São Paulo, quarta-feira, 08 de setembro de 2010

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67º FESTIVAL DE CINEMA DE VENEZA

Vincent Gallo se esconde em Veneza

À margem da indústria, cineastas tentam fugir do "massacre" do sistema de divulgação dos filmes na mostra

"Não podia mais tentar ser comercial", diz o diretor polonês Jerzy Skolimowski, que ficou sem filmar nos anos 90


ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

Não seria de espantar se os organizadores do Festival de Veneza imprimissem a foto de Vincent Gallo e pregassem, nos troncos das árvores, cartazes com a inscrição "Procura-se".
Duplamente representado na competição, como ator de "Essential Killing" (assassinato básico) e diretor de "Promises Written in Water" (promessas escritas na água), Gallo cancelou a coletiva de imprensa.
"Promises..." será o único filme, entre os 83 que compõem a seleção, a passar pelo Lido sob silêncio.
"Ele disse que não participa disso", explicou Jeremy Thomas, produtor de "Essential Killing". "Acha que seus filmes falam por si."
Diz-se que, ao chegar ao Lido, Gallo estava até com uma máscara, daquelas que os assaltantes usam.
Sua postura, de tão extremada, acabou por fazer rir até mesmo quem, como ele, integra a pequena nau (ou vaporetto) dos outsiders.
É esse o caso do cineasta polonês Jerzy Skolimowski, que apresenta em Veneza "Essential Killing", filme sem palavras, passado quase todo na neve.
"Tudo bem, eu saí de Los Angeles, vivo na floresta, mas, vendo o Gallo, quase me pergunto se sou mesmo outsider", provoca.

VOU PARA A CAMA
Skolimowski é, ainda assim, uma figura à parte neste ambiente em que tudo, da roupa à palavra, é encenado.
Com a rouquidão de quem acabara de se levantar, ele chegou meia hora atrasado para a entrevista.
Informal, esticou-se no tempo previsto pelos assessores, tomou iogurte e explicou que, há muito tempo, desistiu de fazer parte da indústria do cinema.
"Parei de fazer filmes nos anos 80 porque percebi que não podia mais tentar ser comercial", conta.
Entre a década de 90 e meados dos anos 2000, parou de filmar e virou pintor.
"Estava perdendo meu tempo, meu prazer e meu dinheiro", diz. "O cinema pode ser massacrante, em vários sentidos."
Que o diga o estado físico do diretor chileno Pablo Larraín, ao fim de um dia de entrevistas. Depois de ter seu filme, "Post Mortem", elogiado pela crítica e transformado em aposta para o Leão de Ouro, Larraín foi atirado ao flashes.
Quis o acaso que a Folha fosse a última a entrevistá-lo. Gentil, ele tentava elaborar as respostas, mas sua cabeça parecia girar. De repente, no meio de uma frase, disse: "Desculpe, desculpe mesmo, mas eu preciso ir para a cama." Gallo prefere nem sair do quarto.


MARCELO COELHO
O colunista está em férias




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