São Paulo, sábado, 08 de outubro de 2011

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CRÍTICA/ROMANCE

"O Grande Gatsby" cria retrato amargo do sonho americano

Lançado em 1925, livro de Scott Fitzgerald registra com habilidade as sutilezas da moralidade endinheirada

NELSON DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na disputa acirrada pela atenção dos leitores, os romances precisam prometer uma experiência incomum.
Os dois primeiros colocados na lista dos cem melhores romances em inglês da Modern Library, por exemplo, o que prometem?
O primeiro colocado, "Ulisses", de James Joyce (1882-1941), publicado em 1922, promete uma imersão na vida dos pobres e dos remediados. Já o segundo, a obra-prima de F. Scott Fitzgerald (1896-1940), lançada em 1925, promete uma imersão na vida dos ricos e dos muito ricos.
O centro das atenções, no romance de Fitzgerald, é o novo-rico Jay Gatsby. A aura de mistério em torno dessa figura é consequência de uma boa escolha estrutural: quem narra não é o próprio Gatsby, mas o velho-pobre Nick Carraway, que se aproxima devagar do excêntrico milionário.
No conto "The Rich Boy", de 1926, Fitzgerald escreveu: "Os ricos são diferentes de você e de mim". "É verdade, eles têm muito mais dinheiro", você pode retrucar, ecoando Ernest Hemingway (1899-1961).
Porém, num ponto os abastados são todos iguais a nós: competição. Os ricos competem bastante. No tamanho das mansões, na quantidade de carros. Como maneira de chamar a atenção, Gatsby promove festas sem fim.
Para o vocabulário da Era do Jazz, "festa" significa "libertinagem nababesca sem hora para terminar".
Mas para Gatsby a essência de suas festas tem pouca importância. As luzes e o barulho são apenas uma isca para seduzir Daisy Buchanan, prima de Nick e mulher de Tom Buchanan, este sim um aristocrata endinheirado.

RIQUISTÃO
Como se divertem ou os ricos? O obra cativa jogando com essas questões, confrontando dois idealismos: o de Gatsby, romântico, e o de Tom, pragmático.
Fitzgerald é muito habilidoso ao registrar as sutilezas da moralidade endinheirada. Sem cair no maniqueísmo, ele mostra que o Riquistão -pedaço virtual dos Estados Unidos onde vivem os muito ricos, como definiu o jornalista Robert Frank- tem seu próprio código de conduta.
A longa introdução do crítico Tony Tanner é minuciosa e apaixonada. Por isso mesmo deve ser lida por último, como uma sobremesa. Romances como "O Grande Gatsby" pedem um mergulho imediato, sem preâmbulos.
Hemingway, no livro de memórias "Paris É uma Festa" (1964), deixou páginas divertidas sobre Fitzgerald.
Leitura recomendada, para quem quiser saborear como surgiu "o romance mais perfeitamente construído da literatura americana", nas palavras de Tony Tanner.

NELSON DE OLIVEIRA é autor autor de "Poeira: Demônios e Maldições" (Língua Geral)

O GRANDE GATSBY
AUTOR F. Scott Fitzgerald
EDITORA Companhia das Letras
TRADUÇÃO Vanessa Barbara
QUANTO R$ 25 (256 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo



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