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DVD/"RAINHA DIABA"
Filme revela as contradições do regime militar sem se referir a ele
Divulgação
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Milton Gonçalves e Odete Lara em cena do filme "Rainha Diaba", de Antonio Carlos da Fontoura |
CRÍTICO DA FOLHA
Era a função catártica que
mais chamava a atenção em
"Rainha Diaba" e que o levou a
ser considerado um dos melhores
filmes dos anos 70.
Passados 30 anos, convém perguntar se o filme oferece interesse
ao espectador de um outro momento. A resposta é sim. Um enfático sim, na verdade. A história
da luta controle pelo tráfico de
maconha, entre um rei homossexual -a rainha do título- e seus
asseclas rebelados revela-se hoje
um belo documento sobre o período mais duro do governo militar, embora não se refira em nenhum momento a isso.
No entanto, ela está lá: a disputa
sangrenta pelo poder diz respeito
no caso não a disputas legítimas
que envolvem a sociedade, mas a
grupos fechados em si mesmos,
cujos objetivos são meramente
pessoais. Por desejo ou premonição, o autor Antonio Carlos Fontoura e seu argumentista, Plinio
Marcos, captaram muito bem o
estado de coisas de um Estado
que, por ditatorial, se constitui como organização criminosa.
O interesse atual do filme procede, no mais, justamente da diferença com os filmes feitos no país
depois de 1990, que procuram
aplainar as contradições e construir um terreno de harmonia. É
das cores contrastantes de "Rainha Diaba" que vem em grande
parte a percepção de que o conflito não é ocasional, ele é a própria
essência desse mundo (o descrito
e o mundo em geral). Mas não só
delas: a inquietude da câmera, a
luz muito seca de José Medeiros
-tudo contribui para colocar em
relevo as contradições.
Se "Rainha Diaba" não sofre do
tecnicismo contemporâneo, em
compensação sofre de certas características técnicas da época, a
mais evidente delas é a deficiência
dos estúdios e da própria concepção de som e, sobretudo no início,
certas falhas de figuração.
Isso é muito pouco, no entanto,
para retirar interesse de um desses filmes em que tudo se encaixou perfeitamente sob o signo do
vermelho (sangue), e um dos raros exemplos de filme que trabalha com contrastes de cor muito
acentuados sem tender ao caos
cromático.
Ninguém se esquecerá, por fim,
de falar do grupo de intérpretes liderado por Milton Gonçalves. Entre eles, Nelson Xavier, Odete Lara, Wilson Grey e Stepan Nercessian compõem tipos realmente
admiráveis.
Os extras do filme se caracterizam pelo excesso. Uma versão comentada pelo próprio diretor pode bem servir a propósitos didáticos. Já a entrevista do mesmo,
mediada pela de alguns dos participantes do filme, sofre de ser extremamente longa e detalhada,
embora detalhes significativos da
produção sejam repassados ali ao
espectador.
(INÁCIO ARAUJO)
Rainha Diaba
Produção: Brasil, 1974
Direção: Antonio Carlos Fontoura
Com: Milton Gonçalves, Odete Lara
Distribuidora: Funarte
Quanto: R$ 35,50, em média
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