São Paulo, domingo, 08 de julho de 2007

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Edifícios "reais" inspiram cenário de "Paraíso Tropical"

Copacabana mostrada pela novela da Globo tem hotel, prédios, albergue e calçadas equivalentes no bairro carioca

Duvivier reproduz fachada de hotel cinco estrelas do bairro, enquanto Copamar tem edifício art déco como maior referência de estilo

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Se Margarete Ausier trabalhasse no hotel Duvivier, não deixaria que os funcionários batessem tanto papo no lobby, em vez de cuidar dos hóspedes. Ela é a gerente de hospedagem do hotel Pestana Rio Atlântica, um dos lugares reais de Copacabana (zona sul do Rio) que inspiraram os cenários fictícios da novela "Paraíso Tropical", da TV Globo. O edifício Copamar também "existe", assim como as calçadas em que Bebel (Camila Pitanga) desfila sua "catiguria".
"Todos nós, os sete redatores da novela, conhecemos muito bem Copacabana. Criar a partir de lugares reais ajuda muito", diz Gilberto Braga.
Há 20 anos no ramo, Ausier, 43, acha Gustavo (Marco Ricca) um tanto frouxo na gerência. Mas entende que são as liberdades da ficção.
"Você não vê ninguém atendendo a hóspedes na novela. Parece que todos ficam nos gabinetes falando da vida pessoal", diz.
Para ela, seu superior, o gerente geral Gláucio Olchenski, é "50% Olavo [Wagner Moura], 50% Daniel [Fábio Assunção]". "Até porque o Daniel não existe na vida real", ressalta, espantada com tanta bondade.
Olchenski, 40, fica feliz de não ser 100% vilão, mas indica que não dá para ser muito mocinho no seu posto.
"A gente costuma dizer que hotelaria, Igreja [Católica] e Exército duram porque têm uma hierarquia rígida", diz ele, 22 anos de profissão.

Cenas no hotel real
A fachada do Duvivier é uma réplica feita no Projac (central de estúdios da Globo) da do Pestana. Mas muitas cenas já foram gravadas no lobby e na frente do hotel -inclusive o atropelamento de Taís (Alessandra Negrini lado mau). E gerentes atuaram como consultores, explicando, por exemplo, como funciona o serviço de praia que era feito por Ivan (Bruno Gagliasso).
"Mas aqui ninguém rouba as pessoas. Eu espero", brinca Olchenski, referindo-se aos delitos de Ivan.
De 1989, quando foi criado como Rio Atlântica, a 1999, quando foi comprado pelo grupo português Pestana, o hotel cinco estrelas (diárias entre R$ 410 e R$ 1.030) pertenceu à família Marinho, dona das Organizações Globo. O verdadeiro Antenor Cavalcanti (Tony Ramos), Dionísio Pestana, vive em Portugal, mas há um gerente geral da América do Sul que trabalha no Rio.
Ao contrário do Duvivier, no Pestana a joalheria é terceirizada e o restaurante pertence ao hotel -o Frigideira real se chama Cais da Ribeira.
Por causa de "Paraíso Tropical", há turistas de outros Estados que tiram fotos diante do hotel e, também, em frente ao edifício Guahy, cuja fachada art déco -tombada pelo patrimônio municipal- serviu como referência para a do Copamar e ainda aparece como ela própria em algumas cenas.
Gilberto Braga não apontou nenhum prédio como inspiração. Mas a direção e os cenógrafos acharam no Guahy elementos que se casavam com os do Copamar: prédio tradicional, de um estilo arquitetônico em desuso, e situado numa esquina (rua Ronald de Carvalho com Ministro Viveiros de Castro) em que convivem a Copacabana dos idosos com a Copacabana das prostitutas.

Relação familiar
No edifício erguido em 1932, há 15 apartamentos com três quartos cada, quase todos ocupados pelas mesmas famílias desde 1995. Elas compraram do empresário que fizera uma grande reforma para abrir um hotel, mas que desistiu em função de obstáculos judiciais.
"A relação entre os moradores é bem familiar. Não implico com ninguém, trato todos como amigos", garante a advogada Nete Doro, 47, síndica há quatro anos, querendo se diferenciar da rabugenta Iracema (Daisy Lucidi). Segundo ela, o porteiro Antônio de Souza, 38, "também é pacífico", referindo-se ao nome do personagem de Nildo Parente.
Ex-síndica, a artista plástica Norma Barbutti, 64, diz algo que não combina com o Copamar: "Aqui, ninguém se preocupa com a vida dos outros".
A estudante de letras Carolina Barreto, 24, conta que, no início da adolescência, não gostava de morar no Guahy por achar o prédio "sombrio, meio "Corcunda de Notre Dame'", mas hoje o considera lindo. Seus vizinhos fictícios preferidos são Tiago (Sergio Abreu) e Rodrigo (Carlos Casagrande).
"É ótimo o casal gay ser o mais estável. Copacabana tem muitos gays. Aliás, Copacabana tem de tudo: do senhor de 70 anos até a Bebel. Não dá para ter depressão aqui. Se souber olhar, é muito divertido."

Albergue
Segundo Gilberto Braga, foram pesquisados os albergues de Copacabana para se compor o de Paula (Alessandra Negrini lado bom) e Lúcia (Glória Pires). Mas não há um equivalente exato.
O mais badalado do momento é o Stone of a Beach, cuidado por uma brasileira e um neozelandês que não vêem "Paraíso Tropical". Em 2005, o casal reformou e coloriu um casarão abandonado na rua Barata Ribeiro, abrindo na garagem um movimentado bar -algo que não tem o da novela.
"O bar é o coração de um albergue", diz Michele Coddington, 27, que administra 99 camas, ocupadas principalmente por estrangeiros.


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