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CINEMA
Órgão analisa possíveis irregularidades ocorridas entre 2001 e 2003; organização diz que vai verificar o caso
Ministério Público investiga contas do Festival de Gramado
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O Ministério Público Federal
abriu investigação sobre possíveis
irregularidades em prestações de
contas do Festival de Cinema de
Gramado entre 2001 e 2003. Segundo os procuradores que investigam o caso, o festival é suspeito de ter utilizado notas frias
para justificar despesas, que podem chegar a R$ 2 milhões.
São 65 irregularidades listadas
no procedimento administrativo
número 295/2003, com as especificações dos cheques repassados.
A Folha teve acesso à relação dos
cheques sob suspeição.
Há notas e recibos com data
posterior ao evento, ausência da
especificação de hóspedes em hotel, nota sem especificação do
evento nem data, descompasso
entre a data de um cheque e a data
de uma nota a ele referente etc.
Há caso de hotel que registrou
em sua fatura o pagamento feito
com cheque de um banco, quando, na verdade, era de outro.
Também foram encontradas
notas destinadas a comprovar pagamentos de hospedagem, mas
feitos para uma empresa de estruturas metálicas da qual não há nenhum documento de prestação
de contas.
Há casos como o dos cheques
850062 (R$ 2.068) e 850067 (R$
9.000), que foram emitidos em 29
e 30 de agosto de 2002: algumas
notas que justificam a emissão
dos cheques estão sem data, e outras têm data posterior ao evento,
como as de combustíveis com data de 24 de outubro de 2002 e 13 de
novembro de 2002 e hospedagem
em 3 de novembro de 2002.
Em outras situações levantadas
pelo ministério, as contas são justificadas por gastos em diferentes
eventos em Gramado.
A investigação está sendo feita
pela procuradora da República
Sônia Cristina Niche, de Caxias
do Sul, que ainda não formulou
denúncia para a Justiça.
No ofício 0568/2004, de 17 de
maio, a procuradora pede providências ao coordenador do Sistema de Incentivo à Cultura, da Secretaria Estadual da Cultura, Paulo Roberto dos Santos. A secretaria já investiga o caso.
De acordo com a investigação
do Ministério Público, apenas em
2001, seis notas fiscais duplas foram usadas para explicar verbas
diferentes. A mesma nota aparece
em duas prestações de contas,
uma do Ministério do Esporte e
do Turismo e outra da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. Ou
seja, serviu para justificar gastos
bancados por órgãos públicos.
A 32ª edição do Festival de Gramado ocorrerá entre 16 e 21 de
agosto. Terá nove longas de ficção, quatro documentários e 25
curtas, com filmes brasileiros e latino-americanos em geral.
Outro lado
A Câmara da Indústria, Comércio, Serviços, Agricultura e Turismo de Gramado, responsável pelo festival, abriu auditoria para
analisar as contas do evento e repassou dados para o Ministério
Público. "Veremos se algo não está correto. A auditoria atua desde
o ano passado. Estou na presidência da entidade há um ano, e a
procuradora pediu a apresentação de contas. Foram entregues.
Não nos furtaremos a dar informações", disse o atual presidente
da entidade, Claudino Camatti.
"Está me falando de uma coisa
que desconheço", limitou-se a
afirmar Gilberto Michaelsen, presidente da entidade quando houve os fatos investigados.
O presidente do Festival de Cinema de Gramado, Enoir Zorzanello, afirmou que há "preocupação em analisar o caso e corrigir
os eventuais erros".
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