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67º FESTIVAL DE CINEMA DE VENEZA
Vincent Gallo se esconde em Veneza
À margem da indústria, cineastas tentam fugir do "massacre" do sistema de divulgação dos filmes na mostra
"Não podia mais tentar
ser comercial", diz o
diretor polonês Jerzy
Skolimowski, que ficou
sem filmar nos anos 90
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA
Não seria de espantar se os
organizadores do Festival de
Veneza imprimissem a foto
de Vincent Gallo e pregassem, nos troncos das árvores,
cartazes com a inscrição
"Procura-se".
Duplamente representado
na competição, como ator de
"Essential Killing" (assassinato básico) e diretor de
"Promises Written in Water"
(promessas escritas na
água), Gallo cancelou a coletiva de imprensa.
"Promises..." será o único
filme, entre os 83 que compõem a seleção, a passar pelo
Lido sob silêncio.
"Ele disse que não participa disso", explicou Jeremy
Thomas, produtor de "Essential Killing". "Acha que seus
filmes falam por si."
Diz-se que, ao chegar ao
Lido, Gallo estava até com
uma máscara, daquelas que
os assaltantes usam.
Sua postura, de tão extremada, acabou por fazer rir
até mesmo quem, como ele,
integra a pequena nau (ou
vaporetto) dos outsiders.
É esse o caso do cineasta
polonês Jerzy Skolimowski,
que apresenta em Veneza
"Essential Killing", filme sem
palavras, passado quase todo na neve.
"Tudo bem, eu saí de Los
Angeles, vivo na floresta,
mas, vendo o Gallo, quase
me pergunto se sou mesmo
outsider", provoca.
VOU PARA A CAMA
Skolimowski é, ainda assim, uma figura à parte neste
ambiente em que tudo, da
roupa à palavra, é encenado.
Com a rouquidão de quem
acabara de se levantar, ele
chegou meia hora atrasado
para a entrevista.
Informal, esticou-se no
tempo previsto pelos assessores, tomou iogurte e explicou que, há muito tempo, desistiu de fazer parte da indústria do cinema.
"Parei de fazer filmes nos
anos 80 porque percebi que
não podia mais tentar ser comercial", conta.
Entre a década de 90 e
meados dos anos 2000, parou de filmar e virou pintor.
"Estava perdendo meu
tempo, meu prazer e meu dinheiro", diz. "O cinema pode
ser massacrante, em vários
sentidos."
Que o diga o estado físico
do diretor chileno Pablo Larraín, ao fim de um dia de entrevistas. Depois de ter seu
filme, "Post Mortem", elogiado pela crítica e transformado em aposta para o Leão de
Ouro, Larraín foi atirado ao
flashes.
Quis o acaso que a Folha
fosse a última a entrevistá-lo.
Gentil, ele tentava elaborar
as respostas, mas sua cabeça
parecia girar. De repente, no
meio de uma frase, disse:
"Desculpe, desculpe mesmo,
mas eu preciso ir para a cama." Gallo prefere nem sair
do quarto.
MARCELO COELHO
O colunista está em férias
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