São Paulo, segunda-feira, 08 de julho de 2002

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"Caminhos do Contemporâneo", mostra que começa amanhã no Paço Imperial, no Rio, apresenta um panorama da arte brasileira desde os anos 50 até hoje

Desvio contemporâneo

FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Em busca de uma visão abrangente da arte contemporânea brasileira, "Caminhos do Contemporâneo", mostra que será inaugurada amanhã no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, constrói um percurso dos últimos 50 anos da produção em artes visuais, realizando uma complexa arqueologia do período.
"O público entra na mostra pelo segmento que apresenta a produção atual e termina a visita na década de 50. Com isso, evitamos traçar uma linha evolutiva da arte, mas sim trabalhar com a memória e permitir a visualização dos vários caminhos dos artistas", diz Lauro Cavalcanti, diretor do Paço e curador da mostra.
No entanto, ao encerrar a mostra com uma "capela sistina do neoconcretismo", expressão do próprio curador, fica clara a valorização do movimento liderado por Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape. Afinal, foi aí o desvio da estrada moderna e a abertura das várias rotas contemporâneas.
"Caminhos do Contemporâneo" é o último segmento da trilogia iniciada em 1999 com a exposição "O Brasil Redescoberto", sobre a iconografia brasileira de 1808 a 1900, e que teve como segunda estação "Quando o Brasil era Moderno", em 2001, que tratou do modernismo a partir da arquitetura. Todas aconteceram no Paço Imperial.
"Assim como os arquitetos foram fundamentais para o modernismo brasileiro, exercendo um papel de astrólogos e historiadores, expressando o que deveria ser guardado do passado e projetado para o futuro, a partir dos anos 60, é o economista quem traça os rumos do país", diz Cavalcanti.
O paralelo é arriscado, mas sem dúvida aponta para a atual situação globalizada e ditada pelos economistas que teve início nos anos 90 no sistema das artes plásticas: grandes mostras organizadas por produtores privados, a busca incessante por grande público como legitimação para os patrocinadores, a produção artística em segundo plano com o domínio dos cenógrafos.
"A idéia da mostra é proporcionar diálogos; há momentos que a arte se articula e outros que se opõe ao sistema econômico", afirma Cavalcanti. No entanto, e felizmente, o que se destaca são as 420 obras de 177 artistas, fruto de uma pesquisa de um ano.
"Buscamos balancear na mostra obras fundamentais e outras desconhecidas, especialmente das coleções dos próprios artistas plásticos, que muitas vezes ganham ou trocam obras com os amigos que são desconhecidas", diz Cavalcanti. Uma das coleções que mais contribuíram para a mostra é a do artista Antonio Dias. Ao garimpar em coleções e ateliês, o curador selecionou desde novas obras, como esculturas em espuma de Ernesto Neto, até inéditas, como "Os Porra-Loucas", pintura de Rubens Gerschman, de 67, da coleção de Dias.
"Caminhos do Contemporâneo" está dividida em cinco segmentos organizados por décadas: dos anos 50 até os 90 e 2000, reunidos num só módulo (veja quadro ao lado).
Para cada década foram consultados três curadores. "Cada um apresentou uma lista com 20 nomes. Os que se repetiam eram automaticamente selecionados. Alguns chegaram a ser agregados para melhor compor a mostra", explica o diretor do Paço.
Em setembro, será organizado um seminário sobre o campo atual da produção artística. "A mostra está orientada para o passado; por isso preparamos um seminário que permita refletir sobre as trilhas futuras", diz Cavalcanti. Na oportunidade, será lançado um catálogo da exposição.
Já em novembro, e por apenas um mês, uma versão reduzida de "Caminhos do Contemporâneo" será exposta na Pinacoteca do Estado, em São Paulo.


CAMINHOS DO CONTEMPORÂNEO - mostra que reúne 420 obras de 177 artistas brasileiros, produzidas da década 50 até hoje. Curadoria: Lauro Cavalcanti. Quando: amanhã, às 18h30 (para convidados); de ter. a dom., das 12h às 18h; até 6 de outubro. Onde: Paço Imperial (pça. 15 de Novembro, 48, centro, Rio de Janeiro, tel. 0/xx/21/2533-4407). Quanto: entrada franca.

O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite do Paço Imperial



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