São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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Trilha de Tom Zé se inspira em mulheres

DA ENVIADA A BELO HORIZONTE

Como sempre, Tom Zé deixou a imaginação voar quando começou a conceber a música que o grupo Corpo lhe encomendou um ano atrás para o espetáculo que estrearia em 2002. À medida que o compositor reunia idéias sobre um tema relativo ao amor, veio à sua mente santo Agostinho, o filósofo de origem italiana nascido no ano 354.
Filho de um pagão e de uma cristã fervorosa, santo Agostinho foi um dualista radical. Depois de se entregar à luxúria na primeira fase da vida, quando teve um filho, ele renunciou às paixões carnais para se converter moralmente e se tornar padre.
Além de se inspirar na sensualidade de santo Agostinho, Tom Zé também pensou nas mulheres, durante a criação de sua trilha sonora. "Eu estava preocupado com o fato de o homem ter matado a mulher", conta o compositor, esclarecendo que isso lhe veio à mente por causa, por exemplo, das brincadeiras pejorativas que o homem criou sobre a mulher.
"Expressões populares como "abrir as pernas" ou "ajoelhou tem que rezar" revelam as grosserias relacionadas ao sexo feminino", prossegue Tom Zé, concluindo que, sob essa condição, as mulheres só poderiam mesmo esconder o seu interior dos homens que vivem lhes agredindo.
Simultaneamente a tais pensamentos, que determinaram as "tonalidades conflitantes" de sua trilha, o compositor foi desenvolvendo idéias musicais, cujas bases rítmicas têm como fonte de inspiração as obras de Pixinguinha e da família Carrasqueira.
Permeada pelas vozes de Vange Milliet e Tetê Espíndola, a composição de Tom Zé promete inscrever-se entre as mais belas do repertório do grupo Corpo. Ao longo de sete movimentos, que, embora não sigam a estrutura literal dos choros, são definidos como tal, a trilha não economiza homenagens. Além de "Pixinguin-Rasqueira", vários trechos fazem alusões a personalidades da música brasileira, como Hermeto Paschoal (em "Hermetório") e Yamandú Costa ("Yamanduzório").
Na base instrumental de "Santagustin" predominam a viola, o piano e a percussão, entre os quais não faltam as invenções de Tom Zé, como o som "sampleado" hertzé e os chamados instrumentos de brinquedo, feitos de apitos e cornetinhas.
Tecnicamente, as idéias musicais de Tom Zé foram concretizadas por Gilberto Assis, que fez do computador um aliado e assina em co-parceria a trilha do espetáculo da companhia. (AFP)


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