São Paulo, Sexta-feira, 08 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SHOW

Peladões soltam fúria rock and roll no palco


THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

Show do Red Hot Chili Peppers é imperdível, por uma penca de motivos. Nem precisa ser fã desbragado da banda californiana. O evento conta muito da história do rock and roll recente e vale ser conferido por qualquer um que seja sensibilizado pelo gênero.
Em primeiro lugar, os Chili Peppers costumam desempenhar muito bem em cima do palco. Não é por acaso que, no início dos anos 80, um executivo de gravadora viu os meninos ao vivo apenas uma vez e já foi logo oferecendo um contrato para lançamento de oito (!) álbuns.
A banda começou no tempo em que a escola da música pop era a estrada. Antes de pensar em gravar ou aparecer na MTV (as duas preocupações primordiais da moçada que atualmente entra na música pop), os Chili Peppers ganharam fama no circuito alternativo de shows nos EUA. Um crítico da revista "Spin" sentenciou: "Esses caras tocam como se fossem morrer no final do show!".
A banda sempre teve dois lados em equilíbrio, a fúria porra-louca no palco e a concentração no estúdio em busca da batida perfeita. Esses lados coexistem principalmente no baixista Flea, o verdadeiro dínamo do quarteto.
No estúdio, trata-se de um pesquisador inquieto, um músico que tenta sempre aumentar seus horizontes. Toca baixo, guitarra, bateria, piano, sax, trompete e, provavelmente, quer aprender qualquer instrumento que aparecer. No palco, o cara pega fogo. Às vezes, literalmente. Adora tocar pelado -ou apenas com uma meia cobrindo o pênis, marca registrada do encerramento dos shows na década passada-, gira como um pião e esbugalha os olhos quando sola. Só falta babar.
Mas a banda não é apenas Flea. Tem um vocalista atlético carismático, Anthony Kiedis, que, ao lado de Flea, está na banda desde o início. Baixo e guitarra já passaram por muitas mãos. Como tantas bandas na história do rock, os Chili Peppers vivenciaram poucas e boas. Brigas, processos, internações para desintoxicação, morte de um integrante por overdose (o guitarrista Hillel Slovak, em 1988) e outras barras.
O que fica, no entanto, é uma discografia poderosa. O grupo cravou seu nome na história da música pop ao fundir punk e funk, consolidando a onda de crossovers que guia a cena roqueira. Sem os Chili Peppers, muita banda que hoje escala as paradas estaria até agora tocando punk em algum boteco.
Petardos como "Give It Away", "Higher Ground" e "Under the Bridge" vão levantar o público no Credicard Hall hoje à noite, mas um show dessa banda sempre oferece surpresas.
O Red Hot Chili Peppers não é apenas um bando de caras que gostam de tocar pelados. O grupo reúne algumas das figuras mais energéticas e criativas do rock nos últimos 20 anos. Caras que, por acaso, adoram tocar pelados.


Texto Anterior: Vida Bandida - Voltaire de Souza: Um país com pressa
Próximo Texto: Woodstock foi marco negativo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.