São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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LITERATURA

Décima mulher a vencer o prêmio, austríaca de 57 anos só ganhou projeção com filme "A Professora de Piano"

Nobel coloca Elfriede Jelinek no mapa

DA REPORTAGEM LOCAL

A Academia Sueca inscreveu ontem um novo e quase desconhecido nome na história da literatura mundial: Elfriede Jelinek. Confirmando especulações de que premiaria uma mulher, os 18 senhores que decidem o prêmio literário de mais prestígio do mundo escolheram a escritora austríaca para o Nobel de 2004.
Jelinek, que completa 58 anos no dia 20, receberá 1,1 milhão (R$ 3,8 milhões) graças "ao fluxo musical de vozes e contravozes de seus romances e peças, que revelam em uma linguagem de extraordinária paixão o absurdo e a força coercitiva dos clichês sociais" (palavras da Academia).
Autora de mais de 20 livros, de poemas, prosa e teatro, e tradutora para o alemão de autores como Thomas Pynchon, a primeira austríaca a ganhar o Nobel de Literatura só tinha conseguido alguma projeção mundial em 2001, graças ao filme "A Professora de Piano", do compatriota Michael Haneke.
A história da pianista (Isabelle Hupert) perturbada que se envolve com um aluno, que Jelinek narra no romance "A Pianista" (1988), é autobiográfica.
Ontem, "feliz, mas espantada" com a notícia, Jelinek declarou que sofre de "fobia social" e que não sente que tem "saúde mental" para comparecer à cerimônia de entrega do prêmio, marcada para 10 de dezembro, em Estocolmo. "Tenho medo que o prêmio acabe com o estilo de vida pacato que escolhi", declarou à agência Associated Press, de sua casa, em um vilarejo próximo de Viena.
A trajetória de Jelinek não foi sempre "pacata". Militante do Partido Comunista Austríaco por mais de 15 anos, ela é opositora ferrenha do Partido da Liberdade, do líder de extrema direita Jörg Haider. Em 1999, quando o partido se tornou a segunda força política na Áustria, a escritora proibiu que fossem encenadas peças de sua autoria no país. A crítica política marca a obra mais recente de Jelinek, a peça "Bambiland", do ano passado, que satiriza a invasão americana do Iraque. Uma seqüência do trabalho, a peça "Babel", havia sido anunciada para maio de 2005. "Babel" trata das torturas na prisão de Abu Ghraib e da mutilação de corpos de americanos em Fallujah", disse. Jelinek, décima mulher a ganhar o Nobel literário em mais de cem anos, não tem livros editados no Brasil. (CASSIANO ELEK MACHADO)


Com agências internacionais


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