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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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"Devagar como o governo Lula", humoristas preparam carreira no cinema depois de 11 anos na TV

Companheiro casseta

SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL

Com escrachos à esquerda e à direita, para fazer rir do regime militar brasileiro e de seus opositores, a turma do Casseta & Planeta estréia no cinema neste ano.
"A Taça do Mundo É Nossa", primeiro longa dos sete humoristas, tem direção de Lula Buarque de Hollanda, ambienta-se no governo Médici (1969-1974) e inaugura o projeto do grupo de lançar um filme a cada ano.
"A intenção é essa, mas é como o governo Lula, a gente tem de chegar lá devagar", diz Bussunda, "ministro do cinema" na hierarquia Casseta & Planeta.
Há 11 anos o grupo exibe na Globo o semanal "Casseta & Planeta - Urgente". Xuxa e Os Trapalhões, também atrações da emissora, têm tradição de capitalizar no cinema a popularidade da TV -somam 26 entre as 50 maiores bilheterias nacionais.
Mas é outra a linhagem que "A Taça do Mundo É Nossa" reivindica. "Quero fazer um clássico como eram as chanchadas. Filmes de Oscarito e de Grande Otelo não eram para ganhar [o Festival de] Cannes. Eram um jeito brasileiro de ver o mundo, que levava as pessoas ao cinema para se divertir", diz Buarque de Hollanda, sócio da Conspiração Filmes, produtora do longa com a Tabajara Records, selo dos Cassetas.
Bussunda afirma que o grupo trabalhou durante quatro anos no roteiro. "A gente se mete em todas as mídias fazendo uma paródia daquela mídia. O humor do Casseta & Planeta levado ao cinema não poderia ser uma transposição do que fazemos na TV." Além do programa na Globo, o Casseta & Planeta atua na internet, no rádio e na imprensa. Sob o pseudônimo Agamenon, publica coluna semanal no jornal "O Globo".

Boate
A escolha do tema do longa partiu da constatação de que "só se fala do regime militar no Brasil a sério. Mas já se passaram mais de 30 anos [desde o golpe de 1964]. Dá para rir tranquilamente", diz Bussunda.
Para situar o público jovem, o filme terá um texto introdutório. O resumo de fatos históricos deve ajudar o espectador a compreender a sátira contida em cenas como as da boate A Longa Noite da Ditadura. É lá que a cúpula militar se reúne, despacha sobre assuntos estratégicos e rebola ao som de Gal Costa.
Não é um show da cantora baiana o que se vê na tela, mas sim do General Costa, um Bussunda em trajes militares e visual black power, entoando o funk "Que Dureza", que descreve as agruras da vida militar: "Que dureza ser milico linha-dura/ Levar a vida só prendendo comunista/ Pra bater e dar porrada sem frescura/ E depois fazer sumir, sem deixar pista".
Paródias de sucessos da jovem guarda pontuam o filme, com o personagem Peixoto Carlos (Hubert). Além de crer que suas composições foram roubadas pelo "rei da jovem guarda", ele é um dos três guerrilheiros da trama dispostos a derrubar o regime.
Seus companheiros (forma de tratamento constante no filme) são Frederico Eugênio (Bussunda), "comunistão" que se autobatiza Vladimir Ilitch Tse-Tung Guevara, e Denilson (Helio de la Peña), ecologista que fuma "coisas inusitadas, mas nada ilícito".
Uma das ações do grupo é o roubo da taça Jules Rimet, troféu da conquista pelo Brasil da Copa do Mundo de 70. A cena tem a participação dos tricampeões Carlos Alberto e Jairzinho.
Além dos jogadores, apenas os atores Toni Tornado e Deborah Secco fazem participações. Todos os papéis (masculinos e femininos) são interpretados pelos sete cassetas. A apresentadora Maria Paula é a filha do general Mirandinha (Cláudio Manoel).
A campanha de lançamento de "A Taça do Mundo É Nossa" começa neste mês, com a exibição de um "avant-trailer" nos cinemas. A produção do filme (em finalização) custou cerca de R$ 5 mi.
As distribuidoras Warner e Globo Filmes investirão R$ 3 mi para divulgar a estréia, que ocupará 200 cinemas no país, em 21 de novembro.



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