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Cultura Artística compila seus 85 anos
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Foram 1.438 apresentações ou
"saraus", como são chamados,
em 85 anos. A Sociedade de Cultura Artística encomendou, e o escritor e jornalista Ivan Angelo lança semana que vem, em São Paulo,
a história de uma das instituições
culturais da cidade.
O livro parte dos primeiros projetos, na redação do jornal "O Estado de S. Paulo", passa pelo primeiro sarau, em 26 de setembro de
1912, e segue a história com personagens como Mario de Andrade e
Arthur Rubinstein, Nestor Pestana e Alfredo Mesquita.
O lançamento será no Museu
Brasileiro da Escultura (av. Europa, 218), para convidados. A seguir, entrevista com o autor.
Folha - O que lhe interessou, na
história da Sociedade de Cultura
Artística?
Ivan Angelo - A minha intenção, assim que tomei conhecimento da história, foi tornar a Sociedade de Cultura Artística uma personagem, com altos e baixos. Enfim,
com certa dramaticidade. Também procurei fazer com que coincidisse com a história da cidade e
com os acontecimentos mundiais
mais importantes. As duas guerras, a revolução de São Paulo, coisas que preocupavam os homens
que estavam na Cultura Artística.
Folha - Você descreve, a certa altura, a Cultura Artística como uma
"sociedade artística de elite".
Angelo - A expressão elite aí
não é pejorativa. É uma elite como
foi, por exemplo, o pessoal que fez
o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), a Bienal. Era uma elite com
um compromisso com a sociedade, com o aprimoramento do
equipamento técnico e artístico da
cidade. Enfim, era uma elite que
queria fazer São Paulo sair de um
certo marasmo artístico que eles
viam na época, em 1912.
Folha - Um dos relatos interessantes do livro é o das relações de
conflito e aproximação entre a
Cultura Artística e os modernistas.
Angelo - Em São Paulo, na época, era natural que as pessoas que
lidassem com arte tivessem algum
relacionamento. Você vê a presença de Mario de Andrade na Cultura
Artística desde o início. Já o Oswald de Andrade nunca esteve.
Mas eles tinham, enfim, uma espécie de convivência. Não havia tanta
gente em São Paulo, e os grupos se
tocavam.
E, da lista dos primeiros sócios,
dos primeiros assinantes da Sociedade de Cultura Artística, hoje todo mundo é nome de rua em São
Paulo (risos).
Folha - No livro, você sublinha
"doutor Arnaldo".
Angelo - Já não precisava mais
do sobrenome. Então, quando eu
falo em elite, é isso, pessoas capazes de compreender uma necessidade da cidade.
Folha - Mario de Andrade integrou os modernistas à Cultura Artística?
Angelo - Não é que ele integrou.
Ele fez várias conferências na Cultura Artística e, inclusive, foi o patrono de duas das mais interessantes manifestações. A primeira foi
introduzir, como autor de concerto, Ernesto Nazareth, um autor
popular. Em outra oportunidade,
ele fez uma conferência, acompanhada de concertos, sobre a aproximação entre a canção popular e a
música erudita. A Sociedade de
Cultura Artística, antigamente, tinha uma intenção didática.
Folha - Ela nasceu assim.
Angelo - E nasceu com essa
programação mista, de conferências e concertos.
Folha - Qual foi o papel de Villa-Lobos, que, depois da Semana
de Arte Moderna, teve grande participação na Cultura Artística?
Angelo - Villa-Lobos não era o
compositor consagrado, mas uma
pessoa que estava se afirmando na
arte musical. E a Cultura Artística
acreditou nesses artistas novos.
Esse quadro, aliás, não se repete
hoje. Não é que a Cultura não se
interesse. Ela busca, mas o público
não responde de forma igual.
Folha - O prédio que se conhece
da Cultura Artística surge em 50,
no momento pós-guerra, pós-regime Vargas, em que outras instituições também se estabeleciam.
Angelo - Foi o segundo salto industrial, quando surgiram todas
essas entidades vitoriosas, quando
São Paulo criou todos esses equipamentos, a Vera Cruz, a Bienal, a
Sociedade de Cultura Artística.
Livro: 85 Anos de Cultura - História da
Sociedade de Cultura Artística
Autor: Ivan Angelo
Lançamento: ed. Studio Nobel
Quanto: preço ainda não foi definido
Patrocinador: Bradesco
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