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Manchete, SBT, CNT e Bandeirantes, hoje empresas familiares, buscam sócios dentro e fora do Brasil
Emissoras buscam parcerias para fugir da crise
DANIEL CASTRO
IVAN FINOTTI
da Reportagem Local
Quatro das sete redes brasileiras
de TV aberta estão procurando
novos sócios: Manchete, SBT, CNT
e Bandeirantes -todas hoje controladas por famílias.
Pelo menos quatro grandes grupos estrangeiros estão interessados em se associar a uma dessas redes: Sony (Japão/EUA), ChumCity
(Canadá), Televisa (México) e Cisneros (Venezuela).
A Sony declara abertamente seu
interesse pelo SBT e pela Bandeirantes, respectivamente, segundo
e terceiro maiores faturamentos da
TV brasileira. A Televisa estaria interessada nas redes SBT e CNT. O
grupo Cisneros, no SBT, e o
ChumCity, na Bandeirantes.
Todas essas associações, no entanto, só serão possíveis caso o
Congresso aprove proposta de
emenda constitucional que permite a participação de capital estrangeiro em empresas nacionais de
radiodifusão (TV aberta e rádio) e
jornalismo (leia abaixo).
Hoje o capital externo é totalmente proibido nessas empresas.
Pelo menos um grupo nacional,
liderado pela Abril, está interessado em se associar a emissoras
abertas, mas não divulga quais.
Manchete
Em crise financeira, a Manchete
é a rede que tem mais pressa em
conseguir novos parceiros.
Na última segunda-feira, o presidente da rede, Pedro Jack Kapeller,
disse em reunião com representantes sindicais do Rio que a situação financeira da empresa é difícil
e que a saída para a crise seria a associação com novos parceiros.
O faturamento da Manchete sofreu uma queda de 40% nos últimos três meses e 540 funcionários
(cerca de 36% do total) foram demitidos na semana passada.
A Folha apurou que a direção da
Manchete negocia com três grupos. A Abril (que também tem interesse em outras redes) e a Igreja
Renascer em Cristo são dois deles.
"A Abril não descarta nenhuma
possibilidade de bons negócios na
área de comunicações", afirma Junia Nogueira de Sá, diretora de assuntos corporativos do grupo.
Segundo Junia, participar de TV
aberta faria parte do "espectro de
negócios" do conglomerado, que é
sócio da MTV, da TVA, da HBO do
Brasil e da DirecTV.
A igreja evangélica Renascer, por
sua vez, veicula quatro programas
diários na Manchete, ocupando
três horas de sua programação.
O apóstolo Estevam Hernandes,
presidente da Fundação Renascer,
afirma que comprar a Manchete
está fora das possibilidades da
igreja. "Nós bem que gostaríamos,
mas está muito longe de nossa realidade. Não participamos de nenhuma negociação até agora", diz.
A igreja também tem um canal
de TV paga, o Gospel, além de uma
editora, uma gravadora de CDs e
uma emissora de rádio.
Procurados pela Folha nas últimas duas semanas, Kapeller e o diretor jurídico da Manchete, Allan
Caruso, não se manifestaram sobre o assunto.
SBT
Em reunião com diretores de
agências publicitárias, no último
dia 28, Silvio Santos, principal
acionista do SBT, admitiu que venderia a rede por R$ 1 bilhão.
Nos últimos meses, Silvio Santos
se reuniu com executivos da Televisa, Cisneros e Sony.
"Existe o interesse desses grupos", confirma Luiz Sebastião Sandoval, presidente do Grupo Silvio
Santos. Para Sandoval, a venda do
SBT, no entanto, é pouco provável.
"Estamos buscando oportunidades. Queremos produzir novos canais pagos no Brasil e comprar
participação em emissoras abertas", diz Dorien Sutherland, diretor-geral para a América Latina do
braço televisivo da Sony Pictures, a
Columbia Tristar International
Television.
Sutherland, que há cerca de um
mês se reuniu durante três horas
com Silvio Santos, diz que tem "a
missão" de comprar participação
em TV aberta no Brasil.
O executivo diz que adquirir TVs
abertas faz parte de estratégia
mundial do grupo Sony. Em janeiro, o conglomerado comprou, por
US$ 650 milhões, a Telemundo, segunda maior rede aberta dirigida à
comunidade hispânica dos EUA
-a maior é a Univision, da qual a
Televisa é sócia.
O interesse pelo SBT se explica
por duas razões: a Sony quer uma
rede própria (ou associada) para
veicular seus produtos, como as
séries que exibe no canal pago
Sony, e também quer produzir sitcoms (comédias de costumes) e seriados no Brasil. Para tanto, precisa de estúdios. E, depois da Globo,
o SBT é a emissora que tem os melhores estúdios de TV do país.
Apesar do interesse declarado da
Sony, a mexicana Televisa é a mais
cotada a se associar ao SBT. Em
primeiro lugar, porque as duas
vêm de uma parceria bem-sucedida desde os anos 80, quando a
emissora brasileira passou a exibir
novelas ("Os Ricos Também Choram") e programas ("Chaves")
mexicanos.
Em segundo, porque essa linha
de negociação já foi seguida pela
Televisa em outros países. No início da década, por exemplo, após
passar anos fornecendo programação, a emissora latina comprou
19,8% da americana Univision.
Executivos da Televisa e da Cisneros foram procurados, mas não
responderam às ligações.
CNT
Esse percentual é quase o mesmo
que a Televisa propôs para se associar à rede paranaense CNT. "Os
grupos estrangeiros estão sonhando com o Brasil. A Televisa quer
comprar 20% da nossa rede", diz
José Carlos Martinez, presidente
da CNT.
Martinez afirma que só aceita sócios dispostos a investir na expansão da rede e em tecnologia. "Eles
têm que vir só com o dinheiro."
O empresário -e deputado federal eleito pelo PTB-PR- acredita que ingerências estrangeiras em
programação não dão certo. "O
Brasil tem características de programação muito próprias", diz.
Bandeirantes
José Roberto Maluf, vice-presidente executivo da Bandeirantes,
afirma que a rede não está à venda,
mas admite que "vai examinar a
possibilidade de ter sócios estrangeiros", caso a emenda constitucional seja aprovada.
"Qualquer grupo que venha
agregar know-how será bem-vindo. Não queremos um sócio financeiro, mas estratégico", diz.
Atualmente, a Bandeirantes desenvolve parceria com a Sony para
a produção de dois seriados. O Canal 21, do mesmo grupo, tem contrato de consultoria e assessoria
com o conglomerado ChumCity.
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