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Abba falso não vale o preço do real
ANDRÉ BARCINSKI
especial para a Folha
Atenção, Procon: cuidado
com seis músicos -quatro
instrumentistas e duas chacretes nórdicas- que estão à solta
pelo Brasil atendendo pelo nome The Real Abba Gold.
Nos cartazes dos shows, vê-se
o nome de Benny Andersson,
um dos líderes do famoso
quarteto sueco Abba, que vendeu mais de 100 milhões de discos e gravou clássicos eternos
do pop, como "Dancing
Queen". Mas, na noite de quarta-feira, diante de um Olympia
cheio de fãs que desembolsaram até R$ 70 pelo ingresso,
não havia nem sinal de Benny.
Pudera: ele não veio a São
Paulo. Não estava nem no Brasil. Benny devia estar em alguma ilha do Mar Báltico, totalmente ignorante do fato de que
seu nome estava sendo usado
para vender um show falso.
Quem veio ao Brasil foi uma
banda "cover" do Abba. Uma
boa banda de "covers", mas
não "a banda de Benny Andersson", como os anúncios
davam a entender.
Depois do show, ninguém se
entendia: "O Benny veio sim, é
o baixista", disse um dos produtores. Não era. O baixista
chamava-se Johnny Warman.
"Acho que é o tecladista", disparou outro membro da produção. Novo engano: o tecladista atendia por Paul Walker.
Um senhor, que se identificou apenas como "o promotor
dos shows de Porto Alegre"
(dia 8), tentava entender: "Eu
comprei o show com o Benny
Andersson; tenho até uma passagem de avião em nome dele.
Se ele não veio, há algo errado".
Mistério. Os empresários que
trouxeram o grupo, Sidnei Pereira e Luiz Coppola, finalmente resolveram a charada:
"Benny não veio; a culpa de tudo isso é dos anúncios".
Só não sabiam quem havia
feito os anúncios. Fizeram cara
de espanto quando ouviram falar de uma passagem de avião
em nome de Benny Andersson.
O show seria até divertido se
o ingresso custasse uns R$ 15,
preço justo para uma banda
que se limita a xerocar músicas.
Mas pagar preço de show internacional para ver um grupinho digno de animar cruzeiros
marítimos de segunda é dose.
A banda até que se esforçou:
tocou 17 músicas do Abba, incluindo todos os grandes clássicos, e fez o público dançar. O
destaque absoluto da noite foi
mesmo o tecladista Paul Walker, dono de uma verve toda
particular e autor de algumas
frases lapidares, como "Acendam seus isqueiros, São Paulo!"; "Esta é a última chance
que vocês têm na vida para
dançar"; e, no bis, a melhor de
todas: "Por favor deixem-nos ir
embora, temos de acordar às
cinco da manhã".
O xerox de Abba fará outros
sete shows no Brasil, incluindo
datas em Pelotas, Porto Alegre,
Sorocaba, Guarujá, Campinas,
Fortaleza e Recife. Os organizadores fariam bem se parassem
de usar o nome de Andersson
para vender shows. Dá até para
imaginar o velho Benny, gritando: "Sai da minha Abba!"
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