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Edifícios "reais" inspiram cenário de "Paraíso Tropical"
Copacabana mostrada pela novela da Globo tem hotel, prédios, albergue e calçadas equivalentes no bairro carioca
Duvivier reproduz fachada de hotel cinco estrelas do bairro, enquanto Copamar tem edifício art déco como maior referência de estilo
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Se Margarete Ausier trabalhasse no hotel Duvivier, não
deixaria que os funcionários
batessem tanto papo no lobby,
em vez de cuidar dos hóspedes.
Ela é a gerente de hospedagem
do hotel Pestana Rio Atlântica,
um dos lugares reais de Copacabana (zona sul do Rio) que
inspiraram os cenários fictícios
da novela "Paraíso Tropical",
da TV Globo. O edifício Copamar também "existe", assim
como as calçadas em que Bebel
(Camila Pitanga) desfila sua
"catiguria".
"Todos nós, os sete redatores
da novela, conhecemos muito
bem Copacabana. Criar a partir
de lugares reais ajuda muito",
diz Gilberto Braga.
Há 20 anos no ramo, Ausier,
43, acha Gustavo (Marco Ricca)
um tanto frouxo na gerência.
Mas entende que são as liberdades da ficção.
"Você não vê ninguém atendendo a hóspedes na novela.
Parece que todos ficam nos gabinetes falando da vida pessoal", diz.
Para ela, seu superior, o gerente geral Gláucio Olchenski,
é "50% Olavo [Wagner Moura],
50% Daniel [Fábio Assunção]".
"Até porque o Daniel não existe
na vida real", ressalta, espantada com tanta bondade.
Olchenski, 40, fica feliz de
não ser 100% vilão, mas indica
que não dá para ser muito mocinho no seu posto.
"A gente costuma dizer que
hotelaria, Igreja [Católica] e
Exército duram porque têm
uma hierarquia rígida", diz ele,
22 anos de profissão.
Cenas no hotel real
A fachada do Duvivier é uma
réplica feita no Projac (central
de estúdios da Globo) da do
Pestana. Mas muitas cenas já
foram gravadas no lobby e na
frente do hotel -inclusive o
atropelamento de Taís (Alessandra Negrini lado mau). E gerentes atuaram como consultores, explicando, por exemplo,
como funciona o serviço de
praia que era feito por Ivan
(Bruno Gagliasso).
"Mas aqui ninguém rouba as
pessoas. Eu espero", brinca Olchenski, referindo-se aos delitos de Ivan.
De 1989, quando foi criado
como Rio Atlântica, a 1999,
quando foi comprado pelo grupo português Pestana, o hotel
cinco estrelas (diárias entre R$
410 e R$ 1.030) pertenceu à família Marinho, dona das Organizações Globo. O verdadeiro
Antenor Cavalcanti (Tony Ramos), Dionísio Pestana, vive
em Portugal, mas há um gerente geral da América do Sul que
trabalha no Rio.
Ao contrário do Duvivier, no
Pestana a joalheria é terceirizada e o restaurante pertence ao
hotel -o Frigideira real se chama Cais da Ribeira.
Por causa de "Paraíso Tropical", há turistas de outros Estados que tiram fotos diante do
hotel e, também, em frente ao
edifício Guahy, cuja fachada art
déco -tombada pelo patrimônio municipal- serviu como
referência para a do Copamar e
ainda aparece como ela própria
em algumas cenas.
Gilberto Braga não apontou
nenhum prédio como inspiração. Mas a direção e os cenógrafos acharam no Guahy elementos que se casavam com os do
Copamar: prédio tradicional,
de um estilo arquitetônico em
desuso, e situado numa esquina
(rua Ronald de Carvalho com
Ministro Viveiros de Castro)
em que convivem a Copacabana dos idosos com a Copacabana das prostitutas.
Relação familiar
No edifício erguido em 1932,
há 15 apartamentos com três
quartos cada, quase todos ocupados pelas mesmas famílias
desde 1995. Elas compraram do
empresário que fizera uma
grande reforma para abrir um
hotel, mas que desistiu em função de obstáculos judiciais.
"A relação entre os moradores é bem familiar. Não implico
com ninguém, trato todos como amigos", garante a advogada Nete Doro, 47, síndica há
quatro anos, querendo se diferenciar da rabugenta Iracema
(Daisy Lucidi). Segundo ela, o
porteiro Antônio de Souza, 38,
"também é pacífico", referindo-se ao nome do personagem
de Nildo Parente.
Ex-síndica, a artista plástica
Norma Barbutti, 64, diz algo
que não combina com o Copamar: "Aqui, ninguém se preocupa com a vida dos outros".
A estudante de letras Carolina Barreto, 24, conta que, no
início da adolescência, não gostava de morar no Guahy por
achar o prédio "sombrio, meio
"Corcunda de Notre Dame'",
mas hoje o considera lindo.
Seus vizinhos fictícios preferidos são Tiago (Sergio Abreu) e
Rodrigo (Carlos Casagrande).
"É ótimo o casal gay ser o
mais estável. Copacabana tem
muitos gays. Aliás, Copacabana
tem de tudo: do senhor de 70
anos até a Bebel. Não dá para
ter depressão aqui. Se souber
olhar, é muito divertido."
Albergue
Segundo Gilberto Braga, foram pesquisados os albergues
de Copacabana para se compor
o de Paula (Alessandra Negrini
lado bom) e Lúcia (Glória Pires). Mas não há um equivalente exato.
O mais badalado do momento é o Stone of a Beach, cuidado
por uma brasileira e um neozelandês que não vêem "Paraíso
Tropical". Em 2005, o casal reformou e coloriu um casarão
abandonado na rua Barata Ribeiro, abrindo na garagem um
movimentado bar -algo que
não tem o da novela.
"O bar é o coração de um albergue", diz Michele Coddington, 27, que administra 99 camas, ocupadas principalmente
por estrangeiros.
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