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Crítica
Bertolucci explicita abismo entre cineastas
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
O cinema tem simpatias. As
minhas nunca foram para o lado de Bernardo Bertolucci e, de
certa forma, "O Conformista"
(TC Cult, 19h55) sempre me
deixou gelado.
É como se a estranha aventura de Marcello Clerici (Jean-Louis Trintignant), o conformista do título, fosse abafada
sob tanta estética. Outro dia,
peguei na TV, por acaso, o final
do filme. No ponto em que estava, a estranha aventura não
interessava mais nada. Interessava, sim, a beleza de cada cena,
de cada gesto, das luzes e dos
movimentos.
O filme versa sobre um fascista, mais por preguiça ou fraqueza. Antes de tudo um acomodado, a quem é dada a tarefa
de vigiar um professor, o homem que foi seu mentor.
O que impressiona nisso tudo? A percepção, imediata, do
abismo que existe entre um cineasta de primeira linha, simpático ou não a cada um de nós,
e os talentos medianos, medíocres ou nulos que ocupam a TV
(para não falar nos cinemas).
Esse abismo que a TV permite
ver de cara é o que importa.
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