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São Paulo, sexta-feira, 08 de agosto de 2003

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CRÍTICA

Herbert abre nova trilha na fusão do jazz com eletrônica

GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao voltar seu olhar para o som das big bands, Matthew Herbert abre uma nova frente de exploração na música eletrônica. Tão distante da mistura radical de free jazz e eletrônica presente nos últimos discos do Spring Heel Jack e do DJ Spooky quanto das fusões de jazz moderno com house ou hip hop, feitas pelo Saint Germain ou pelo Rubin Steiner, "Goodbye Swingtime" tem a vantagem de ter a canção, subvertida pela eletrônica, como matéria-prima.
A visão de Herbert das big bands, contudo, se apóia menos no swing de Count Basie e Benny Goodman e se aproxima das orquestrações intrincadas de Gil Evans. Mais do que uma banda, sua big band formada por quatro trompetes, quatro trombones, quatro saxofones, piano, baixo e bateria funciona como uma orquestra, trabalhando tensões e dinâmicas mais presentes no jazz dos anos 50 e 60 do que no swing dos anos 30 e 40.
Embora formalmente rigoroso -o álbum segue os princípios do manifesto PCCOM (Contrato Pessoal para a Composição de Música, na sigla em inglês), que não admite o uso de samples de músicas preexistentes e de baterias eletrônicas-, "Goodbye Swingtime" não é um experimento frio de laboratório. Muito graças aos arranjos escritos do maestro Peter Wraight, que conduz a banda para que Herbert possa desconstruir e reorganizar o som dela em tempo real.
Isso fica claro na instrumental "Fuming Pages", que abre o disco. Ouvidos menos treinados mal percebem as intervenções sutis de Herbert. Mas, conforme o álbum prossegue, o processo de edição em tempo real ganha mais dramaticidade, e a música se desenha em formas mais abstratas, como é o caso de "Misprints", cantada por Jamie Lidell, do duo de eletrônica Super Collider. O swing mais próximo do tradicional aparece uma vez só, em "The Battle", e a desconstrução mais radical ocorre na ligeira "Misprints".
As participações dão um tom especial a "Goodbye Swingtime". Principalmente a de Arto Lindsay, em "Friction", e da mulher de Herbert, Dani Sicliano, no standard futurista "Simple Mind".
O outro destaque são as letras políticas, que lembram as do jazz político dos anos 70, mas são atualizadas para o mundo de George W. Bush, Tony Blair e Noam Chomsky, visto, obviamente, da perspectiva do último.


Matthew Herbert Big Band    
Disco: Goodbye Swingtime
Gravadora: Accidental Records (importado)
Preço: R$ 70, em média



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