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ARTES PLÁSTICAS
Masp abriga cinco
décadas de Dalí
ALVARO MACHADO
especial para a Folha
Salvador Dalí morreu em 1989,
mas o mundo ainda é assombrado
com frequência pelo fenômeno
"Avida Dollars" -anagrama do
nome de Dalí cunhado pelo escritor francês André Breton, criador
do Surrealismo, para denunciar a
insaciável fome de divisas e luxo
do artista espanhol.
Verdadeiro mago da publicidade, Dalí logo reverteu o ataque a
seu favor: "Os americanos sentiram-se mais seguros em relação a
mim", celebrava.
A exposição "Salvador Dalí no
Masp", que passou pelo Rio e começa amanhã em São Paulo, é boa
amostra da esquizofrênica máquina de produzir alimentada pelo
catalão por mais de cinco décadas.
Entre peças autênticas e falsificações, gêneros e subgêneros -telas, desenhos, gravuras, esculturas, ready-mades, objetos, cenários etc.-, as obras com assinatura Dalí no mundo contam-se às
centenas de milhares.
A maioria repete fracamente
imagens oníricas e técnicas híbridas criadas no bojo do movimento
surrealista, na década 1929-1939.
Apenas entre as falsificações,
existem hoje 100 mil obras embargadas na França e mais 60 mil nos
EUA, entre outras. Quem informa
esses números é o curador da atual
exposição, Robert Descharnes, secretário particular de Dalí por 39
anos e atual presidente de um traste que detém mundialmente os direitos de reprodução de imagens
dalinianas, a Demart Proart.
Descharnes apresenta a mostra
como um retrato do "Dalí global", ou de "todo o Dalí", e afirma que, apesar de não existirem
pinturas grandes -os telões para
balé são reproduções de originais
da década de 30-, a diversidade
dos 476 itens expostos comunicaria ao público a verdadeira dimensão do artista.
Falando em "estratégias", Descharnes lembrou, em entrevista
exclusiva à Folha, que a mostra
"foi iniciativa de empresários argentinos" (a empresa Texoart).
"Não foi pensada pelos argentinos, mas pelos museus brasileiros", contrariou o presidente do
Masp, Julio Neves, durante entrevista coletiva. "A Texoart tem colaborado conosco, como no caso
das exposições Picasso e outras",
afirma Neves.
A firma argentina mantém contrato direto com Descharnes e tem
participação de 30% na bilheteria,
patrocínios e venda de "produtos
Dalí" (canetas, cartões postais,
pôsteres, camisetas, baralhos etc.).
Somente no Rio, o investimento
argentino foi de US$ 900 mil. Em
São Paulo não forma calculadas
ainda todas as despesas.
O catálogo ilustrado de 274 páginas (R$ 40) também foi produzido
por Buenos Aires. Os exemplares
vendidos no Rio traziam 19 avisos
de errata, mas havia pelo menos
dez vezes mais do que isso, entre
erros de ortografia e palavras grafadas em espanhol ou francês no
meio do texto, que foi revisado e
reimpresso, devendo chegar ao
Masp hoje.
A exposição anterior de Dalí no
Brasil também foi capitaneada por
argentinos (Galeria Praxis). Em
1986, o MAM-SP recebeu 120 mil
pessoas para ver 188 obras da coleção Perrot-Moore.
O acervo, quase todo pertencente ao "Capitão" Moore, outro secretário de Dalí, incluía telas realmente monumentais, dos anos 60,
muitos desenhos originais e até
mesmo um insólito projeto de jardinagem no interior do museu. À
época com uma área menor que a
atual, o MAM superlotou durante
um mês.
Com publicidade bem maior, a
mostra Dalí deste ano ganhou no
Rio cerca de 250 mil visitantes. O
Masp, que investiu R$ 700 mil no
evento, aguarda mais de 200 mil
pessoas. Com a expectativa de receber muitas crianças (ingresso
grátis até 10 anos) e jovens, o museu afina seu serviço educativo.
Há "guia eletrônico" (toca-CDs, alugados a R$ 4), monitores para grupos de dez a 44 pessoas, conferências. Escolas públicas têm ingresso gratuito (agendamento pelo tel. 011/253-9663) e os
ingressos para escolas particulares
incluem monitoria. Está sendo
vendido também o CD-ROM
"Dalí Monumental", com preço
módico (R$ 15).
No Masp, Dalí mereceu seguro
sobre US$ 55 milhões, valor estimado para o conjunto das obras.
Apenas o óleo sobre madeira
"Minha Mulher Nua... (Gala)",
de 1945, está avaliado em US$ 5,5
milhões.
As últimas exposições realmente
"antológicas" para os admiradores de Salvador Dalí ocorreram no
Centro Georges Pompidou (Paris,
com 1,2 milhão de visitantes) e na
Tate Gallery (Londres), em 1979; e
em Madri e Barcelona, em 1983.
Mostra: Salvador Dalí no Masp
Onde: Museu de Arte de São Paulo (av.
Paulista, 1.578, tel. 011/251-5644)
Vernissage: hoje às 19h, para convidados
Quando: de amanhã a 9 de agosto; de
terça a domingo, das 9h às 21h
Ingresso: R$ 8 e R$ 4 (estudantes)
Patrocínio: Petrobrás, Embratel e
Volkswagen
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