São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

Karime Xavier/Folha Imagem
A modelo Cassia Ávila posa para a coluna com casaco de pele de raposa da marca italiana Monica Rindi, à venda por R$ 18.980

Eles demoraram a chegar ao país neste inverno por causa de uma greve no Ibama. Mas as araras já voltaram a exibir os casacos de pele, que podem custar até R$ 30 mil

Coisa de pele

Há pouco mais de um mês, contêineres com peças feitas de pele de animais, que deveriam abastecer a Daslu, ficaram parados em navios na Europa. O motivo foi a greve do Ibama no Brasil. Sem fiscais para liberar o certificado exigido para a venda dos produtos, eles não podiam entrar no país. Para não deixar os cabides pelados, a loja levou seu estoque às prateleiras. Mesmo num país como o Brasil, onde as médias de temperatura estão longe de convidar ao uso de roupas quentes, os casacos têm seu público. "A pele ainda é um símbolo de luxo", diz a consultora Gloria Kalil. "Hoje os animais são criados para o uso da pele e se respeitam regras para a produção. Não há mais mortes cruéis. É como criar uma vaca ou galinha: você mata para consumo."

 

A maior parte das consumidoras, afirmam representantes de grandes grifes, compram e usam seus casacos de pele no exterior. Assim, as lojas oferecem poucos produtos -e caros. As irmãs Renata e Fernanda Boghosian, que representam Versace e Cavalli no Brasil, por exemplo, trazem no máximo duas peças por ano ao país. E elas podem custar até R$ 30 mil. O modelo de pele de raposa da marca italiana Monica Rindi está à venda por R$ 18.980 na Daslu. A jaqueta Matthew Williamson de pele preta de coelho custa R$ 4.480. O casaco de pele de coelho da Mixed sai por R$ 6.750,00. O casaco da Pollignanno Al'Mare, de pele de ovelha com gola de raposa, custa R$ 3.300.
 

"Nossos clientes são super AA. Estão sempre indo para a Europa e EUA. É quando usam as peles", diz Fernanda Kujawski, gerente de marketing da grife. A maior parte dos casacos não entra nas liqüidações do mês de julho. Uma das raras exceções ocorre nas araras da Mixed, que trouxe 70 peças da Itália. A loja está em liquidação progressiva e quem comprar quatro peças pode ter desconto de até 50%.
 

Nada parecido com o que acontece nos EUA ou em países europeus, onde um casaco de marta custa U$ 150 mil. Nos anos 90, um casaco feito com pele de barriga de lince russa foi vendido por U$ 250 mil, registra o site Furs.com. De acordo com a International Fur Trade Federation, que reúne produtores e distribuidores de peles, há oito anos o setor cresce: os consumidores levaram para seus armários U$ 13,49 bilhões em peles em 2006 -em 2000, foram U$ 9 bilhões.
 

Segundo organizações de proteção aos animais, para a confecção de um casaco de pele de marta são mortos de 40 a 60 animais. Para um casaco de pele de chinchila são sacrificados até 200 bichos da espécie. A organização ambiental PETA e a estilista Stella McCartney, que combate o uso de peles na moda, comandará no dia 12 o primeiro protesto virtual contra o produto, dentro do jogo Second Life. Mas, mesmo com os protestos dos ambientalistas, de ampla repercussão, dificilmente uma grande marca não exibe peles em suas criações.
Burberry, Cavalli, Marc Jacobs, Michael Kors, Julien Macdonald, Prada e Louis Vuitton são exemplos. No ano passado, Jean Paul Gaultier colocou na passarela uma modelo com um casaco com diversas cabeças de raposa penduradas.
 

No Brasil, poucas usuárias de pele se animam a falar sobre o assunto, alegando temer a "represália" de ambientalistas. No ano passado, a atriz Íris Bruzzi se viu no centro do furacão ao dizer que não estava "nem aí se mataram o bichinho". "Tive tanto aborrecimento que vendi meus dois casacos para uma amiga americana", diz. A socialite Beth Szafir é exceção. "No Brasil, uso no máximo xale com pele na gola. Tenho um casaco Dior maravilhoso, mas só uso para viajar", diz. "Ninguém dá muita bola [para os ambientalistas]. Todo mundo usa."
 

Geraldo Spozel, do Rio, é especialista na recuperação de peles e diz que navega na moda, reformando até 50 peças por mês. "As netas redescobriram os casacos de suas avós", diz. "Um casaco comprido vira um casaco curto, estola e ainda sobra pele para gola e punho", explica. O empresário gastou R$ 40 mil para construir uma câmara frigorífica onde guarda até 60 casacos. "A cliente me diz o destino da viagem. Vou deixando o casaco na temperatura ideal para o lugar de destino. Parece luxo, mas não é. Conservada no frio, a pele fica com um brilho especial. Se nossa pele, que é viva, sofre com mudanças de temperatura, imagine as peles mortas."
 

Uma opção menos polêmica são as peles artificiais. "Hoje em dia, elas são iguais às naturais", diz a empresária Beth Arbaitman. "Pele está super na moda, mas estraga, suja e é cara para caramba. As artificiais você usa à vontade, são mais baratas. E o efeito é super parecido. Até a Dior já tem pele artificial. Valentino também."


Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta
Próximo Texto: Na casa do Gordo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.