São Paulo, quarta, 8 de julho de 1998

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ARTES PLÁSTICAS
Arruda quer organizar seu mundo

Evelson de Freitas/Folha Imagem
Victor Arruda em frente a tela de sua autoria


CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

No alto, reina o caos. Embaixo, busca-se a ordem. Em linhas gerais, são essas as premissas que norteiam as duas mostras que a galeria Camargo Vilaça inaugura hoje, às 20h.
No alto, isto é, no mezanino, está a individual do mexicano Cisco Jimenez. Embaixo, em seu espaço principal, a galeria exibe a produção recente de Victor Arruda.
Mato-grossense radicado no Rio, Arruda quer satisfazer um desejo. Depois de produzir, nos anos 70 e 80, uma pintura expressionista, de alto teor erótico e político (uma produção que incomoda ainda hoje, já que teve sua exibição vetada pelo Centro Cultural Light, no Rio), quer hoje encontrar seu lugar e o lugar de sua pintura.
"Dei uma limpada em mim mesmo. Estou mais maduro e tranquilo, e a pintura reflete isso. É um processo de organização meu que está vindo à tona", disse.
Mas ele ainda não tem o que quer e, por isso, vaga, até chegar à beira de seus abismos.
Na tela "Pollockiana", por exemplo, um personagem que é seu alter ego tenta ver o outro (seu espelho), mas é impedido por uma galáxia de cores que remete a uma tela de Polllock.
O pintor expressionista abstrato funciona como paradigma do tormento de Arruda. Pollock é o maior representante do expressionismo abstrato, que questionou a pintura figurativa no pós-guerra.
A pintura de Arruda sempre foi figurativa e narrativa e se liga à tradição popular brasileira. Seus personagens lembram ex-votos, personagens de cordel e os desenhos eróticos de Carlos Zéfiro, mas o que prevalece é seu discurso: pessoal, íntimo e de ordem sexual.
Caos
Subindo no mezanino, fica difícil saber para onde olhar primeiro, tamanha a overdose de imagens presentes nos trabalhos de Cisco Jimenez, jovem revelação da arte contemporânea mexicana.
Jimenez apresenta uma série de trabalhos em que retoma a herança da cultura mexicana, mas com uma conotação perversa, como no velho controle remoto que ele "adaptou" para as mais bizarras fantasias sexuais.
Com um procedimento dadaísta, retira objetos do cotidiano e os carrega com novas possibilidades, geralmente ligadas à sexualidade. "Vejo o mundo sob uma perspectiva mais sinistra e a sexualidade de um lado mais obscuro. Quero trazer o sujo e o grotesco do cotidiano para um contexto mais sofisticado", disse.


Mostras: individuais de Victor Arruda (Brasil) e Cisco Jimenez (México) Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 011/210-7390) Vernissage: hoje, às 20h Quando: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h Quanto: de R$ 5.000 a R$ 8.000 (pinturas de Victor Arruda) e de R$ 1.000 a R$ 6.000 (pinturas e instalação de Cisco Jimenez)


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