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Peça agrega referências e arquétipos
Texto de tema urbano do dramaturgo amazonense Francisco Carlos ganha os palcos de São Paulo
JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No centro de São Paulo, um
apartamento-adega-oratório-casa-de-diversões-boate-de-shows-eróticos é o palco das
desventuras de Bárbara-Bêbada e daqueles que a cercam.
Trata-se da peça "Namorados da Catedral Bêbada", escrita e dirigida pelo amazonense
Francisco Carlos, em cartaz às
terças e quartas no Espaço dos
Satyros 2, também no centro de
São Paulo.
O espetáculo compõe, com a
peça "Românticos da Idade Mídia" (que estreia dia 27 de outubro), a mostra dos Fenômenos
Urbanos Extremos, que é como
Francisco chama um dos troncos da sua produção; o outro
tronco é o das peças do Pensamento Selvagem, que têm inspiração mais no ambiente e na
mitologia amazônicas.
É portanto na chave de uma
linguagem urbana que se desenvolve "Namorados...", texto
que traz a marca singular da escrita cênica de Francisco Carlos. Os hífens que aglutinam
qualidades e substantivos aos
seus cenários e personagens
são a tradução do seu paradigma de arte: a ideia da bricolagem, da combinação de elementos diversos.
Questionado sobre o parentesco da sua dramaturgia fragmentada e múltipla com o pós-modernismo, Francisco Carlos
não hesita: "Não gosto muito
dessa ideia do pós-modernismo, em que um par de sapatos
vale mais que uma peça de Shakespeare. Mas desde os anos 80
me falam isso. Não me incomodo. O que me preocupa é tentar
um novo jogo de xadrez, um novo cálculo poético".
O jogo em "Namorados...",
então, fica posto naquele apartamento-adega, microcosmo
do mundo e de seus conflitos.
Diogo (amante-latino), Porcão (o ladrão), Sandra-Spotlight (a vedete-espiã), Gato-Bruxo, Érus-Prosituto e Boy-Marron gravitam na órbita de
Bárbara-Bêbada que é, segundo
o autor, "meio Nero, no sentido
do pão e circo, meio Circe, a feiticeira grega, que promove os
jogos. Ela tem muita comida,
muita droga -ela tem todos os
tesouros do mundo".
Estabelece-se aí a tensão que
move a peça, num fogo cruzado
de referências e arquétipos.
"São personagens que não têm
uma psicologia única. Acho que
é isso que interessa e assusta os
atores, essa coisa de eles terem
várias camadas", diz Carlos.
"Eu me assustei!", conta Maria Manoella, produtora da
mostra e atriz de "Românticos
da Idade Mídia". "Mas nada
que tenha me paralisado -é
um desafio, um prato cheio para o ator", completa.
Já para Majeca Angelucci,
atriz em "Namorados..." e também produtora, a preocupação
é outra: "O texto do Francisco,
me anima! O que me assusta é
não ter dinheiro para a produção". As peças da mostra não
contaram com patrocínio nem
dinheiro de editais de fomento.
"Somos todos amantes, namorados, estamos aqui porque
acreditamos nessa dramaturgia, nesse teatro", revela o cenógrafo Márcio Colaferro.
NAMORADOS DA CATEDRAL BÊBADA
Quando: ter. e qua., às 22h, até 21/10
Onde: Espaço dos Satyros 2, (pça. Roosevelt, 134; tel.0/xx/11/3258-6345)
Quanto: R$ 20
Classificação: 18 anos
ROMÂNTICOS DA IDADE MÍDIA
Quando: mesmo horário, local, preço e
classificação; de 27/10 até 11/ 11
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