São Paulo, segunda, 8 de junho de 1998

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Vídeo atua em várias áreas

especial para a Folha

"Pânico Sutil" se transfigura num evento que opera na fronteira delimitada por moda, vídeo, música e performance. Da interface, da interferência entre essas áreas, podem brotar idéias que dão pano para mangas.
O projeto concebido pelo estilista Carlos Miéle parte de sua coleção e desfile e busca o diálogo entre as esferas de trabalho da M. Officer, de Arthur Omar, de Naná Vasconcelos, de Cabelo.
A exploração da matéria concerta e auto-referente da imagem já foi vista em outras obras de Omar.
A moda é o palco da encenação, do efêmero. A improvisação da invenção imprevista e provisória. O teatro ritual, a performance do corpo, o rito de passagens estão presentes na obra de Omar.
O gongo que abre e fecha "Pânico" reforça os passos da evolução ritual do corpo.
"Massaker!" segue a intervenção de Michael Jackson na favela Santa Marta (operação militar para coreografia mercantil de videoclipe).
"Vocês" exibe um guerrilheiro que metralha a pupila do olho do espectador, fazendo da tela a terra da "flicagem".
"A Última Sereia" -produzido pela M. Officer- navega por mitos imemoriais embalados em tecidos líquidos.
O barroco lírico e feroz de Tunga é tema de "Nervo de Prata", que persegue a performance circular de cobras e xifópagas no labirinto de conceitos sensoriais.
É interessante notar como o caráter de fetiche é subvertido nos dois vídeos realizados por Omar para o estúdio. Da condição de "simulacro-mercadoria", transforma-se em puro feitiço artístico (sensual conhecimento da descoberta sutil).
"Antropologia da Face Gloriosa" flagra e congela as máscaras no rosto carnavalizado.
A textura fluida do vídeo parece encontrar um leito natural na passarela da moda. É uma espécie de aclimatação da idéia de Bellour de "entre-imagens", passagens constantes e instáveis no escambo de linguagens. (CA)



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