|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA
Herbert abre nova trilha na fusão do jazz com eletrônica
GUILHERME WERNECK
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao voltar seu olhar para o som
das big bands, Matthew Herbert abre uma nova frente de exploração na música eletrônica.
Tão distante da mistura radical de
free jazz e eletrônica presente nos
últimos discos do Spring Heel
Jack e do DJ Spooky quanto das
fusões de jazz moderno com house ou hip hop, feitas pelo Saint
Germain ou pelo Rubin Steiner,
"Goodbye Swingtime" tem a vantagem de ter a canção, subvertida
pela eletrônica, como matéria-prima.
A visão de Herbert das big
bands, contudo, se apóia menos
no swing de Count Basie e Benny
Goodman e se aproxima das orquestrações intrincadas de Gil
Evans. Mais do que uma banda,
sua big band formada por quatro
trompetes, quatro trombones,
quatro saxofones, piano, baixo e
bateria funciona como uma orquestra, trabalhando tensões e dinâmicas mais presentes no jazz
dos anos 50 e 60 do que no swing
dos anos 30 e 40.
Embora formalmente rigoroso
-o álbum segue os princípios do
manifesto PCCOM (Contrato
Pessoal para a Composição de
Música, na sigla em inglês), que
não admite o uso de samples de
músicas preexistentes e de baterias eletrônicas-, "Goodbye
Swingtime" não é um experimento frio de laboratório. Muito graças aos arranjos escritos do maestro Peter Wraight, que conduz a
banda para que Herbert possa
desconstruir e reorganizar o som
dela em tempo real.
Isso fica claro na instrumental
"Fuming Pages", que abre o disco.
Ouvidos menos treinados mal
percebem as intervenções sutis de
Herbert. Mas, conforme o álbum
prossegue, o processo de edição
em tempo real ganha mais dramaticidade, e a música se desenha
em formas mais abstratas, como é
o caso de "Misprints", cantada
por Jamie Lidell, do duo de eletrônica Super Collider. O swing mais
próximo do tradicional aparece
uma vez só, em "The Battle", e a
desconstrução mais radical ocorre na ligeira "Misprints".
As participações dão um tom
especial a "Goodbye Swingtime".
Principalmente a de Arto Lindsay, em "Friction", e da mulher de
Herbert, Dani Sicliano, no standard futurista "Simple Mind".
O outro destaque são as letras
políticas, que lembram as do jazz
político dos anos 70, mas são
atualizadas para o mundo de
George W. Bush, Tony Blair e
Noam Chomsky, visto, obviamente, da perspectiva do último.
Matthew Herbert Big Band
Disco: Goodbye Swingtime
Gravadora: Accidental Records
(importado)
Preço: R$ 70, em média
Texto Anterior: Saiba mais: Compositor tem colaborações com cantora Björk Próximo Texto: Carlos Heitor Cony: O casamento de homossexuais e o batismo Índice
|