São Paulo, segunda, 8 de setembro de 1997.



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ARTES PLÁSTICAS
Artista apresenta nove esculturas; no mezzanino, pastéis de Hildebrando de Castro retratam perversões
Efraim Almeida mostra dor sublimada

da Reportagem Local

O artista plástico Efraim Almeida é uma unanimidade e as nove esculturas que ele apresenta a partir de hoje na galeria Camargo Vilaça provam que, nesse caso, a unanimidade não é burra.
Agrada a crítica, os amantes de arte e o público leigo, como era possível notar na última sexta-feira, no olhar das crianças do bairro, que entravam na galeria para observar as pequenas esculturas do artista. Ou na satisfação do galerista, ao ver praticamente toda a mostra vendida antes de sua vernissage.
Efraim trabalha com elementos figurativos, retirados em grande parte da iconografia cristã. Cearense de nascimento, traz da tradição religiosa nordestina do ex-voto -objeto ou imagem oferecido como agradecimento por uma graça recebida- a influência mais reconhecível de seu trabalho.
Suas esculturas provêm ainda da observação de outros ícones religiosos. "Gosto de olhar imagens de santos e ver como eles seguram os objetos, a delicadeza do toque", disse o artista.
Em uma das obras expostas, duas pequenas mãos esculpidas em cedro (simbolicamente, a madeira da cruz de Cristo) exibem duas chagas de onde saem colares de minúsculas contas, vermelhas, como o sangue derramado, e que, dispostos no chão, formam possíveis poças.
"Não é apenas uma apropriação do ex-voto. Tento transcender sua idéia original. Minhas imagens são figurativas, mas também ambíguas. Elas não são apenas representação, não são objetivas. A relação com a obra de arte é do mesmo tipo que a relação com essas imagens que representam milagres. O ex-voto é um objeto que transcende seu poder", disse.
Na série "Milagres", as mãos seguram galhos de onde brotam chagas, olhos ou minúsculos rostos, esculpidos com cortes precisos, cheios de força e delicadeza.
"Assim como o ex-voto, a arte deve efetuar algum tipo de transformação ou mudança. Ela também significa um tipo de auto-conhecimento", disse.
No mezzanino
Simultaneamente à mostra de Efraim, a galeria Camargo Vilaça inaugura uma mostra de Hildebrando de Castro, artista pernambucano, radicado há dois anos nos EUA.
Ambos dividem o apreço pela figuração, mas o trabalho de Castro é quase o oposto do de Efraim. Enquanto este demonstra uma dor sublimada, Castro se preocupa em trabalhar diversas manifestações de perversão.
Nos quatro pastéis que exibe, apresenta bonecos infantis envolvidos em situações de violência e agressividade.
Sua Barbie aparece amarrada, espancada e seviciada, com um vestido de noiva em trapos e os órgãos sexuais à mostra. O ursinho de pelúcia devora um pequeno braço, músculos e ossos aparentes. A enfermeira cuida de uma criança com duas cabeças discordantes. Uma menininha segura um coração com a mão em que lhe falta um dedo. "Com as bonecas, faço uma paródia das relações humanas", disse.
A outra diferença está nas dimensões dos trabalhos, em grandes formatos. "O pastel precisa ter um impacto. A dimensão é muito importante, e trabalhar com detalhes em pastel é quase impossível."
(CELSO FIORAVANTE)
Mostra: Efraim Almeida (nove esculturas) e Hildebrando de Castro (quatro pastéis sobre papel) Onde: galeria Camargo Vilaça (r. Fradique Coutinho, 1.500, tel. 011/210-7390, vila Madalena) Vernissage: hoje, às 20h Quando: de segunda a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 10h às 14h


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