São Paulo, quinta, 8 de outubro de 1998

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Manchete, SBT, CNT e Bandeirantes, hoje empresas familiares, buscam sócios dentro e fora do Brasil
Emissoras buscam parcerias para fugir da crise

DANIEL CASTRO
IVAN FINOTTI
da Reportagem Local

Quatro das sete redes brasileiras de TV aberta estão procurando novos sócios: Manchete, SBT, CNT e Bandeirantes -todas hoje controladas por famílias.
Pelo menos quatro grandes grupos estrangeiros estão interessados em se associar a uma dessas redes: Sony (Japão/EUA), ChumCity (Canadá), Televisa (México) e Cisneros (Venezuela).
A Sony declara abertamente seu interesse pelo SBT e pela Bandeirantes, respectivamente, segundo e terceiro maiores faturamentos da TV brasileira. A Televisa estaria interessada nas redes SBT e CNT. O grupo Cisneros, no SBT, e o ChumCity, na Bandeirantes.
Todas essas associações, no entanto, só serão possíveis caso o Congresso aprove proposta de emenda constitucional que permite a participação de capital estrangeiro em empresas nacionais de radiodifusão (TV aberta e rádio) e jornalismo (leia abaixo).
Hoje o capital externo é totalmente proibido nessas empresas.
Pelo menos um grupo nacional, liderado pela Abril, está interessado em se associar a emissoras abertas, mas não divulga quais.

Manchete
Em crise financeira, a Manchete é a rede que tem mais pressa em conseguir novos parceiros.
Na última segunda-feira, o presidente da rede, Pedro Jack Kapeller, disse em reunião com representantes sindicais do Rio que a situação financeira da empresa é difícil e que a saída para a crise seria a associação com novos parceiros.
O faturamento da Manchete sofreu uma queda de 40% nos últimos três meses e 540 funcionários (cerca de 36% do total) foram demitidos na semana passada.
A Folha apurou que a direção da Manchete negocia com três grupos. A Abril (que também tem interesse em outras redes) e a Igreja Renascer em Cristo são dois deles.
"A Abril não descarta nenhuma possibilidade de bons negócios na área de comunicações", afirma Junia Nogueira de Sá, diretora de assuntos corporativos do grupo.
Segundo Junia, participar de TV aberta faria parte do "espectro de negócios" do conglomerado, que é sócio da MTV, da TVA, da HBO do Brasil e da DirecTV.
A igreja evangélica Renascer, por sua vez, veicula quatro programas diários na Manchete, ocupando três horas de sua programação.
O apóstolo Estevam Hernandes, presidente da Fundação Renascer, afirma que comprar a Manchete está fora das possibilidades da igreja. "Nós bem que gostaríamos, mas está muito longe de nossa realidade. Não participamos de nenhuma negociação até agora", diz.
A igreja também tem um canal de TV paga, o Gospel, além de uma editora, uma gravadora de CDs e uma emissora de rádio.
Procurados pela Folha nas últimas duas semanas, Kapeller e o diretor jurídico da Manchete, Allan Caruso, não se manifestaram sobre o assunto.

SBT
Em reunião com diretores de agências publicitárias, no último dia 28, Silvio Santos, principal acionista do SBT, admitiu que venderia a rede por R$ 1 bilhão.
Nos últimos meses, Silvio Santos se reuniu com executivos da Televisa, Cisneros e Sony.
"Existe o interesse desses grupos", confirma Luiz Sebastião Sandoval, presidente do Grupo Silvio Santos. Para Sandoval, a venda do SBT, no entanto, é pouco provável.
"Estamos buscando oportunidades. Queremos produzir novos canais pagos no Brasil e comprar participação em emissoras abertas", diz Dorien Sutherland, diretor-geral para a América Latina do braço televisivo da Sony Pictures, a Columbia Tristar International Television.
Sutherland, que há cerca de um mês se reuniu durante três horas com Silvio Santos, diz que tem "a missão" de comprar participação em TV aberta no Brasil.
O executivo diz que adquirir TVs abertas faz parte de estratégia mundial do grupo Sony. Em janeiro, o conglomerado comprou, por US$ 650 milhões, a Telemundo, segunda maior rede aberta dirigida à comunidade hispânica dos EUA -a maior é a Univision, da qual a Televisa é sócia.
O interesse pelo SBT se explica por duas razões: a Sony quer uma rede própria (ou associada) para veicular seus produtos, como as séries que exibe no canal pago Sony, e também quer produzir sitcoms (comédias de costumes) e seriados no Brasil. Para tanto, precisa de estúdios. E, depois da Globo, o SBT é a emissora que tem os melhores estúdios de TV do país.
Apesar do interesse declarado da Sony, a mexicana Televisa é a mais cotada a se associar ao SBT. Em primeiro lugar, porque as duas vêm de uma parceria bem-sucedida desde os anos 80, quando a emissora brasileira passou a exibir novelas ("Os Ricos Também Choram") e programas ("Chaves") mexicanos.
Em segundo, porque essa linha de negociação já foi seguida pela Televisa em outros países. No início da década, por exemplo, após passar anos fornecendo programação, a emissora latina comprou 19,8% da americana Univision.
Executivos da Televisa e da Cisneros foram procurados, mas não responderam às ligações.

CNT
Esse percentual é quase o mesmo que a Televisa propôs para se associar à rede paranaense CNT. "Os grupos estrangeiros estão sonhando com o Brasil. A Televisa quer comprar 20% da nossa rede", diz José Carlos Martinez, presidente da CNT.
Martinez afirma que só aceita sócios dispostos a investir na expansão da rede e em tecnologia. "Eles têm que vir só com o dinheiro."
O empresário -e deputado federal eleito pelo PTB-PR- acredita que ingerências estrangeiras em programação não dão certo. "O Brasil tem características de programação muito próprias", diz.

Bandeirantes
José Roberto Maluf, vice-presidente executivo da Bandeirantes, afirma que a rede não está à venda, mas admite que "vai examinar a possibilidade de ter sócios estrangeiros", caso a emenda constitucional seja aprovada.
"Qualquer grupo que venha agregar know-how será bem-vindo. Não queremos um sócio financeiro, mas estratégico", diz.
Atualmente, a Bandeirantes desenvolve parceria com a Sony para a produção de dois seriados. O Canal 21, do mesmo grupo, tem contrato de consultoria e assessoria com o conglomerado ChumCity.



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