São Paulo, Sexta-feira, 08 de Outubro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Abba falso não vale o preço do real


ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha

Atenção, Procon: cuidado com seis músicos -quatro instrumentistas e duas chacretes nórdicas- que estão à solta pelo Brasil atendendo pelo nome The Real Abba Gold.
Nos cartazes dos shows, vê-se o nome de Benny Andersson, um dos líderes do famoso quarteto sueco Abba, que vendeu mais de 100 milhões de discos e gravou clássicos eternos do pop, como "Dancing Queen". Mas, na noite de quarta-feira, diante de um Olympia cheio de fãs que desembolsaram até R$ 70 pelo ingresso, não havia nem sinal de Benny.
Pudera: ele não veio a São Paulo. Não estava nem no Brasil. Benny devia estar em alguma ilha do Mar Báltico, totalmente ignorante do fato de que seu nome estava sendo usado para vender um show falso.
Quem veio ao Brasil foi uma banda "cover" do Abba. Uma boa banda de "covers", mas não "a banda de Benny Andersson", como os anúncios davam a entender.
Depois do show, ninguém se entendia: "O Benny veio sim, é o baixista", disse um dos produtores. Não era. O baixista chamava-se Johnny Warman. "Acho que é o tecladista", disparou outro membro da produção. Novo engano: o tecladista atendia por Paul Walker.
Um senhor, que se identificou apenas como "o promotor dos shows de Porto Alegre" (dia 8), tentava entender: "Eu comprei o show com o Benny Andersson; tenho até uma passagem de avião em nome dele. Se ele não veio, há algo errado". Mistério. Os empresários que trouxeram o grupo, Sidnei Pereira e Luiz Coppola, finalmente resolveram a charada: "Benny não veio; a culpa de tudo isso é dos anúncios".
Só não sabiam quem havia feito os anúncios. Fizeram cara de espanto quando ouviram falar de uma passagem de avião em nome de Benny Andersson.
O show seria até divertido se o ingresso custasse uns R$ 15, preço justo para uma banda que se limita a xerocar músicas.
Mas pagar preço de show internacional para ver um grupinho digno de animar cruzeiros marítimos de segunda é dose.
A banda até que se esforçou: tocou 17 músicas do Abba, incluindo todos os grandes clássicos, e fez o público dançar. O destaque absoluto da noite foi mesmo o tecladista Paul Walker, dono de uma verve toda particular e autor de algumas frases lapidares, como "Acendam seus isqueiros, São Paulo!"; "Esta é a última chance que vocês têm na vida para dançar"; e, no bis, a melhor de todas: "Por favor deixem-nos ir embora, temos de acordar às cinco da manhã".
O xerox de Abba fará outros sete shows no Brasil, incluindo datas em Pelotas, Porto Alegre, Sorocaba, Guarujá, Campinas, Fortaleza e Recife. Os organizadores fariam bem se parassem de usar o nome de Andersson para vender shows. Dá até para imaginar o velho Benny, gritando: "Sai da minha Abba!"


Avaliação: 


Texto Anterior: Free Jazz já tem shows com ingresso esgotado
Próximo Texto: Gastronomia: "Huitlacoche" vale uma deliciosa cantada
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.