São Paulo, sábado, 8 de agosto de 1998

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CINEMA
Na 26ª edição do festival gaúcho, que começa hoje, quatro longas nacionais competem com dez latinos
Gramado troca o glamour pelo mercado

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

O Festival de Gramado do Cinema Latino e Brasileiro abre hoje sua 26ª edição de olho no mercado.
O evento que, em suas várias fases, já foi sinônimo de glamour, de resistência ao regime militar, de turismo invernal e de confraternização latino-americana, pretende agora servir de alavanca para o lançamento comercial dos filmes que apresenta.
Um dos reflexos dessa mudança de enfoque, de acordo com o coordenador-geral do festival, Esdras Rubin, é a volta da competição unificada de longas-metragens brasileiros e latinos, que nos últimos anos participaram de disputas separadas.
"O mercado está muito desarrumado tanto para o filme latino como para o filme brasileiro. A idéia é integrar os dois como produtos similares e tentar colocá-los em bloco no mercado", diz Rubin.
O festival promoverá o Primeiro Encontro de Exibidores Gaúchos "para tentar um lançamento comercial, na região Sul, de três ou quatro filmes brasileiros e latinos a partir do festival".
Este ano, quatro longas brasileiros (leia ao lado) concorrem com dez estrangeiros, vindos da Argentina (dois), Cuba (dois), México, Venezuela, Uruguai, Chile, Espanha e Portugal.
O conceito de "latino" do festival restringe-se hoje aos países ibéricos e ibero-americanos, deixando de lado as produções francesas e italianas presentes em edições passadas.
"A produção da França e da Itália, apesar da crise, está consolidada, e conta com um nível de investimento muito maior que a dos outros países latinos", justifica Rubin, 55, um capixaba de Vitória que chegou a Gramado há 28 anos e já dirigiu 12 vezes o festival, em três períodos distintos.
Além dos longas, competirão em Gramado 20 curtas-metragens e dois médias (todos brasileiros), divididos nas categorias 35 e 16 milímetros.
Shire e Nelson Pereira
Outra mudança de rumos do festival, iniciada no ano passado, é a redução do número de astros televisivos e hollywoodianos convidados, que ajudavam a atrair a Gramado a classe média de Porto Alegre, mas encareciam e, para muitos, descaracterizavam o evento.
Por opção programática e falta de dinheiro, este ano os convidados serão poucos -e todos ligados aos filmes em exibição.
A única estrela internacional esperada é a norte-americana Talia Shire (de "O Poderoso Chefão" e "Rocky"), que atua em "Um Sonho no Caroço do Abacate", um dos longas-metragens nacionais em competição.
Entre os astros brasileiros, estarão em Gramado Lima Duarte -que protagoniza o longa português "O Rio do Ouro" e o curta brasileiro "Novembrada"- e Paulo Betti, que estrela "O Toque do Oboé".
Mas o grande homenageado do festival será o cineasta Nelson Pereira dos Santos, que está completando 70 anos e receberá o troféu Oscarito, oferecido anualmente pelo Banco do Brasil a personalidades que marcaram a história do cinema brasileiro.
Pré-estréias
Outra novidade, este ano, é a mostra "Première Gramado", que exibirá em primeira mão no Brasil filmes estrangeiros de impacto, como "Carne Trêmula", de Pedro Almodóvar, "O Show da Vida", de Peter Weir, "Os Miseráveis", de Bille August, e "O Ouro de Ulysses", de Victor Nunez.
"A idéia é que essas sessões de filmes que já têm lançamento previsto no país possam servir de estímulo extra ao público, à imprensa e até aos exibidores que vão a Gramado", diz Esdras Rubin.
A intenção é deslocar para o Sul, pelo menos simbolicamente e pelo prazo de uma semana, o foco do mercado exibidor, sempre voltado ao eixo Rio-São Paulo.
O Festival de Gramado, que é promovido pela prefeitura da cidade e pelo governo do Rio Grande do Sul, realizará também um encontro do meio cinematográfico com o secretário do audiovisual, Moacir de Oliveira, para fazer um balanço dos cinco primeiros anos da lei do audiovisual.



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