São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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MÚSICA

Grupo liderado por Michael Stipe retorna com novo CD e se junta a outros 15 astros em turnê que apóia John Kerry

R.E.M. lança campanha dupla nos EUA

STÉPHANE DAVET
DO "MONDE"

Com um broche da campanha de John Kerry preso ao bolso da camisa, Michael Stipe se define como roqueiro em campanha, a da promoção de "Around the Sun", o 13º disco do R.E.M., que ele lidera há um quarto de século, e a do candidato democrata à eleição presidencial dos EUA.
O ar grave do cantor é causado pela recepção ao seu novo disco ou pela desvantagem que separa John Kerry de George W. Bush nas pesquisas mais recentes? "Não confio nas pesquisas mais do que confio na mídia", diz Stipe, "sobretudo quando se trata das redes de TV norte-americanas".
Dia 1º, fez show inaugural na Filadélfia, onde seu grupo se reuniu a 15 outros astros do rock (entre os quais Brucer Springsteen, John Fogerty, Jurassic 5, Dave Matthews Band, Tracy Chapman e Pearl Jam) para viajar pelos EUA como parte da operação "Vote for Change" [Vote para Mudar], cujo objetivo é conquistar votos dos indecisos para Kerry.
"O plano não é realizar concertos em Nova York e Los Angeles", explica o cantor, "mas de nos concentrarmos em Estados como Michigan, Pensilvânia, Iowa e Carolina do Norte, dos quais pode depender a eleição. É preciso conscientizar as pessoas de que um dia houve quem se dispusesse a morrer pelo direito de voto. Uma grande parte da população vive convencida de que os políticos são intercambiáveis, que eles não têm efeito sobre o cotidiano, a comunidade, o país. Os quatro anos passados deveriam servir para convencê-los do contrário. Esperemos que dessa vez as eleições não sejam manipuladas".
Formado nos anos Reagan por Michael Stipe, Peter Buck (guitarra), Mike Mills (baixo) e Bill Berry (bateria), o grupo originário de Athens, Geórgia, impôs sua singularidade com alguns dos discos fundadores -"Murmur", "Recknoning", "Document"- do rock alternativo norte-americano.
No começo da carreira, o carisma de Stipe era menos visível. O triunfo da banda chegaria nos anos da presidência de Bush pai (1989-1993). Os talentos de sedução de Stipe desabrocharam, e o R.E.M. lançou seus mais belos discos como "Out of Time", "Automatic for the People".
A popularidade da banda se beneficiou, sem dúvida, do respeito conquistado por conta de seu rigor artístico e de sua influência sobre uma nova geração de músicos. Stipe se tornou o admirado padrinho de Kurt Cobain, líder do Nirvana, de Thom Yorke, líder do Radiohead, e de PJ Harvey.
Quatro meses antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, o R.E.M. lançou "Reveal", um álbum pop e ensolarado. Três anos mais tarde, o sol de "Around the Sun" parece obscurecido pelas nuvens negras do World Trade Center. Canções como a bela "Leaving New York" e letras como a de "The Day the Music Stopped" estão repletas dos traumas dos últimos anos.
Será que se deve ver na oposição a Bush o oportunismo de um grupo desejoso de reconquistar seus fãs? Segundo Stipe, a questão é bem o contrário, já que aproveitar o lançamento do disco para falar de política pode alienar boa parte do público. Além disso, como apontou Peter Buck, o guitarrista do R.E.M., "não devemos esquecer que o ClearChannel controla a maior parte das estações de rádio nos Estados Unidos, e é também o principal produtor de turnês musicais internacionais e a empresa apóia Bush vigorosamente".


Tradução Paulo Migliacci


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