São Paulo, segunda, 8 de junho de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Masp abriga cinco décadas de Dalí

ALVARO MACHADO
especial para a Folha

Salvador Dalí morreu em 1989, mas o mundo ainda é assombrado com frequência pelo fenômeno "Avida Dollars" -anagrama do nome de Dalí cunhado pelo escritor francês André Breton, criador do Surrealismo, para denunciar a insaciável fome de divisas e luxo do artista espanhol.
Verdadeiro mago da publicidade, Dalí logo reverteu o ataque a seu favor: "Os americanos sentiram-se mais seguros em relação a mim", celebrava.
A exposição "Salvador Dalí no Masp", que passou pelo Rio e começa amanhã em São Paulo, é boa amostra da esquizofrênica máquina de produzir alimentada pelo catalão por mais de cinco décadas.
Entre peças autênticas e falsificações, gêneros e subgêneros -telas, desenhos, gravuras, esculturas, ready-mades, objetos, cenários etc.-, as obras com assinatura Dalí no mundo contam-se às centenas de milhares.
A maioria repete fracamente imagens oníricas e técnicas híbridas criadas no bojo do movimento surrealista, na década 1929-1939.
Apenas entre as falsificações, existem hoje 100 mil obras embargadas na França e mais 60 mil nos EUA, entre outras. Quem informa esses números é o curador da atual exposição, Robert Descharnes, secretário particular de Dalí por 39 anos e atual presidente de um traste que detém mundialmente os direitos de reprodução de imagens dalinianas, a Demart Proart.
Descharnes apresenta a mostra como um retrato do "Dalí global", ou de "todo o Dalí", e afirma que, apesar de não existirem pinturas grandes -os telões para balé são reproduções de originais da década de 30-, a diversidade dos 476 itens expostos comunicaria ao público a verdadeira dimensão do artista.
Falando em "estratégias", Descharnes lembrou, em entrevista exclusiva à Folha, que a mostra "foi iniciativa de empresários argentinos" (a empresa Texoart).
"Não foi pensada pelos argentinos, mas pelos museus brasileiros", contrariou o presidente do Masp, Julio Neves, durante entrevista coletiva. "A Texoart tem colaborado conosco, como no caso das exposições Picasso e outras", afirma Neves.
A firma argentina mantém contrato direto com Descharnes e tem participação de 30% na bilheteria, patrocínios e venda de "produtos Dalí" (canetas, cartões postais, pôsteres, camisetas, baralhos etc.). Somente no Rio, o investimento argentino foi de US$ 900 mil. Em São Paulo não forma calculadas ainda todas as despesas.
O catálogo ilustrado de 274 páginas (R$ 40) também foi produzido por Buenos Aires. Os exemplares vendidos no Rio traziam 19 avisos de errata, mas havia pelo menos dez vezes mais do que isso, entre erros de ortografia e palavras grafadas em espanhol ou francês no meio do texto, que foi revisado e reimpresso, devendo chegar ao Masp hoje.
A exposição anterior de Dalí no Brasil também foi capitaneada por argentinos (Galeria Praxis). Em 1986, o MAM-SP recebeu 120 mil pessoas para ver 188 obras da coleção Perrot-Moore.
O acervo, quase todo pertencente ao "Capitão" Moore, outro secretário de Dalí, incluía telas realmente monumentais, dos anos 60, muitos desenhos originais e até mesmo um insólito projeto de jardinagem no interior do museu. À época com uma área menor que a atual, o MAM superlotou durante um mês.
Com publicidade bem maior, a mostra Dalí deste ano ganhou no Rio cerca de 250 mil visitantes. O Masp, que investiu R$ 700 mil no evento, aguarda mais de 200 mil pessoas. Com a expectativa de receber muitas crianças (ingresso grátis até 10 anos) e jovens, o museu afina seu serviço educativo.
Há "guia eletrônico" (toca-CDs, alugados a R$ 4), monitores para grupos de dez a 44 pessoas, conferências. Escolas públicas têm ingresso gratuito (agendamento pelo tel. 011/253-9663) e os ingressos para escolas particulares incluem monitoria. Está sendo vendido também o CD-ROM "Dalí Monumental", com preço módico (R$ 15).
No Masp, Dalí mereceu seguro sobre US$ 55 milhões, valor estimado para o conjunto das obras. Apenas o óleo sobre madeira "Minha Mulher Nua... (Gala)", de 1945, está avaliado em US$ 5,5 milhões.
As últimas exposições realmente "antológicas" para os admiradores de Salvador Dalí ocorreram no Centro Georges Pompidou (Paris, com 1,2 milhão de visitantes) e na Tate Gallery (Londres), em 1979; e em Madri e Barcelona, em 1983.



Mostra: Salvador Dalí no Masp
Onde: Museu de Arte de São Paulo (av. Paulista, 1.578, tel. 011/251-5644)
Vernissage: hoje às 19h, para convidados
Quando: de amanhã a 9 de agosto; de terça a domingo, das 9h às 21h
Ingresso: R$ 8 e R$ 4 (estudantes)
Patrocínio: Petrobrás, Embratel e Volkswagen



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