São Paulo, terça, 8 de setembro de 1998

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DISCO LANÇAMENTOS
Instrumental brasileiro acha novos canais


Sem espaço dentro do país, músicos ganham terreno no mercado internacional, nas trilhas sonoras e na Internet


CARLOS CALADO
especial para a Folha

Lançar um disco com cuidados na promoção e distribuição internacional. O sonho de qualquer músico brasileiro já não parece tão distante, pelo menos para alguns instrumentistas.
Com sete lançamentos programados até o fim do ano, além dos três títulos que já está distribuindo nos EUA, Canadá, Israel, grande parte da Europa e alguns países asiáticos, o selo norte-americano Malandro Records investe em um filão mal explorado.
"Nossa intenção é lançar música brasileira de alta qualidade, desde as raízes com influência do samba até bossa nova, chorinho e MPB", diz Rick Warm, 35, produtor e diretor do selo.
Recém-lançado, o primeiro suplemento do Malandro Records destaca três violonistas. Além do paulista Ulisses Rocha ("Moleque") e do mineiro Juarez Moreira ("Bom Dia"), Rick Udler -chileno, criado nos EUA, que vive em São Paulo- divide com a cantora mineira Maria Alvim o CD "Rhythm & Romance".
Outros três títulos saem neste mês: "Jeitinho Brasileiro" (já lançado aqui como "O Escultor do Vento"), do saxofonista Carlos Malta; "Partido Out", do Trio da Paz (com o violonista Romero Lubambo); e um álbum com canções de Milton Nascimento recriadas pelo grupo mineiro UZ22.
Consciente das dificuldades que terá de enfrentar, Warm observa que até já existe, nos EUA, um pequeno mercado de música brasileira, mas este se revela "conservador". "Essas pessoas saem e compram um lançamento de João Gilberto ou algo de Jobim, mas é muito difícil conseguir que elas se interessem por novos artistas."
Na opinião do produtor, o público de hoje precisa voltar a ser educado. "Crescemos numa sociedade rock "n' roll. Formas musicais mais sofisticadas requerem exposição. Isso quase não existe mais nos EUA. A maioria das escolas já não oferece educação musical e os pais já não tocam jazz e música clássica em casa."
Um jeito possível de educar seu potencial público, diz Warm, é investir na qualidade dos textos dos encartes dos discos. "A cada lançamento, procuro um músico ou crítico que possa contar uma história e iluminar aquela música. Eu quero que o leitor diga: "Puxa, não sabia disso!'"
Outro cuidado evidente nos CDs da Malandro Records está no design das capas, que reforçam a personalidade do selo. Elas exibem belas fotografias do Brasil, feitas nos anos 40 pela norte- americana Genevieve Naylor, posteriormente colorizadas.
Warm reconhece que a música de quase todos seus artistas tem influência do jazz. Mas acha que o fato de a música brasileira pós-bossa nova ser tradicionalmente classificada como jazz, nos EUA, não ajuda.
"Meu objetivo a longo prazo é conseguir que nossos lançamentos e a música de outros artistas do Brasil sejam considerados como "música brasileira', e não jazz ou uma ramificação da "world music'. Nesse meio-tempo, temos que jogar o jogo e conseguir que nossa música seja ouvida no maior número de lugares."
E por que Malandro Records? "Comecei a chamar o selo assim por brincadeira. Mas a reação da maioria dos brasileiros foi tão boa que eu passei a levar esse nome a sério. Nos EUA, o termo "malandro' pede uma explicação. Isso é bom para a publicidade."
Ironicamente, apesar de lançar música brasileira de qualidade, o Malandro Records ainda encontra dificuldades para definir sua distribuição no Brasil. "Estamos negociando com várias companhias. Espero que até o fim do ano isso deixe de ser um problema."
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Internet: www.worldbop.com/malandro



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