São Paulo, sábado, 8 de agosto de 1998

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Cultura Artística compila seus 85 anos

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Foram 1.438 apresentações ou "saraus", como são chamados, em 85 anos. A Sociedade de Cultura Artística encomendou, e o escritor e jornalista Ivan Angelo lança semana que vem, em São Paulo, a história de uma das instituições culturais da cidade.
O livro parte dos primeiros projetos, na redação do jornal "O Estado de S. Paulo", passa pelo primeiro sarau, em 26 de setembro de 1912, e segue a história com personagens como Mario de Andrade e Arthur Rubinstein, Nestor Pestana e Alfredo Mesquita.
O lançamento será no Museu Brasileiro da Escultura (av. Europa, 218), para convidados. A seguir, entrevista com o autor.

Folha - O que lhe interessou, na história da Sociedade de Cultura Artística?
Ivan Angelo -
A minha intenção, assim que tomei conhecimento da história, foi tornar a Sociedade de Cultura Artística uma personagem, com altos e baixos. Enfim, com certa dramaticidade. Também procurei fazer com que coincidisse com a história da cidade e com os acontecimentos mundiais mais importantes. As duas guerras, a revolução de São Paulo, coisas que preocupavam os homens que estavam na Cultura Artística.
Folha - Você descreve, a certa altura, a Cultura Artística como uma "sociedade artística de elite".
Angelo -
A expressão elite aí não é pejorativa. É uma elite como foi, por exemplo, o pessoal que fez o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia), a Bienal. Era uma elite com um compromisso com a sociedade, com o aprimoramento do equipamento técnico e artístico da cidade. Enfim, era uma elite que queria fazer São Paulo sair de um certo marasmo artístico que eles viam na época, em 1912.
Folha - Um dos relatos interessantes do livro é o das relações de conflito e aproximação entre a Cultura Artística e os modernistas.
Angelo -
Em São Paulo, na época, era natural que as pessoas que lidassem com arte tivessem algum relacionamento. Você vê a presença de Mario de Andrade na Cultura Artística desde o início. Já o Oswald de Andrade nunca esteve. Mas eles tinham, enfim, uma espécie de convivência. Não havia tanta gente em São Paulo, e os grupos se tocavam.
E, da lista dos primeiros sócios, dos primeiros assinantes da Sociedade de Cultura Artística, hoje todo mundo é nome de rua em São Paulo (risos).
Folha - No livro, você sublinha "doutor Arnaldo".
Angelo -
Já não precisava mais do sobrenome. Então, quando eu falo em elite, é isso, pessoas capazes de compreender uma necessidade da cidade.
Folha - Mario de Andrade integrou os modernistas à Cultura Artística?
Angelo -
Não é que ele integrou. Ele fez várias conferências na Cultura Artística e, inclusive, foi o patrono de duas das mais interessantes manifestações. A primeira foi introduzir, como autor de concerto, Ernesto Nazareth, um autor popular. Em outra oportunidade, ele fez uma conferência, acompanhada de concertos, sobre a aproximação entre a canção popular e a música erudita. A Sociedade de Cultura Artística, antigamente, tinha uma intenção didática.
Folha - Ela nasceu assim.
Angelo -
E nasceu com essa programação mista, de conferências e concertos.
Folha - Qual foi o papel de Villa-Lobos, que, depois da Semana de Arte Moderna, teve grande participação na Cultura Artística?
Angelo -
Villa-Lobos não era o compositor consagrado, mas uma pessoa que estava se afirmando na arte musical. E a Cultura Artística acreditou nesses artistas novos. Esse quadro, aliás, não se repete hoje. Não é que a Cultura não se interesse. Ela busca, mas o público não responde de forma igual.
Folha - O prédio que se conhece da Cultura Artística surge em 50, no momento pós-guerra, pós-regime Vargas, em que outras instituições também se estabeleciam.
Angelo -
Foi o segundo salto industrial, quando surgiram todas essas entidades vitoriosas, quando São Paulo criou todos esses equipamentos, a Vera Cruz, a Bienal, a Sociedade de Cultura Artística.

Livro: 85 Anos de Cultura - História da Sociedade de Cultura Artística Autor: Ivan Angelo
Lançamento: ed. Studio Nobel
Quanto: preço ainda não foi definido Patrocinador: Bradesco



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