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LIVROS/LANÇAMENTOS
LITERATURA
"O Indigitado", novo romance do escritor, é o primeiro título da coleção "Cinco Dedos de Prosa", da Objetiva
Falta do indicador inspira livro de Cony
MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA
Carlos Heitor Cony é o primeiro
a publicar na coleção temática da
editora Objetiva "Cinco Dedos de
Prosa", em que mais quatro escritores escreverão inspirados num
dedo da mão: Fernanda Young
(dedo médio), Mário Prata (dedo
mindinho), Manoel Carlos (dedo
anular) e Luis Fernando Verissimo (polegar).
"O Indigitado" é o nome de seu
novo romance. O indicador é o
dedo que ilustra a trama. Ou melhor, é a falta dele.
"Dois garotos são trocados.
Tempos depois, a mãe de um deles resolve contar a verdade, que
ele não é seu filho, que existe um
outro, educado por ciganos, que
não tem o dedo indicador. Então
ele passa a procurar o outro com
essa indicação", explica.
Cony já tinha a história pairando ao redor, quando foi o último
autor a ser convidado por Isa Pessôa, diretora editorial da Objetiva,
a participar da coleção.
A idéia baseia-se numa crônica
publicada na Ilustrada, em que
Cony afirmava que havia sido trocado por ciganos.
Era uma ficção que repercutiu e
atordoou muitos leitores que pensaram ser verdade.
"Hoje em dia, não se vêem ciganos nas cidades como antigamente. Os pais sempre nos alertavam
do perigo de sermos roubados
por eles. Era um mito. Os ciganos
estavam na nossa cabeça desde
cedo. Então resolvi escrever um
romance sobre duas crianças trocadas."
Cony já escreveu sob encomenda. "Romance sem Palavras", de
2000, foi escrito a pedido da editora Companhia das Letras, para ser
incluído nos lançamentos da Bienal do Livro.
Ele lembra também que a editora Civilização Brasileira, à época
de Ênio Silveira, fez dois volumes
de contos temáticos: um sobre os
dez mandamentos e o outro sobre
os sete pecados.
Ele participou de ambos os volumes, acompanhado por Guimarães Rosa, Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles e outros.
"Eu fiz um conto sobre o primeiro mandamento, que é o mais
difícil, amar Deus sobre todas as
coisas, seja lá o que isso signifique.
É um trabalho profissional, que a
gente recebe para fazer, como um
médico", diz.
"Eu tinha um primo que adorava operar vesícula e detestava
operar apêndice, mas ele nunca se
negava a fazer o apêndice. Como
o Michelangelo, que pintou a Sixtina por encomenda", afirma.
Em relação a "O Indigitado", ele
diz: "É um romance que me agradou, pois tem um desdobramento
dramático e cômico".
"Uma pessoa sem um dedo adquire uma força muito grande nas
mãos. É a compensação da natureza. O meu personagem chega a
estrangular uma mulher. Conheci
na infância um sujeito que não tinha um dedo e era fortíssimo",
completa.
Cony, que ganhou os prêmios
Jabuti, Nestlé e Machado de Assis,
é uma máquina que não pára.
Além das colunas na Folha e de
um programa de rádio, ele vem
publicando "Quase Memória"
(1995), "O Piano e a Orquestra"
(1996), "A Casa do Poeta Trágico"
(1997) e republicando romances
que estavam fora de catálogo, como o de estréia, "O Ventre"
(1958), e "Matéria de Memória"
(1962).
Escreveu "Romance sem Palavras" em menos de duas semanas
e, agora, dois livros ao mesmo
tempo: "O Indigitado" foi escrito
simultaneamente com o romance
"A Tarde de Sua Ausência", que a
Companhia das Letras lança em
outubro -uma história romântica de uma família que perde tudo.
Segundo ele, "com o computador, fica fácil escrever dois livros
ao mesmo tempo".
Na sequência, será publicado na
coleção "Cinco Dedos de Prosa" o
livro de Fernanda Young, "Efeito
Urano", em outubro. O título se
refere a um lapso matemático relacionado à astrologia.
"Lapso que justifica uma temporada em que uma pessoa pode
fazer uma merda muito grande,
estragar a vida de um monte de
gente, em 28 dias", disse Young.
Prata lança em dezembro "Buscando o Mindinho", livro que se
utiliza do formato da internet para servir a histórias reais.
O INDIGITADO.
De: Carlos Heitor Cony.
Editora Objetiva. Coleção "Cinco Dedos
de Prosa".
Quanto: R$ 22,90 (182 págs.).
A partir de sexta-feira nas livrarias.
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