São Paulo, Sexta-feira, 08 de Outubro de 1999
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MÚSICA

Sting troca índios por travestis em novo CD


MALU GASPAR
de Nova York

Depois de três anos sem gravar um disco, Sting está de volta com seu "Brand New Day" (Um Dia Novo em Folha), que teve lançamento mundial na semana passada. De novo, o álbum recém-lançado traz uma mistura de ritmos: baladas, músicas árabes e do Oriente Médio e até um ar de bossa nova estão em suas músicas, cujo tema central é o amor.
O Brasil, que em outros tempos já serviu de palco para a militância política do cantor em favor da preservação da Amazônia e dos povos indígenas, agora está presente no disco em forma de homenagem aos travestis brasileiros que trabalham na França.
A música "Tomorrow We'll See" (Amanhã Veremos) conta a história de um travesti. "Não me julgue. Você poderia estar no meu lugar em outras circunstâncias", diz a letra.
Sting encontrou os travestis que diz estar homenageando quando estava em Paris, onde sua mulher gravou um documentário sobre o assunto.
"Para mim foi uma experiência extraordinária, porque percebi que eles estavam no show business. E eram orgulhosos de sua aparência", disse em Nova York, onde participa, amanhã, de um show com renda destinada ao programa das Nações Unidas para a erradicação da pobreza.
Com essas novas referências ao Brasil, Sting vai se distanciando de outras, que ficaram marcadas à sua imagem no país.
Apesar de afirmar que continua contribuindo, com dinheiro, para a preservação da floresta, Sting diz que não vai mais voltar à Amazônia. Quando esteve no Brasil e mais tarde, quando levou o cacique Raoni para a Europa para levantar fundos para a causa indígena, foi acusado de estar usando a imagem dos índios para se promover.
"Não quero brincar de celebridade. Eu levanto dinheiro aqui e mando para lá. Mas há muito desentendimento acerca de minha ida ao Brasil. Há doze anos, quando eu fiz aquele trabalho, senti que estava lutando por uma grande causa. Algumas pessoas não entenderam, outras não gostaram", afirma.
Outra coisa que Sting diz que não fará mais é cantar em português, como fez na música "Fragilidade". "Eu não canto muito bem em português", lamenta.

Música e letra
Em "Brand New Day", as melodias vieram antes do que as letras. Sting afirma que ficou um ano compondo as músicas, com amigos, em casa.
Vários deles, como James Taylor, Stevie Wonder e Brandford Marsalis, acabaram fazendo participações especiais no disco, que, segundo ele, não era o seu principal objetivo quando começou a gravar.
"Faço músicas porque gosto, para me divertir, para passar o tempo." Só depois, Sting diz ter decidido fazer as letras e dar início à gravação do novo álbum.
"Eu vivo de fazer discos. Então, às vezes, tenho de produzir algum. Há muita pressão sobre um artista bem-sucedido. Meus músicos têm de sustentar suas famílias, pagar o aluguel. E fazer música é algo delicado. Então é melhor esquecer as pressões e me limitar a fazer música."
Por isso, talvez, afirme tocar mais do que ouve. Quando resolve ouvir música, não é música pop a sua preferência.
"A maioria das músicas é para dançar ou fala de coisas que não fazem parte da minha vida, como garotas que sofrem por seus namorados. Eu tenho 48 anos", diz Sting.


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