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Arte chega ao
telefone em
mostra de SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Se, nos anos 60, artistas criavam
suas obras usando televisores e
aparelhos de fax, por que, nos 00,
não usar telefones celulares?
Esta é a premissa por trás de "Life Goes Mobile", que fica em cartaz de 10 a 12 deste mês no Instituto Tomie Ohtake, como parte do
festival sónarsound São Paulo.
Módulo à parte da exposição
mulitmídia sonarama, a mostra
reúne sete instalações de artistas
que se aproveitam das diferentes
funções do aparelho -ou da própria rede de telefonia sem fio.
A proposta, conta Lucas Bambozzi, 38, curador da exposição,
partiu da Nokia, patrocinadora
principal do evento. Mas também
veio ao encontro de artistas que já
vinham trabalhando nessa linha.
"É uma oportunidade de trabalhar com tecnologia num ambiente escasso", aponta o curador,
para quem o importante é não haver "ruptura ou violação das convicções" do artista frente ao comissionamento do patrocinador.
"Muitos deles estão seguindo
uma vertente já presente em seus
trabalhos em outras mídias."
É o caso de Giselle Beiguelman,
que já usou a tecnologia de celulares para enviar mensagens de texto para telões nas ruas de SP.
"Todo esse sistema [de celulares] vem sendo usado no dia-a-dia e estimula um posicionamento crítico por parte da arte", afirma Bambozzi. "Coloco isso em
mídia arte: pegar um sistema de
comunicação criado para ser eficiente e criar algo com suas ineficiências, mostrando outro lado."
Para "Life Goes Mobile", Beiguelman criou o projeto "**//Code_Up", que expõe, por meio de
fotografias tiradas por celular e
enviadas para um telão, a "matéria-prima" do digital. Ou seja, as
matrizes geométricas e algoritmos que compõem uma imagem
digital. Por meio de um joystick, o
público poderá manipular e movimentar as fotos.
Já no trabalho do coletivo
Re:Combo, "Constelações", mensagens de texto por celular (SMS)
são enviadas para um número específico e agrupadas numa projeção no teto do espaço expositivo
como se fossem estrelas em uma
galáxia. A distância entre as frases/estrelas é definida pela localização geográfica, hora e minuto
do envio de cada mensagem.
Há ainda o projeto "Argos", de
Helga Steim, que pretende criar
um grande "retrato coletivo" a
partir de fotografias de olhos e bocas enviadas pelos usuários, que
ficam sempre se alternando.
Também inspirado em imagens, "Engordando Seu Boi", do
VJ Spetto, usa a tecnologia de forma mais crítica. Inspirado em um
sistema que ainda está para ser
lançado e que permitirá que a pessoa monitore algo/alguém por
meio de seu celular, o trabalho de
Spetto ironiza a mania de vigilância e propõe o uso da tecnologia
para os bois, que, como dizem os
pecuaristas, "só engordam sob os
olhos do dono".
Outros trabalhos incluem
"Continente Perdido 1", de Luiz
Duva, "Automatic Pop Corn", de
Angelo Palumbo e Izo Levin, além
da experiência com "textos de cores" da artista Lucia Koch, em que
mensagens de texto são "traduzidas" em cores diferentes.
"O que quis foi transformar algo
que poderia parecer uma intenção do patrocinador em um projeto de artistas, não de agências de
publicidade", argumenta Bambozzi. "A idéia de convergência de
mídias existe desde McLuhan,
ainda que até hoje, por exemplo,
os festivais de cinema ainda resistam a coisas em vídeo. O celular
traz essa convergência. E os artistas estão percebendo isso, independentemente dos planos de
marketing."
(DA)
LIFE GOES MOBILE. Quando: de 10 a 12
de setembro, das 12h às 22h. Onde:
Instituto Cultural Tomie Ohtake - salas 6
e 7 - 2º piso (av. Faria Lima, 201, SP).
Quanto: de R$ 25 a R$ 30 (ingresso para o
dia, com acesso a shows).
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