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MÚSICA
Grupo liderado por Michael Stipe retorna com novo CD e se junta a outros 15 astros em turnê que apóia John Kerry
R.E.M. lança campanha dupla nos EUA
STÉPHANE DAVET
DO "MONDE"
Com um broche da campanha
de John Kerry preso ao bolso da
camisa, Michael Stipe se define
como roqueiro em campanha, a
da promoção de "Around the
Sun", o 13º disco do R.E.M., que
ele lidera há um quarto de século,
e a do candidato democrata à eleição presidencial dos EUA.
O ar grave do cantor é causado
pela recepção ao seu novo disco
ou pela desvantagem que separa
John Kerry de George W. Bush
nas pesquisas mais recentes?
"Não confio nas pesquisas mais
do que confio na mídia", diz Stipe,
"sobretudo quando se trata das
redes de TV norte-americanas".
Dia 1º, fez show inaugural na Filadélfia, onde seu grupo se reuniu
a 15 outros astros do rock (entre
os quais Brucer Springsteen, John
Fogerty, Jurassic 5, Dave Matthews Band, Tracy Chapman e
Pearl Jam) para viajar pelos EUA
como parte da operação "Vote for
Change" [Vote para Mudar], cujo
objetivo é conquistar votos dos
indecisos para Kerry.
"O plano não é realizar concertos em Nova York e Los Angeles",
explica o cantor, "mas de nos concentrarmos em Estados como Michigan, Pensilvânia, Iowa e Carolina do Norte, dos quais pode depender a eleição. É preciso conscientizar as pessoas de que um dia
houve quem se dispusesse a morrer pelo direito de voto. Uma
grande parte da população vive
convencida de que os políticos
são intercambiáveis, que eles não
têm efeito sobre o cotidiano, a comunidade, o país. Os quatro anos
passados deveriam servir para
convencê-los do contrário. Esperemos que dessa vez as eleições
não sejam manipuladas".
Formado nos anos Reagan por
Michael Stipe, Peter Buck (guitarra), Mike Mills (baixo) e Bill Berry
(bateria), o grupo originário de
Athens, Geórgia, impôs sua singularidade com alguns dos discos
fundadores -"Murmur", "Recknoning", "Document"- do rock
alternativo norte-americano.
No começo da carreira, o carisma de Stipe era menos visível. O
triunfo da banda chegaria nos
anos da presidência de Bush pai
(1989-1993). Os talentos de sedução de Stipe desabrocharam, e o
R.E.M. lançou seus mais belos
discos como "Out of Time", "Automatic for the People".
A popularidade da banda se beneficiou, sem dúvida, do respeito
conquistado por conta de seu rigor artístico e de sua influência
sobre uma nova geração de músicos. Stipe se tornou o admirado
padrinho de Kurt Cobain, líder do
Nirvana, de Thom Yorke, líder do
Radiohead, e de PJ Harvey.
Quatro meses antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, o
R.E.M. lançou "Reveal", um álbum pop e ensolarado. Três anos
mais tarde, o sol de "Around the
Sun" parece obscurecido pelas
nuvens negras do World Trade
Center. Canções como a bela
"Leaving New York" e letras como a de "The Day the Music Stopped" estão repletas dos traumas
dos últimos anos.
Será que se deve ver na oposição
a Bush o oportunismo de um grupo desejoso de reconquistar seus
fãs? Segundo Stipe, a questão é
bem o contrário, já que aproveitar
o lançamento do disco para falar
de política pode alienar boa parte
do público. Além disso, como
apontou Peter Buck, o guitarrista
do R.E.M., "não devemos esquecer que o ClearChannel controla a
maior parte das estações de rádio
nos Estados Unidos, e é também o
principal produtor de turnês musicais internacionais e a empresa
apóia Bush vigorosamente".
Tradução Paulo Migliacci
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