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Festival em Berlim vislumbra o social
Para o diretor do Brasil em Cena, realidade é o foco do teatro brasileiro e alemão das novas gerações
VALMIR SANTOS
ENVIADO ESPECIAL A BERLIM
Ele é interlocutor pontual do
teatro brasileiro na Alemanha.
Já participou de encontro da
cia. do Latão em São Paulo e levou para o seu país o "Apocalipse 1,11", do Teatro da Vertigem.
O berlinense Matthias Lilienthal é diretor artístico do Hebbel am Ufer (HAU), um complexo com três edifícios nas
proximidades de um canal de
Kreuzberg, bairro de formação
imigrante da capital, onde terminou ontem o pioneiro festival Brasil em Cena.
"Tenho a impressão de que o
teatro brasileiro está cada vez
mais voltado para a realidade
social", diz Lilienthal, 46. Ele vê
fenômeno parecido com artistas das novas gerações em Berlim. Estariam menos afeitos às
querelas ideológicas da reunificação das Alemanhas Ocidental
e Oriental (1990). O foco agora
são os problemas de sua gente,
aqui e agora.
Vem daí, quem sabe, o interesse do público em travar contato com nomes de teatro até
então desconhecidos do "país
do futebol". Em geral, as apresentações lotaram durante os
nove dias do evento. Tanto as
de um grupo recém-nascido, o
Espanca!, de Belo Horizonte
("Por Elise"), em primeira viagem ao exterior, quanto as da
calejada Cia. dos Atores, do Rio,
que já levou "Ensaio.Hamlet" a
cidades como Paris, Nova York
e Moscou.
Mais sete produções circularam pelos HAU 1, 2 e 3: os espetáculos "Agreste", da Cia. Razões Inversas (SP); "Arena
Conta Danton", da Cia. Livre
(SP); "O Assalto", do grupo Oficina Uzyna Uzona (SP); "Cavalo Marinho Revisitado", do Coletivo Pernambuco (PE); e as
performances "Futebol", do coletivo Frente 3 de Fevereiro
(SP); e "Tanque" e "Canibal",
de Marco Paulo Rolla (MG).
Em paralelo, Zé Celso dirigiu
uma leitura dramática de "O
Rei da Vela" com atores do teatro Volksbühne.
Criado há quase três anos, o
HAU convida atrações internacionais dedicadas a experimentos em dança e teatro mas também acolhe a produção independente. "A programação investe em teatro jovem feito por
diretores jovens para um público jovem", diz Lilienthal. Os espaços são estatais e somam ainda apoio de duas fundações -o
orçamento anual atinge 4 milhões (R$ 11,7 milhões). Pouco,
se comparado a dois respeitados teatros acima do HAU em
termos de contemporaneidade: o Volksbühne (fundado em
1914) e o Schaubühne (1962).
E o que dizer do teatro e cia.
Berliner Ensemble (1949, mas
edifício barroco de 1892), que
teve o poeta e dramaturgo Bertolt Brecht e a atriz Helene
Weigel entre os revolucionários idealizadores? Segundo Lilienthal, nem a sua geração, a
da ruptura pós-68 (também a
de Frank Castorf, de Christoph
Marthaler), nem a atual ("crescida sob estado de bem-estar
terrorista") dialogam com a linhagem tradicional.
O repórter VALMIR SANTOS viajou a convite do
teatro HAU e do Instituto Goethe SP
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