São Paulo, domingo, 08 de junho de 2008 |
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BIA ABRAMO Amor materno deve sustentar "A Favorita"
ENTRA NOVELA , sai novela, o noticiário não muda: a audiência das novelas da Globo não é mais a mesma. Não importa o horário, não importa o autor, não importam a trama ou o elenco. Simplesmente, não há mais tanta gente interessada em novela, em geral, e no tipo de novela que a Globo vem fazendo há anos, em particular. Pelo menos, não desde o começo. Não será diferente em "A Favorita". Os índices, em torno dos 35 pontos nos primeiros três capítulos, são a meta, o sonho de qualquer emissora, menos da Globo, que ainda almeja uma audiência "universal". Assim, as novelas já estréiam em "crise". "A Favorita" pode -e deve- subir para a casa do 40 pontos. Certamente, terá alguns picos para além disso se usar os esteróides de sempre -já circulam notas nos sites de TV sobre uma possível nudez da atriz Juliana Paes -, mas a novela, qualquer uma, perdeu a capacidade de exercer aquela força centrípeta em relação à atenção da maioria do público telespectador. Há muitos públicos hoje em dia, e alguns rejeitam a novela. "A Favorita" deve ir bem do ponto de vista dramatúrgico, pelo menos no núcleo central da trama, que trata da rivalidade entre duas mulheres que disputam uma filha. O tema, o amor materno, tem raízes profundas no imaginário, sobretudo no das mulheres, e é facilmente capaz de suscitar aquela adesão apaixonada de que tanto necessitam as novelas para atravessar meses no ar. A heroína o é, de fato: a personagem de Patrícia Pillar passou uma tremenda provação -18 anos na cadeia injustamente, a perda da filha- e é do motor da injustiça que vai tirar forças para combater o mal. É um esquema clássico, mas que provavelmente vai funcionar ajudado pela seriedade e pela contenção do sofrimento demonstrado pela atriz nos primeiros capítulos. A antagonista tem culpa no cartório, mas foi uma boa mãe -coisa que pode, ao menos em parte, redimi-la, aliada à simpatia natural de Claudia Raia. Uma trama semelhante movimentou a novela "Dancin" Days", há 30 anos. Ainda não dá para saber se, como na novela de Gilberto Braga, a heroína vai armar uma volta por cima e se vingar de todos. O que já dá para perceber é que, entre 2008 e 1978, a Globo perdeu a mão na tentativa de representar o país. Se a trajetória hedonista de Júlia Mattos galvanizava as aspirações de liberdades do Brasil pré-abertura, em "A Favorita" as questões políticas estão engessadas na caricatura -o sindicalista parece saído dos anos 50, as falas da moça rica e de "esquerda", de uma cartilha do CPC etc. -que, por ora, não saem de um didatismo empobrecedor e chato. biabramo.tv@uol.com.br Texto Anterior: Resumo das novelas Próximo Texto: Televisão/Crítica: Liberdade de "Hatari!" supre suas falhas Índice |
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