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"Caminhos do Contemporâneo", mostra que começa amanhã no Paço Imperial, no Rio, apresenta um panorama da arte brasileira desde os anos 50 até hoje
Desvio contemporâneo
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Em busca de uma visão abrangente da arte contemporânea brasileira, "Caminhos do Contemporâneo", mostra que será inaugurada amanhã no Paço Imperial,
no Rio de Janeiro, constrói um
percurso dos últimos 50 anos da
produção em artes visuais, realizando uma complexa arqueologia
do período.
"O público entra na mostra pelo
segmento que apresenta a produção atual e termina a visita na década de 50. Com isso, evitamos
traçar uma linha evolutiva da arte,
mas sim trabalhar com a memória e permitir a visualização dos
vários caminhos dos artistas", diz
Lauro Cavalcanti, diretor do Paço
e curador da mostra.
No entanto, ao encerrar a mostra com uma "capela sistina do
neoconcretismo", expressão do
próprio curador, fica clara a valorização do movimento liderado
por Hélio Oiticica, Lygia Clark e
Lygia Pape. Afinal, foi aí o desvio
da estrada moderna e a abertura
das várias rotas contemporâneas.
"Caminhos do Contemporâneo" é o último segmento da trilogia iniciada em 1999 com a exposição "O Brasil Redescoberto", sobre a iconografia brasileira de
1808 a 1900, e que teve como segunda estação "Quando o Brasil
era Moderno", em 2001, que tratou do modernismo a partir da arquitetura. Todas aconteceram no
Paço Imperial.
"Assim como os arquitetos foram fundamentais para o modernismo brasileiro, exercendo um
papel de astrólogos e historiadores, expressando o que deveria ser
guardado do passado e projetado
para o futuro, a partir dos anos 60,
é o economista quem traça os rumos do país", diz Cavalcanti.
O paralelo é arriscado, mas sem
dúvida aponta para a atual situação globalizada e ditada pelos
economistas que teve início nos
anos 90 no sistema das artes plásticas: grandes mostras organizadas por produtores privados, a
busca incessante por grande público como legitimação para os
patrocinadores, a produção artística em segundo plano com o domínio dos cenógrafos.
"A idéia da mostra é proporcionar diálogos; há momentos que a
arte se articula e outros que se
opõe ao sistema econômico", afirma Cavalcanti. No entanto, e felizmente, o que se destaca são as 420
obras de 177 artistas, fruto de uma
pesquisa de um ano.
"Buscamos balancear na mostra obras fundamentais e outras
desconhecidas, especialmente das
coleções dos próprios artistas
plásticos, que muitas vezes ganham ou trocam obras com os
amigos que são desconhecidas",
diz Cavalcanti. Uma das coleções
que mais contribuíram para a
mostra é a do artista Antonio
Dias. Ao garimpar em coleções e
ateliês, o curador selecionou desde novas obras, como esculturas
em espuma de Ernesto Neto, até
inéditas, como "Os Porra-Loucas", pintura de Rubens Gerschman, de 67, da coleção de Dias.
"Caminhos do Contemporâneo" está dividida em cinco segmentos organizados por décadas:
dos anos 50 até os 90 e 2000, reunidos num só módulo (veja quadro ao lado).
Para cada década foram consultados três curadores. "Cada um
apresentou uma lista com 20 nomes. Os que se repetiam eram automaticamente selecionados. Alguns chegaram a ser agregados
para melhor compor a mostra",
explica o diretor do Paço.
Em setembro, será organizado
um seminário sobre o campo
atual da produção artística. "A
mostra está orientada para o passado; por isso preparamos um seminário que permita refletir sobre
as trilhas futuras", diz Cavalcanti.
Na oportunidade, será lançado
um catálogo da exposição.
Já em novembro, e por apenas
um mês, uma versão reduzida de
"Caminhos do Contemporâneo"
será exposta na Pinacoteca do Estado, em São Paulo.
CAMINHOS DO CONTEMPORÂNEO -
mostra que reúne 420 obras de 177
artistas brasileiros, produzidas da
década 50 até hoje. Curadoria: Lauro
Cavalcanti. Quando: amanhã, às 18h30
(para convidados); de ter. a dom., das
12h às 18h; até 6 de outubro. Onde: Paço
Imperial (pça. 15 de Novembro, 48,
centro, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/2533-4407). Quanto: entrada franca.
O jornalista Fabio Cypriano viajou a
convite do Paço Imperial
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