|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CINEMA
Na 26ª edição do festival gaúcho, que começa hoje, quatro longas nacionais competem com dez latinos
Gramado troca o glamour pelo mercado
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
O Festival de Gramado do Cinema Latino e Brasileiro abre hoje
sua 26ª edição de olho no mercado.
O evento que, em suas várias fases, já foi sinônimo de glamour, de
resistência ao regime militar, de
turismo invernal e de confraternização latino-americana, pretende
agora servir de alavanca para o
lançamento comercial dos filmes
que apresenta.
Um dos reflexos dessa mudança
de enfoque, de acordo com o
coordenador-geral do festival, Esdras Rubin, é a volta da competição unificada de longas-metragens brasileiros e latinos, que nos
últimos anos participaram de disputas separadas.
"O mercado está muito desarrumado tanto para o filme latino
como para o filme brasileiro. A
idéia é integrar os dois como produtos similares e tentar colocá-los
em bloco no mercado", diz Rubin.
O festival promoverá o Primeiro
Encontro de Exibidores Gaúchos
"para tentar um lançamento comercial, na região Sul, de três ou
quatro filmes brasileiros e latinos
a partir do festival".
Este ano, quatro longas brasileiros (leia ao lado) concorrem com
dez estrangeiros, vindos da Argentina (dois), Cuba (dois), México,
Venezuela, Uruguai, Chile, Espanha e Portugal.
O conceito de "latino" do festival restringe-se hoje aos países
ibéricos e ibero-americanos, deixando de lado as produções francesas e italianas presentes em edições passadas.
"A produção da França e da Itália, apesar da crise, está consolidada, e conta com um nível de investimento muito maior que a dos
outros países latinos", justifica
Rubin, 55, um capixaba de Vitória
que chegou a Gramado há 28 anos
e já dirigiu 12 vezes o festival, em
três períodos distintos.
Além dos longas, competirão em
Gramado 20 curtas-metragens e
dois médias (todos brasileiros),
divididos nas categorias 35 e 16
milímetros.
Shire e Nelson Pereira
Outra mudança de rumos do festival, iniciada no ano passado, é a
redução do número de astros televisivos e hollywoodianos convidados, que ajudavam a atrair a Gramado a classe média de Porto Alegre, mas encareciam e, para muitos, descaracterizavam o evento.
Por opção programática e falta
de dinheiro, este ano os convidados serão poucos -e todos ligados aos filmes em exibição.
A única estrela internacional esperada é a norte-americana Talia
Shire (de "O Poderoso Chefão" e
"Rocky"), que atua em "Um Sonho no Caroço do Abacate", um
dos longas-metragens nacionais
em competição.
Entre os astros brasileiros, estarão em Gramado Lima Duarte
-que protagoniza o longa português "O Rio do Ouro" e o curta
brasileiro "Novembrada"- e
Paulo Betti, que estrela "O Toque
do Oboé".
Mas o grande homenageado do
festival será o cineasta Nelson Pereira dos Santos, que está completando 70 anos e receberá o troféu
Oscarito, oferecido anualmente
pelo Banco do Brasil a personalidades que marcaram a história do
cinema brasileiro.
Pré-estréias
Outra novidade, este ano, é a
mostra "Première Gramado",
que exibirá em primeira mão no
Brasil filmes estrangeiros de impacto, como "Carne Trêmula",
de Pedro Almodóvar, "O Show da
Vida", de Peter Weir, "Os Miseráveis", de Bille August, e "O Ouro
de Ulysses", de Victor Nunez.
"A idéia é que essas sessões de
filmes que já têm lançamento previsto no país possam servir de estímulo extra ao público, à imprensa
e até aos exibidores que vão a Gramado", diz Esdras Rubin.
A intenção é deslocar para o Sul,
pelo menos simbolicamente e pelo
prazo de uma semana, o foco do
mercado exibidor, sempre voltado
ao eixo Rio-São Paulo.
O Festival de Gramado, que é
promovido pela prefeitura da cidade e pelo governo do Rio Grande do Sul, realizará também um
encontro do meio cinematográfico com o secretário do audiovisual, Moacir de Oliveira, para fazer um balanço dos cinco primeiros anos da lei do audiovisual.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|