São Paulo, quinta-feira, 08 de outubro de 2009

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Peça agrega referências e arquétipos

Texto de tema urbano do dramaturgo amazonense Francisco Carlos ganha os palcos de São Paulo

JOSÉ ORENSTEIN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

No centro de São Paulo, um apartamento-adega-oratório-casa-de-diversões-boate-de-shows-eróticos é o palco das desventuras de Bárbara-Bêbada e daqueles que a cercam. Trata-se da peça "Namorados da Catedral Bêbada", escrita e dirigida pelo amazonense Francisco Carlos, em cartaz às terças e quartas no Espaço dos Satyros 2, também no centro de São Paulo.
O espetáculo compõe, com a peça "Românticos da Idade Mídia" (que estreia dia 27 de outubro), a mostra dos Fenômenos Urbanos Extremos, que é como Francisco chama um dos troncos da sua produção; o outro tronco é o das peças do Pensamento Selvagem, que têm inspiração mais no ambiente e na mitologia amazônicas.
É portanto na chave de uma linguagem urbana que se desenvolve "Namorados...", texto que traz a marca singular da escrita cênica de Francisco Carlos. Os hífens que aglutinam qualidades e substantivos aos seus cenários e personagens são a tradução do seu paradigma de arte: a ideia da bricolagem, da combinação de elementos diversos.
Questionado sobre o parentesco da sua dramaturgia fragmentada e múltipla com o pós-modernismo, Francisco Carlos não hesita: "Não gosto muito dessa ideia do pós-modernismo, em que um par de sapatos vale mais que uma peça de Shakespeare. Mas desde os anos 80 me falam isso. Não me incomodo. O que me preocupa é tentar um novo jogo de xadrez, um novo cálculo poético".
O jogo em "Namorados...", então, fica posto naquele apartamento-adega, microcosmo do mundo e de seus conflitos.
Diogo (amante-latino), Porcão (o ladrão), Sandra-Spotlight (a vedete-espiã), Gato-Bruxo, Érus-Prosituto e Boy-Marron gravitam na órbita de Bárbara-Bêbada que é, segundo o autor, "meio Nero, no sentido do pão e circo, meio Circe, a feiticeira grega, que promove os jogos. Ela tem muita comida, muita droga -ela tem todos os tesouros do mundo".
Estabelece-se aí a tensão que move a peça, num fogo cruzado de referências e arquétipos.
"São personagens que não têm uma psicologia única. Acho que é isso que interessa e assusta os atores, essa coisa de eles terem várias camadas", diz Carlos.
"Eu me assustei!", conta Maria Manoella, produtora da mostra e atriz de "Românticos da Idade Mídia". "Mas nada que tenha me paralisado -é um desafio, um prato cheio para o ator", completa.
Já para Majeca Angelucci, atriz em "Namorados..." e também produtora, a preocupação é outra: "O texto do Francisco, me anima! O que me assusta é não ter dinheiro para a produção". As peças da mostra não contaram com patrocínio nem dinheiro de editais de fomento.
"Somos todos amantes, namorados, estamos aqui porque acreditamos nessa dramaturgia, nesse teatro", revela o cenógrafo Márcio Colaferro.


NAMORADOS DA CATEDRAL BÊBADA

Quando: ter. e qua., às 22h, até 21/10
Onde: Espaço dos Satyros 2, (pça. Roosevelt, 134; tel.0/xx/11/3258-6345)
Quanto: R$ 20
Classificação: 18 anos

ROMÂNTICOS DA IDADE MÍDIA

Quando: mesmo horário, local, preço e classificação; de 27/10 até 11/ 11




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