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LUCRO RECICLADO
Empresas aproveitam produções com closes, poucos detalhes e cores fortes já exibidas em TV e cinema
Tela pequena limita criação para celular
DIEGO ASSIS
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Graças a um bombardeio de
propagandas e de eventos patrocinados por operadoras de telefonia e fabricantes de aparelhos, o
consumidor está cada vez mais familiarizados com o que um celular já pode fazer: tirar fotos, mandar mensagens de texto, tocar
músicas, baixar vídeos da internet
e... ah, claro, ligar para as pessoas.
O que não se sabe bem é como
esse aparelhinho transformará a
forma de se criar música, cinema,
TV e artes em geral. E até que
ponto funcionará como uma televisão, câmera fotográfica ou "toca-músicas" portáteis. Será que
essas promessas não esbarram
nas limitações do celular, como o
tamanho reduzido e as taxas cobradas? Quem trocaria o novelão
grátis na TV, sentado num confortável sofá, por assistir a uma
versão paga numa tela de menos
de dez centímetros quadrados, no
banco duro de um ônibus?
São questões que excitam e
atormentam tanto o mercado que
só neste mês haverá dois grandes
eventos sobre o assunto no Brasil
e dois no exterior: "Convergência
de Conteúdo: da TV ao Celular"
(no Rio, amanhã), o 2º Tela Viva
Móvel 2 (29 e 30, em SP), "Mundo
do Conteúdo de Celular" (21 a 23,
em Londres) e "Festival de Cinema de Celular" (em Atlanta, com
inscrições abertas em setembro).
A Endemol, produtora de "Big
Brother", é uma das interessadas
no debate sobre conteúdo em celular. Na Europa, lançou uma espécie de fotonovela para telefone
móvel, "Fantesstic". O cliente recebe por dia cinco quadrinhos
-que misturam foto, desenho e
texto- e pode interagir, decidindo, por exemplo, se a mocinha irá
ou não ver o galã no dia seguinte.
Não há previsão de lançamento
no país de algo exclusivamente
criado para celular. "No Brasil,
não há por enquanto consumidores suficientes para produção em
escala de vídeo para celular. Além
disso, as pessoas ainda acham incômodo assistir a algo na tela tão
pequena", diz Carla Afonso, diretora da Endemol Globo. Os produtos brasileiros são, na maioria,
adaptações do que é feito para
TV, como jogos e "bate-papos"
do "Big Brother". "Aqui, o celular
é hoje mídia complementar à TV,
que propicia a interatividade."
A MTV Brasil é outra empresa
ávida a aproveitar as oportunidades do celular. Mas suas apostas
em vídeos exclusivos para a telinha também são raras. "A qualidade da imagem é muito inferior
à da televisão. Quando editamos
um clipe da TV para o celular, temos de cuidar para que o trecho
selecionado não seja escuro, tenha menos detalhes e mais closes", diz José Wilson Fonseca, diretor de marketing da MTV.
"Não é todo o conteúdo de TV
que pode ser adaptado para celular", diz Sandra Jimenez, diretora
de tecnologia da MTV. Segundo
ela, o desenho da "Mega Liga
MTV", que em breve será levado
ao celular, é um exemplo de fácil
adaptação. "É um traço chapado,
de cores fortes", explica.
A produção de cinema também
já se espreme para caber na telinha. "Pode parecer prematuro assistir a filmes em aparelhos sem
fio hoje, mas no futuro será lugar-comum", disse à revista "Wired"
(EUA) Victoria Weston, dona da
produtora de filmes de internet
Zoie, criadora do Festival de Cinema de Celular, com curtas-metragens de um a cinco minutos.
O primeiro evento do gênero no
Brasil deve acontecer em novembro, em São Paulo. Parte do festival de música, cinema e design
Resfest, o Resfest de Bolso disponibilizará ao público seis vídeos
feitos para celular por designers
convidados. Além disso, pretende
lançar em outubro um concurso
de ringtones (músicas de toque de
celular) com bandas independentes. Tudo ficará disponível na internet. "Não faria sentido obrigar
a pessoa a sair de casa para acessar
algo que não depende de espaço
físico. Estamos falando de portabilidade", diz Carlos Farinha, organizador do evento (8 a 15/11).
Além de aspectos estéticos da
produção de celular (baixa definição, interatividade, portabilidade
etc), outra discussão envolve os
interesses empresariais por trás
dessa nova forma de criar. Patrocinadora do festival de eletrônica
e arte multimídia sónarsound, a
Nokia é a grande interessada na
mostra "Life Goes Mobile", cujas
obras foram feitas para acesso em
aparelhos da marca.
Para Giselle Beiguelman, que
fez uma obra para a mostra, a
criação no celular é diferente da
produção para internet, pois, no
caso do telefone móvel, já nasceu
ligada a corporações. "Na internet, as empresas vieram depois. Já
a criação de celular é inteiramente
mediada por operadoras e fabricantes." Quando se trata de unir
arte e tecnologia, Beiguelman defende que não há como esperar de
uma universidade, por exemplo,
o mesmo aporte de verbas que essas empresas oferecem. Interessa
ao patrocinador e aos artistas.
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