral, é aquilo de que mais se ressentem, no
Brasil, os musicais.
Tem um cenário bonito e engenhoso -e grandioso, para os padrões nacionais. São armações
metálicas que se compõem em
quartos, escritórios, escadarias,
movidas pelos próprios atores e
bailarinos. (Lembram mais de um
espetáculo do West End, o centro
dos musicais de Londres.)
Tem também não pouca consciência da estrutura histórica dos
musicais brasileiros, flagrante nos
números "de cortina" feitos por
uma dupla de "tias" fofoqueiras,
de ótimo tempo cômico e que servem para manter a atenção do público e "comentar" a peça.
Com tudo isso, "Hilda Furacão"
está longe de ser um grande espetáculo.
Em verdade, é questionável até
que seja, propriamente, um musical. Não tem banda nem cantores.
Os quadros musicais são de trilha
gravada. Um único, pelo que se
viu, é interpretado ao vivo -e
ainda assim sem brilho.
Há um coro de bailarinos, mas
também aí se esperava uma inventividade maior nos movimentos,
em especial vindo de um ambiente
de produção já estabelecida, respeitada, em dança.
Sobretudo, era de esperar maior
qualidade na interpretação. As
atuações, com exceções, são pálidas e contidas, o que conflita com
um musical. Se os diálogos da
adaptação já são fracos, os atores
acentuam os defeitos.
Há um certo amadorismo, melhor dizendo, uma inexperiência,
até uma timidez, que dificulta
acompanhar "Hilda Furacão"
com prazer.
Com problemas de ritmo, a peças tem grandes "barrigas", que
atormentam.
Até Hilda, personagem com tantas chaves de interesse, vai se dissolvendo, apesar da beleza da
atriz, Mariane Vicentini.
Anunciada como "a garota do
maiô dourado" e "a rainha da zona boêmia", termina fazendo discursos políticos inoportunos, coisas como "eu sei como vive o povo", "amo os deserdados".
Revela-se uma puritana. Renega
a prostituição como um momento
seu de provação, em que precisou
"sofrer muito" para encontrar o
príncipe encantado.
Pior, muito pior, num instante
de confidência ela "confessa":
"Eu nunca conheci o prazer sexual".
É preciso sublinhar, de todo modo, a qualidade das duas atrizes
que fazem as "tias", bem mineiras
e católicas, mas nada politicamente corretas: Maria Helena Dias e
Duse Naccarati.
(NS)
Peça: Hilda Furacão
Direção: Marcelo Andrade
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h
Onde: teatro Procópio Ferreira (r. Augusta,
2.823, tel. 011/282-2409)
Quanto: R$ 25 (qui. e dom.) e R$ 30 (sex. e
sáb.)
Patrocinadores: Coca-Cola, Ministério da
Cultura
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